Papa apresenta “misericórdia para com os pobres e os descartados” como critério definitivo de julgamento dos cristãos

O Papa disse hoje no Vaticano que a atenção aos mais pobres e excluídos é o “único critério” de julgamento dos cristãos, questionando quem se omite da intervenção social.

“No tribunal divino, o único critério de mérito e de acusação é a misericórdia para com os pobres e os descartados: ‘tudo o que fizestes a só um destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes’, sentencia Jesus”, referiu, na Missa a que presidiu, na Basílica de São Pedro, em sufrágio pelos cardeais e bispos falecidos durante o último ano.

Desde o altar da Cátedra, Francisco apresentou uma reflexão sobre o capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus, que apresenta o julgamento divino com base no que cada pessoa fez em prol do outro.

“O Evangelho explica como viver a expectativa: vamos ao encontro de Deus amando, porque Ele é amor. E, no dia da nossa despedida, a surpresa será feliz se agora nos deixarmos surpreender pela presença de Deus, que nos espera entre os pobres e feridos do mundo”, indicou.

O Papa deixou palavras de crítica aos “cristãos que comentam, debatem e expõem teorias, tantas, mas não conhecem nem mesmo um pobre pelo nome, não visitam um doente há meses, nunca alimentaram ou vestiram alguém, nunca fizeram amizade com alguém necessitado”.

“De simples discípulos do Mestre, tornamo-nos mestres da complexidade, que discutem muito e fazem pouco, que buscam respostas mais diante do computador do que diante do Crucifixo, na internet e não nos olhos dos irmãos e irmãs”, lamentou.

Francisco sublinhou que Deus “vive entre os mais insignificantes para o mundo” e que os cristãos devem amar quem não lhes pode dar nada, “gratuitamente e a fundo perdido, sem esperar nada em troca”.

O quando é agora, hoje, à saída desta Missa. Agora, hoje. Está nas nossas mãos, nas nossas obras de misericórdia: não em esclarecimentos e análises refinadas, não em justificações individuais ou sociais”.

O Papa confessou que se comoveu com a carta de um capelão de uma casa na Ucrânia que acolhe órfãos de guerra e crianças abandonadas, um pastor anglicano que assumia como seu serviço “acompanhar estes descartados”.

A este testemunho, Francisco contrapôs a atitude dos que, “por conveniência ou por conveniência”, procuram “atenuar a mensagem de Jesus, a diluir suas palavras”.

“Alimentar os famintos sim, mas a questão da fome é complexa e certamente não consigo resolvê-la! Ajudar os pobres, sim, mas as injustiças devem ser tratadas de uma certa maneira e então é melhor esperar”, exemplificou.

“Estar perto dos doentes e dos presos, sim, mas nas primeiras páginas dos jornais e nas redes sociais há outros problemas mais urgentes (…). Acolher os migrantes sim, mas é uma questão geral complicada, diz respeito à política e eu não meto nisso”, acrescentou.

“Tudo sim, mas no fim, tudo não. E assim, à força do ‘mas’ e do ‘porém’ – tantas vezes somos homens e mulheres do ‘mas’ e do ‘porém’ – fazemos da vida uma cedência”.

Na comemoração litúrgica dos Fiéis Defuntos, o Papa afirmou que a morte “vem para fazer verdade sobre a vida e remove quaisquer circunstâncias atenuantes para a misericórdia”.

“Olhemos para cima, porque estamos a caminho do Alto, enquanto as coisas aqui de baixo não sobrem: as melhores carreiras, as maiores conquistas, os títulos e prémios mais prestigiados, as riquezas acumuladas e os ganhos terrenos, tudo desaparecerá num instante. Tudo”, advertiu.

No final da celebração eucarística, decorreu um momento de oração presidido pelo Papa no Campo Santo Teutónico, dentro do Vaticano, “de forma estritamente privada”.

(Com Ecclesia)

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