“Os números podem não ser assustadores  do ponto de vista estatístico mas aquilo que constatamos é que a situação social das famílias é muito preocupante”- Anabela Borba

 

Foto: Igreja Açores

Presidente da Cáritas é a entrevistada do programa de Rádio Igreja Açores

Desde que foi criado no inicio do Verão o programa “Ser casa” apenas apoiou duas famílias da ilha Terceira o que para a presidente da Cáritas não corresponde àquela que é a realidade social da Região que vive “tempos desafiantes”.

“Todos conhecemos a realidade social em que vivemos, embora os números pareçam desmentir o que nós sentimos no terreno” afirma Anabela Borba, presidente da Cáritas diocesana.

“Verificamos os aumentos constantes do preço dos bens essenciais, uma inflação que tem vindo a crescer; apenas o salário mínimo tem aumentado significativamente mas longe do suficiente para garantir o conforto das famílias, para além da subida dos juros dos créditos à habitação”, refere dizendo que embora os números não sejam expressivos a realidade social concreta é “preocupante”.

“Embora os números não sejam assustadores  do ponto de vista estatístico aquilo que constatamos é que a situação social das famílias é muito preocupante e não podemos descartar um boom de pedidos à Cáritas” esclarece a propósito, por exemplo, da ausência de candidaturas ao programa da Cáritas diocesana “Ser Casa”.

“Há duas realidades que podem estar na base do problema: as pessoas não reconhecem a Cáritas como auxiliadora nestes domínios da habitação e por isso não recorrem à instituição porque acham que os seus problemas não são elegíveis ou então as comunidades paroquiais estão pouco atentas”.

“Como é que as paróquias conhecem os casos sociais, os acolhem e os encaminham? De facto, ao nível das comunidades paroquiais, nós também percebemos cada vez mais, e  como critica para mim que faço parte de uma comunidade paroquial e provavelmente também não o faço da forma mais efetiva, nós temos muito pouca responsabilidade naquilo que é o social e individual” refere a dirigente.

“Nós mesmos não encaminhamos os casos como grupos paroquiais para as instituições que lhes podem dar resposta” reforça destacando que “há muitas paróquias que não têm sequer grupos de ação social e esse é um desafio muito grande que a Igreja dos Açores tem para resolver nestes novos tempos”.

Um problema que “não é novo”.

“Todos os bispos têm pedido à Cáritas e às comunidades paroquiais para criarem grupos de acção sócio-caritativa paroquiais, que em cada comunidade ou conjunto de comunidades- pode ser na ouvidoria- haja um grupo diretamente implicado nesta pastoral e isso não se tem verificado”, diz.

“As questões sociais não são apenas uma obrigação do Estado; são em primeiro lugar do Estado mas não desresponsabilizam os católicos nem as comunidades paroquiais” enfatiza lembrando que este é um desafio constante e permanente.

“A ver vamos se esta lufada de ar fresco que entrou com a Jornada Mundial da Juventude produz efeitos a este nível nos Açores: se a Cáritas se abre a gente nove e esta gente nova quer assumir de facto um compromisso ao nível das causas sociais”.

“Tenho sempre esperança de que surjam sempre ventos novos e que as coisas melhorem”, diz Anabela Borba.

A Cáritas diocesana na sequência da carta pastoral do bispo, lançada na Quaresma, mobilizou esforços para a criação de um fundo para apoio a famílias carenciadas, que se traduz no pagamento escalonado de apoios ao custo dos empréstimos à habitação, envolvendo as paróquias, mas tem tido uma fraca adesão.

“Vamos fazer este novo esforço, dirigindo-nos a todos os senhores padres para ver se conseguem mobilizar nas suas paróquias uma maior atenção a estas questões” que em seu entender são menos problemáticas porque ainda há “uma rede familiar e de vizinhança” que podem colmatar as situações mais dramáticas.

Na entrevista ao Programa de Rádio Igreja Açores, a dirigente apela, ainda a uma maior atenção e articulação das comunidades aos seus mais próximos.

“Achamos  sempre que as pessoas se resolvem sozinhas” lamenta lembrando que a criação de núcleos de ação social paroquial “é fundamental”, desejando também que as próprias Cáritas de ilha possam ler e interpretar os sinais dos tempos, adequando as respostas aos problemas de cada tempo.

A entrevista de Anabela Borba pode ser ouvida aqui no sitio Igreja Açores

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