“Os leigos são as grandes figuras de uma igreja missionária” e por isso “não podem demitir-se” de intervir na causa pública, afirma assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz

Padre José Júlio Rocha foi o primeiro orador das II Jornadas da Ouvidoria da Praia da Vitória que este ano respondem à questão “O que está a acontecer à nossa Casa?”

A ouvidoria da Praia iniciou esta segunda feira, o primeiro de três dias de Jornadas sobre a questão da Ecologia Integral proposta pelo Papa Francisco, procurando responder, através de um olhar cristão, à pergunta “O que está a acontecer à nossa Casa?”. O primeiro conferencista foi o padre José Júlio Rocha, Teólogo Moralista e assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz que desafiou os leigos açorianos a serem os principais protagonistas de uma Igreja missionária que tenha os pobres como prioridade.

O teólogo que falou a mais de uma centena de participantes presentes nas Jornadas que decorrem no centro Pastoral das Fontinhas, na ilha Terceira, abordou a questão da Doutrina Social da Igreja e a forma como ela deve ser encarada por todos os cristãos como “programa de vida”.

“Os leigos são as grandes figuras da Igreja Missionária, são eles que levam a mensagem para os ambientes onde estão: na família, no trabalho, na sociedade. São eles que levam a mensagem e testemunham a verdade de Jesus, através do exemplo. De outra forma caímos no clericalismo”, afirmou o sacerdote que pediu aos presentes para nunca desistirem dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja, constantes no Evangelho, e em todos os documentos do Magistério.

“A Doutrina Social da Igreja não é um programa político no sentido partidário mas os cristãos devem fazer as suas escolhas políticas em função destes princípios que nos ditam valores e opções bem diferentes das de muitos partidos que se dizem próximos da Igreja”, afirmou o padre José Júlio Rocha, destacando o bem comum, a solidariedade, a subsidariedade , a justiça, a paz, a dignidade, o trabalho remunerado, entre outros.

“Há partidos que têm o nome de democracia cristã, mas a igreja não pode escolher este ou aquele, nem dizer a este ou aquele onde deve votar e por qual partido deve optar. Mas os cristãos devem fazer as suas escolhas em função dos seus valores e daquilo que diz a Doutrina Social da Igreja”, salientou o sacerdote, que é professor no Seminário de Angra, e exemplificou com aspetos concretos onde estes valores devem estar presentes na sociedade, seja na proteção da família, que “ é preciso preservar, assegurando as condições sociais e humanas para a sua afirmação digna”; seja no direito ao trabalho ou a uma remuneração digna.

Para o sacerdote há um desafio permanente e inesgotável para a igreja que se prende pela “preferência dos mais pobres”.

“Num mundo como nosso, os muitos ricos acham que não precisam de Deus porque o dinheiro lhes sacia todas as sedes. São os mais pobres que sentem a sede de Deus e é para eles que nos temos de dirigir; é a eles que temos de ter em conta”, afirmou.

O assistente da Comissão  Diocesana Justiça e Paz percorreu a História da Doutrina Social da Igreja desde o final do Século XIX, com a Enciclica de Leão X, Rerum Novarum,  até aos dias de hoje, deixando pistas sobre interpretação que cada Papa deu a este programa que define o que a Igreja estabelece para a vida em sociedade e, sublinhou, de forma particular, o pontificado do papa Francisco, que apelidou de “o Papa dos pobres”.

“A defesa dos mais pobres não é uma questão de esquerda ou direita; é uma questão cristã e a Igreja tem o direito, mas mais do que o direito, o dever de falar sobre isto”.

O padre José Júlio Rocha lembrou, a este propósito, que a forma como o Papa Francisco colocou a questão ambiental, os migrantes ou os modelos financeiros do capitalismo “está profundamente ligada à Doutrina Social da Igreja”.

“Nós temos de ser responsáveis por tornar o Evangelho atual para o homem de hoje” afirmou ainda e “não é só do ponto de vista do discurso, é da pratica, através do exemplo e o Papa Francisco faz isso todos os dias”.

“A linha mestra do pontificado é a sua opção preferencial pelos pobres. Se repararmos no Evangelho é isto a que ele nos convida: o pobre, o menos favorecido é o que me é mais próximo porque é o meu irmão. A Igreja tem que ser fiel a esta mensagem”, concluiu destacando, por outro lado, a “coragem do Papa em tantos doissês” como as necessárias reformas da Cúria até aos crimes de pedofilia.

“É claro que os problemas e os escândalos da Igreja afetam a sua credibilidade e acrescentam problemas, mas é preciso enfrentá-los. Até para os serenar”, disse.

Esta noite, o Centro das Fontinhas recebe o professor da Universidade Católica Juan Ambrosio, que falará sobre a visão dos “Cristãos perante a emergência ambiental” e no dia 4, os professores Miguel Areia e Félix Rodrigues falarão sobre “O que fazer para termos amanhã”.

Estes encontros de reflexão inserem-se numa dinâmica pastoral que esta ouvidoria da ilha Terceira tem estado a implementar, procurando formar e informar, crentes e não crentes, numa perspetiva de cidadania esclarecida.

O plano pastoral da ouvidoria integra ainda outros momentos de reflexão e partilha, dirigidos aos agentes de pastoral, seja na área do aprofundamento bíblico, através da escuta e reflexão sobre a Palavra de Deus seja através de temas relacionados com a família, os jovens e o ambiente.

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