Pároco da Sé, o cónego Hélder Miranda Alexandre lembrou na homilia a história e o simbolismo espiritual da catedral, apelando à unidade e à centralidade de Cristo na vida da comunidade

A Sé de Angra celebrou esta quinta-feira os 217 anos da sua dedicação, por D. José Pegado de Azevedo, com uma missa solene presidida pelo deão do Cabido Catedralício, cónego João Maria Mendes e a presença de praticamente todo o Cabido.
Na homilia feita pelo pároco da Sé, também cónego capitular, foi evocado o percurso histórico do templo e a sua importância espiritual como “casa viva” onde Cristo é o centro como deve ser também na vida dos fiéis.
“Permiti-me fazer alguma partilha desta casa que nós hoje celebramos”, começou por dizer o cónego Hélder Miranda Alexandre na homilia, recordando as palavras do Evangelho: “Destruí este templo e em três dias o edificarei.”
“Esta Sé viveu as suas pedras, viveu a destruição e foi levantada. É um sinal para nós”, afirmou, sublinhando que o templo “não pode ser uma casa onde Jesus não habite”.
“Todos os dias, aproximamo-nos desta casa e de cada igreja destas ilhas para escutar a Palavra, viver os sacramentos deste rio abundante que parte do coração de Jesus. Não poderemos entrar nesta igreja ou seja ela qual for, sem primeiro irmos visitar Aquele que é a alma e o coração de todos nós” afirmou.
E prosseguiu: “A mim causa-me alguma perplexidade quando em diversas igrejas se vai visitar os santinhos todos, acender velas, até durante a missa, quando se esquece a verdadeira santidade de Jesus vivo, ressuscitado” interpelou.
O sacerdote evocou o episódio da purificação do templo de Jerusalém, lembrando que Jesus “expulsou os vendedores de pombas, que exploravam os mais pobres”, e que o templo antigo “estava cheio de divisões”.
“Não pode existir neste templo qualquer tipo de interesses, de abuso, de distinções humanas”, advertiu, destacando que “Jesus é o verdadeiro templo, e nós somos as suas pedras vivas”.
Referindo-se às palavras de São Paulo na Carta aos Coríntios — “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” — o presbítero convidou os fiéis a viverem com unidade e fidelidade à fé: “Não nos desapeguemos destas pedras. Vamos estimá-las, amá-las, perguntando o que é que elas significam para nós, para esta cidade e para estas ilhas?”, interpelou.
Na homilia, o cónego Hélder Miranda Alexandre recordou ainda a longa história da Sé, dedicada a São Salvador, cuja construção teve início em 1461 e ficou concluída em 1486, quando passou a ter vigário próprio. A diocese de Angra e o Cabido seriam fundados a 3 de novembro, data que a Igreja açoriana continua a celebrar como o dia da Igreja Diocesana.
O cónego evocou também os “três martírios” da Sé: o sismo em 1980, a queda da torre e do frontispício em 1983, e o incêndio ocorrido a 25 de setembro do mesmo ano.
“Mas a Sé não ficou caída… foi reerguida e benzida de novo pelo cardeal D. António Ribeiro, a 3 de novembro de 1985, nos 450 anos da diocese”, recordou.
Perante tantas adversidades, o sacerdote, que recorreu às palavras do Cónego Garcia, diretor do Boletim Pedras Vivas, questionou: “Porque permites, Senhor, que a tua casa, aqui mesmo no coração de Angra, seja alvo de tantos fatores agressivos que teimam em arrancar-lhe a vida?” E respondeu com esperança: “A Sé de estilo barroco morreu, mas nasceu outra. Morreu um estilo, renasceu outro. E assim deve ser a nossa vida: renascer em cada dia das pedras da fé.”
A Sé foi dedicada em 1808 por D. José Pegado de Azevedo.
(Com padre Ricardo Henriques)