Ouvidoria de Vila Franca e Serviços Diocesanos sublinham a importância da “sobriedade” e “rigor” na administração e conservação dos bens da Igreja

Sessão no âmbito do Dia dos Bens Culturais juntou o economato da diocese e o Serviço diocesano dos bens culturais para falar de gestão do património

Foto: Clife Botelho/A Crença

A ouvidoria de Vila Franca do Campo acolheu esta sexta-feira um encontro sobre preservação e valorização dos bens temporais e culturais da Igreja, uma iniciativa desenvolvida no âmbito do Dia dos Bens Culturais assinalado este sábado, dia de São Lucas, patrono dos artistas e que desde 2011 é celebrado pela Igreja Católica Portuguesa.

O padre José Borges,  a quem coube fazer o acolhimento desta sessão, enquadrou o encontro no contexto do Ano da Esperança, que a Diocese vive como um tempo de comunhão e sinodalidade.

“Vivemos o Ano da Esperança. Estamos todos na mesma barca; não podemos estar com um pé na barca e outro no porto, entre a segurança daquilo que já temos e a aventura daquilo que podemos construir em conjunto”, afirmou.

O sacerdote sublinhou ainda que “a Igreja não vive sob a lei do mercado” mas precisa de pautar a sua atuação por critérios de “responsabilidade e sobriedade”, promovendo a gestão de bens e recursos que são partilhados na maior parte das vezes “ de uma forma muito sacrificada pelos fiéis”.

“É preciso sobriedade naquilo que são os gastos — nas festas, nos paramentos e em tudo o que for necessário e importante. Se não for, tem que haver alguém que saiba discernir o que é necessário daquilo que não é”, acrescentou.

O padre José Borges fez, por isso, um apelo à “confiança e à corresponsabilidade na administração dos bens”.

“O cuidado dos bens é cuidado da fraternidade. A partilha faz de nós irmãos, e a confiança dada às comissões (Conselhos de assuntos económicos) é um voto de fé em quem gere aquilo que é de todos, o nosso património, que é também expressão da nossa identidade cristã”, afirmou.

Foto: Clife Botelho /A Crença

A sessão contou com a intervenção de Carla Bretão, ecónoma da Diocese de Angra, que apresentou uma exposição sobre a administração dos bens temporais da Igreja, sublinhando a necessidade de “rigor, transparência e responsabilidade”.

“Sem uma administração cuidada, nada se faz — nem mesmo as obras de caridade e apostolado que sustentam a missão das paróquias”, afirmou.

A responsável explicou as normas diocesanas que regulam a administração paroquial, desde a constituição dos Conselhos para os Assuntos Económicos até às regras de prestação de contas e de autorização para a compra e venda de bens imóveis. Recordou que todas as paróquias devem prestar contas anualmente à Diocese, manter o património devidamente registado nas Finanças e na Conservatória, e cumprir as obrigações legais e fiscais.

Carla Bretão destacou ainda a importância de criar fundos para obras e manutenção, da contribuição subsidiária à diocese, através da transferência de 10% das receitas paroquiais, reforçando que “a Diocese depende da partilha de cada paróquia para manter os seus serviços centrais e apoiar as comunidades”.

Outro ponto de atenção foi a necessidade de inventariar e segurar o património, lembrando que muitas paróquias ainda perdem bens por falta de registo ou por descuido na conservação.

“Temos de saber o que a paróquia possui e garantir que tudo está devidamente registado e protegido”, apelou, acrescentando que a contratação de seguros, nomeadamente para voluntários e espaços de culto, “é hoje uma exigência de prudência e responsabilidade”.

A iniciativa da Ouvidoria de Vila Franca procurou, assim, sensibilizar os participantes para a importância de unir a boa administração à valorização cultural e espiritual, promovendo a conservação do património como expressão da fé e instrumento de evangelização.

“A boa administração e a preservação do património são também formas de evangelizar, de servir a comunidade e de honrar a história viva da Igreja”, concluiu Carla Bretão.

Foto: Clife Botelho/A Crença

Outra das intervenções da noite coube a Joana Simas, que abordou a dimensão cultural e espiritual do património religioso, refletindo sobre a importância de “musealizar o sagrado” — conservar, valorizar e expor o património religioso de modo a preservar o seu valor simbólico e evangelizador.

Joana Simas sublinhou que entre 70 e 80% do património cultural mundial tem origem religiosa, lembrando que “a Igreja sempre viu na arte uma forma privilegiada de evangelização: a arte é uma linguagem universal que fala à fé, à memória e à identidade dos povos”.

Defendeu que os museus eclesiásticos têm uma missão distinta dos museus comuns, pois aliam a função pastoral à cultural, sendo “espaços de evangelização e educação da fé através da arte”.

“Estes espaços não se limitam a conservar objetos; eles interpretam-nos, dão-lhes voz e sentido dentro da história viva da comunidade cristã”, explicou.

Como exemplo concreto, apresentou o projeto da Coleção Visitável da Matriz de Santa Cruz da Lagoa, criada para expor e preservar peças de grande valor artístico e religioso, muitas das quais se encontravam guardadas sem condições adequadas.

“Musealizar dentro do contexto eclesial permite manter o sentido sagrado das peças e garantir a sua correta conservação e interpretação”, afirmou.

Foto: Clife Botelho/A Crença

(Com Clife Botelho/A Crença)

Serviço Diocesano dos Bens Culturais apostado na construção de uma ética que sublinhe a ligação entre Cultura e Fé através do património religioso

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