O mundo de hoje precisa de “olhares que saibam focar a pobreza do outro sem julgamentos, sem distâncias. Precisamos de um olhar que conduza ao serviço fraterno”- D. Armando Esteves Domingues

Foto Igreja Açores/CR

Bispo de Angra celebra Missa Crismal na Sé com cerca de meia centena de sacerdotes de todas as ilhas, depois de ontem ter presidido em Ponta Delgada à renovação das promessas Sacerdotais dos padres de São Miguel e de Santa Maria

D.Armando Esteves Domingues, que presidiu pelo segundo ano à Missa Crismal como bispo de Angra, na Catedral, pediu aos sacerdotes diocesanos que sejam capazes de olhar a pobreza do outro “sem julgamentos nem distâncias”.

“O mundo de hoje e, quem sabe, o nosso Presbitério parece demasiado pobre de olhares que não procurem consolação ou recompensa; de olhares que saibam focar a pobreza do outro sem julgamentos, sem distâncias. Precisamos de um olhar que conduza ao serviço fraterno… sem receio de sermos sempre os mesmos a dar o primeiro passo. Jesus apenas diz: “como eu fiz, fazei vós também”! Quer-nos aos pés do outro como servos, escravos, a cuidar do seu bem mais que do nosso” afirmou o prelado na homilia da Missa Crismal, que reuniu à sua volta cerca de meia centena de sacerdotes de todas as ilhas açorianas. Já ontem o bispo de Angra celebrou em São Miguel, na Matriz de São Sebastião em Ponta Delgada, onde os sacerdotes da maior ilha, que  concentra 8 das 17 ouvidorias da diocese de Angra, renovaram as suas promessas sacerdotais. Entre eles estiveram dois dos sete sacerdotes que cumprem aniversários jubilares de 25 e 60 anos: os padres Francisco Zanon e António Rego, respetivamente.

“Há um paradigma novo de sacerdote no lava-pés! Precisamos de lavadores de pés” disse o bispo citando o Cardeal de Boston, D. Sean O´Malley.

“São gestos fundadores que nos tornam pastoralmente insatisfeitos, criativos na evangelização, abertos e atentos aos homens e mulheres de hoje para respostas adequadas! Façamo-lo juntos e nunca sozinhos. Tentemos `caminhos novos´, convidando convictamente todo o povo de Deus a aproveitar ao máximo a complementaridade que pessoas e comunidades podem dar umas às outras, em espírito fraterno e sinodal” afirmou D. Armando Esteves Domingues.

“Quando amamos tornamo-nos credíveis!” enfatizou depois de convidar os sacerdotes a refletir este dia e esta semana santa a partir dos olhares de Jesus.

“Renovaremos as nossas Promessas Sacerdotais com o olhar em Cristo Pobre, Casto e Obediente. Prometeremos continuar, com a Sua graça, a segui-Lo no amor para com o Seu Povo” disse lembrando que renovar as promessas “significa recordar uma história de amor entre Deus e nós”.

“É uma graça estarmos aqui juntos e unidos aos restantes membros do Presbitério. Precisamos que este corpo seja, hoje mais que nunca, fraterno, amigo, generoso, aberto à renovação. O meu primeiro pedido que faço ao Senhor é este: que caminhemos juntos, que sejamos construtores de fraternidade, exemplo para as comunidades! Há solidão num bispo ou num padre? Há. A solidão também se vence com a forma como nos olhamos e amamos uns aos outros”, referiu.

Dirigindo-se quase sempre aos sacerdotes, algumas vezes com grande proximidade, tratando-os por filhos, D. Armando Esteves Domingues pediu coerência de vida, entre o que se prega e o que se faz, mesmo com algumas quedas pelo meio, como aconteceu com Pedro que seguiu Jesus, o negou três vezes e regressou ao seu encontro.

“Como é difícil ser coerente entre o que se pensa e quer e o que acontece quando falta coerência” interpelando: “Quanto terá sofrido Pedro ao aceitar ser amado na sua mesquinhez cheia de trevas!”.

“Quantas vezes, somos aprisionados nos olhares sufocantes de outros padres que querem ver em nós um super-homem, sem se aperceberem que o milagre está mesmo debaixo do seu nariz, dentro do irmão de carne e osso, cheio de potencialidades próprias que precisa desenvolver. Quantas vezes olhamos alguém não pelo que ele é, mas pelas suas limitações”, alertou o bispo de Angra.

“É difícil ter o olhar de Jesus para aqueles que nos magoam. A decepção, a condenação, o nunca mais falar, o desistir, parece a solução mais sensata. O Senhor pede-nos um olhar divino e humano ao mesmo tempo, não só quando absolvemos no Sacramento da Confissão, mas como parte de uma vida inteira, já liberta pelo olhar de Jesus. Mas pede também a coragem para recomeçar, como Pedro! Recomeçar sempre é sinal da esperança que nunca se perde”, disse.

“Há uma grande autoridade moral vinda da identidade entre o que vive e o que prega e que se torna desafio para as nossas homilias. Há muitos pobres sem a boa nova, muitos cativos sem liberdade, cegos sem vista, oprimidos sem redenção. Há um universo de gente, de irmãos nossos, a precisar como nunca de uma Palavra acompanhada de obras” afirmou o prelado.

“A nossa missão acarreta riscos, interpretações várias, juízos e até condenações. É um tempo de muita exigência” recordou sublinhando que Jesus também enfrentou dificuldades e caminhou, mesmo com a Cruz.

“Como presbitério, acompanhemo-lo e identifiquemo-nos com Ele e com a Paixão. Que o desânimo nunca se apodere de nós ou enfraqueça a esperança”, disse.

“Caros padres, não nos faltará a cruz de cada dia. Que sejam oportunidades de percorrer mais um trecho de estrada com Jesus e deixar que um olhar novo e livre se acenda nos nossos olhos. A imagem dos irmãos de presbitério fica mais límpida, vista através das lágrimas purificadoras da dor”, concluiu a homilia.

Na Missa Crismal, prelúdio do Tríduo Pascal, foram abençoados o óleo dos catecúmenos e dos enfermos e consagrou-se o óleo para o Santo Crisma, razão pela qual é também chamada “Missa dos santos óleos”.

Estiveram igualmente presentes três dos sete sacerdotes que assinalam os seus jubileus, nomeadamente o padre António Azevedo de São Jorge, o cónego Francisco Dolores, que completa 50 anos de sacerdócio e o padre Pedro Lima Mendonça, que cumpre 60 anos ao serviço da Igreja.

O bispo de Angra voltará a presidir na Sé na missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa. A seguir à missa haverá um momento de Oração Comunitária e na Sexta-feira Santa Oficio de Leitura e Laudes.

À tarde, às 15h00, será celebrada a Paixão, uma celebração que será transmitida pelos órgãos de comunicação social.

Depois da paixão haverá ainda Via-sacra seguida da Procissão do Senhor Morto.

No sábado, dia considerado alitúrgico e de profundo silêncio para os cristãos, as atenções viram-se para a Vígilia Pascal, que será celebrada às 21h00 na Sé, com transmissão pela RTP Açores e RTP Internacional.

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