O sofrimento de Jesus deve ser visto hoje a partir “do abandonado, do prisioneiro, do desfigurado, do maltratado”, afirma D. João Lavrador

Bispo de Angra presidiu à celebração da Paixão e sublinha que a humanidade precisa de encontrar o verdadeiro Jesus

O bispo de Angra afirmou esta tarde que Jesus é o caminho e a vida de uma humanidade ferida e que o seu sofrimento desde a paixão, à morte e crucifixão é o itinerário sobre o qual todos os cristãos devem refletir, a partir dos exemplos concretos dos excluídos da sociedade.

“Escutámos no inicio desta longa narração da Paixão do Senhor, o próprio Jesus de Nazaré a questionar-nos com a pergunta: a quem procurais?” lembrou D. João Lavrador ao sublinhar que “esta é a interpelação” que é lançada hoje.

“Esta mesma pergunta é lançada a todos os homens e mulheres do nosso mundo actual mergulhados numa cultura de morte, de desespero, de abandono, de arrogância, de superficialidade, de egoísmos exacerbados, de racionalismos estéreis”, alertou o prelado interpelando “quem procura o homem de hoje, sedento de verdade, de beleza, de bem e de amor, mas tantas vezes desencaminhado e desorientado pelo domínio das riquezas, do poder, do prazer e pelo seu desejo de ser referencia única para a sua vida”.

 

O bispo de Angra  recorda  que o grande desafio é “reconhecer Jesus de Nazaré” como “o Salvador único de toda a humanidade, na figura do abandonado, do prisioneiro, do desfigurado, maltratado, em suma, do condenado à morte”.

A partir do significado da Cruz, símbolo maior do amor de Deus, D. João Lavrador convidou os presentes a verem nela a esperança da salvação em vez do sacrifício.

“Toda a humanidade de todos os tempos procura a Jesus de Nazaré. Nós hoje, não tenhamos dúvida, irmanados com todos os nossos contemporâneos, andamos à procura de Jesus de Nazaré” afirmou o prelado.

“Numa sociedade que pretende evitar o sofrimento eliminando a vida, abre-se o caminho de Jesus Cristo para nos sentirmos mais irmãos, mais solidários, a viver mais no amor, na generosidade e entre-ajuda através do sofrimento” afirmou ainda.

“Esta é uma celebração que nos convida ao silêncio, à escuta e à contemplação. A entrarmos dentro de nós e a termos a coragem de assumir em nós o convite a percorrermos o caminho doloroso de Jesus Cristo numa conversão permanente do nosso ser” afirmou ainda frisando que “esta celebração (da Paixão) para estar completa deve ser vivida na esperança da vida plena que nos é dada na ressurreição”.

A Igreja Católica evoca hoje, Sexta-feira Santa, a morte de Jesus, num dia de jejum para os fiéis, que não celebram a Missa, mas uma cerimónia com a apresentação e adoração da cruz. Devido à pandemia que o país e a região atravessam, a adoração comunitária da Cruz faz-se de forma simbólica sem o habitual beijo da Cruz, embora nos Açores, nalgumas paróquias com menos população e onde não existem problemas há já algum tempo, permaneça o gesto de veneração individual da cruz através da genuflexão  ou simples inclinação diante dela.

Esta celebração acontece sempre às 15h00, perto da hora em que se acredita que Jesus terá morrido, nas igrejas desnudadas desde a noite anterior.

Ao entrar ao silêncio, o presidente da celebração e os demais ministros, prostram-se no chão, em sinal da morte de Cristo.

A parte inicial da celebração, a Liturgia da Palavra, tem um dos elementos mais antigos da Sexta-feira Santa, a grande oração universal, com dez intenções que procuram abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade, rezando pelos seus governantes, pela unidade entre os cristãos, pelos que não têm fé ou os judeus, entre outros.

A adoração à cruz e os vários momentos de oração apresentam-se sempre como momentos de penitência e de pedido de perdão.

O sacerdote que preside à celebração está paramentado com a cor vermelha, que a liturgia católica associa aos mártires.

Este ano, pelo segundo consecutivo, não se realizarão as habituais procissões do Senhor Morto, ao final do dia de hoje, e as Vias-Sacras fazem-se dentro dos templos com a circulação da cruz permanecendo os fieis nos seus lugares.

(Fotografias de Hugo Silva)

 

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