Papa pede “compromisso corajoso” contra a desinformação 

Foto: Arquivo

Este  domingo a igreja celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais  com o pedido do Papa Leão XIV a reiterar a mensagem do seu antecessor sobre a necessidade de uma comunicação desarmada, como está escrito na mensagem  para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2025, que liga à celebração do Jubileu, desafiando os jornalistas a “compromisso corajoso” perante a desinformação. 

“Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores”, escreve, num texto intitulado ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’. 

A mensagem anual, divulgada no dia da festa litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, no passado dia 24 de maio, convida os profissionais do setor a serem “comunicadores de esperança” e a “desarmar a comunicação”. 

“Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio”, adverte.

“Muitas vezes, simplifica-se a realidade para suscitar reações instintivas; usa-se a palavra como uma espada; recorre-se mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir”. 

 Francisco alerta para o que o denomina de “dispersão programada da atenção”, através de algoritmos que, seguindo as “lógicas do mercado”, alteram a percepção da realidade. 

“Assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro”, escreve. 

A mensagem aborda a passagem da Bíblia que inspirou o tema deste ano, na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16): «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito».  

O Papa convida os cristãos a dar testemunho da sua esperança em Jesus. 

“Sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança”, indica. 

“Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança”, acrescenta.

“O bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos ‘peregrinos de esperança’, como diz o lema do Jubileu”.  

Apontando ao lema do Jubileu 2025, o Papa sublinha que “a esperança é sempre um projeto comunitário”.  

“O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem”, precisou. 

Francisco desafia os jornalistas a contar “tantas histórias de bem, escondidas por detrás das notícias” e a “cuidar do coração”. 

“Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos. Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade”, recomenda.

“Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida”.  

Na primeira audiência concedida aos jornalistas que acompanharam o Conclave, no passado dia 12 de maio, Leão XIV reiterou o pedido feito por Francisco pedindo-lhes o “compromisso de levar por diante uma comunicação diferente”, superando o “modelo da competição” e promovendo o “serviço à verdade”.

A intervenção, com cerca de 10 minutos, realçou o trabalho desenvolvido nos últimos dias, com as celebrações da Semana Santa, a morte do Papa Francisco e o Conclave, “em dias cansativos”.

“Vivemos tempos difíceis de percorrer e de narrar, que representam um desafio para todos nós e que não devemos fugir”, assumiu, advertindo contra a “confusão de linguagens sem amor, muitas vezes ideológicas ou partidárias”.

“Obrigado pelo que fizeram para sair dos estereótipos e dos lugares-comuns, através dos quais muitas vezes lemos a vida cristã e a própria vida da Igreja. Obrigado, porque conseguiram captar o essencial do que somos e transmiti-lo com todos os meios ao mundo inteiro”.

Leão XIV sustentou que a comunicação é “criação de uma cultura”, assinalando o impacto da evolução tecnológica, especialmente da inteligência artificial.

“Repito-vos hoje o convite feito pelo Papa Francisco na sua última mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais: desarmemos a comunicação de todo preconceito, rancor, fanatismo e ódio; purifiquemo-la da agressividade”, disse.

“Não precisamos de uma comunicação estrondosa, musculosa, mas sim de uma comunicação capaz de ouvir, de acolher a voz dos fracos que não têm voz. Desarmemos as palavras e contribuiremos para desarmar a terra”, acrescentou.

Evocando a sua intervenção na ‘Urbi et Orbi’ a que presidiu após a eleição pontifícia, Leão XIV pediu “uma comunicação desarmada e desarmante”.

“Peço-vos que escolham com consciência e coragem o caminho de uma comunicação de paz. Obrigado. Que Deus vos abençoe! E até breve”, concluiu.

O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi eleito na última quinta-feira como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.

O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e bispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes (1 de junho em 2025). 

(Com Ecclesia e Vatican News)

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