Oposição não deveria ser apenas na campanha

Por Renato Moura

Realizaram-se as eleições autárquicas. Formalmente houve vencedores e vencidos. Nem todos os vencedores serão justos vitoriosos, nem todos os vencidos penalizados com justiça.

As boas e más decisões do poder local, ao longo dos anos, principalmente nos pequenos concelhos e freguesias, frequentemente ficam dentro dos órgãos, a cujas reuniões públicas raramente alguém assiste. Cada vez são mais frequentes os murmúrios de ofertas em géneros ou em dinheiro, de promessas de empregos ou vantagens, de condicionamentos mais ou menos discretos, mais fáceis e eficazes se provindos do poder. Também se condiciona com boatos e mentiras infundadas e não provadas: alguns querem no poder os que lhes servirão melhor! Corrupção de quem a faz ou propõe – principalmente se visa um aproveitamento da pobreza ou outra fragilidade humana – mas também de quem aceita; e de quem sabe e não denuncia na busca da prova e devida condenação. Todavia até as atitudes ilegítimas beneficiam os transgressores!

Infelizmente as organizações partidárias, nos meios pequenos, só funcionam nas campanhas. Como associações deveriam reunir com regularidade, para ajudar e criticar quem está no poder. Para divulgar os seus apoios e as suas críticas, para tornar públicas as posições de quantos os representam nos órgãos, pois em política aquilo que não se sabe é como se não tivesse realizado, acertado ou errado. Os partidos e os candidatos fazem-se acreditar ao longo dos anos. A capacidade trabalha-se. A alternativa demonstra-se. A oposição não é só em campanha, pois aí é quando os eleitores pensam estar-se a exagerar, sem provar.

Terminadas as campanhas seria tempo certo de os vencedores perceberem se ganharam com justiça, ou pela força das manobras; e as razões de terem ganho por poucochinho.

Quem não teve o sucesso esperado teria de meditar, não só sobre as últimas semanas, mas sobre os últimos anos, do partido e dos candidatos. Solicitar aos colaboradores pareceres sobre os fundamentos da derrota. Ter a humildade de pedir aos eleitores opiniões sobre os motivos impeditivos da vitória. Sobre as razões pelas quais, na mesma freguesia, se dá a vitória a uma força para a Assembleia de Freguesia (consequentemente para a Junta de Freguesia) e não se apoiou a lista para a Câmara Municipal. Ou a explicação de as votações serem profundamente diferentes para a Assembleia e para a Câmara Municipal.

É preciso saber ganhar; pode perder-se com honra. Mas se o processo político fosse permanente e perseverante, haveria mais verdade eleitoral.

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