Pobreza infantil nos Açores aumenta e é pior que a média nacional

Responsáveis pela pastoral social exigem maior compromisso e articulação entre as várias entidades

Os Açores não têm um estudo profundo à cerca da pobreza infantil na região, desde 2009, mas a partir dos dados nacionais, os responsáveis estimam que a pobreza infantil não só tem aumentado como está em contraciclo com a tendência nacional.

“Do pouco que sabemos, pode-se afirmar que 31.5% das crianças e jovens (até aos 17 anos) vivem em situação de pobreza monetária em Portugal”, uma situação que se agravou no país, mas nos Açores “a situação é pior do que a média nacional” tendo “aumentado “ entre 2005 e 2009 quase 3,5% de “30,1 para 33,4%”, pode ler-se num comunicado do Serviço Diocesano da Pastoral Social, enviado ao Sítio Igreja Açores esta terça feira.

Os cortes nas prestações sociais, que fizeram com que o principal grupo afetado na redução de rendimento sejam os 10% mais pobres que viram o seu rendimento reduzir-se 24% nos últimos anos, com reduções do rendimento Social de Inserção,  sobretudo junto das famílias com crianças,  são apontados como “causas diretas” deste aumento, pois as crianças “são a par dos idosos o grupo mais vulnerável”.

O Serviço Diocesano da Pastoral Social acaba de realizar as Jornadas sobre a Pobreza Infantil, reunindo em Ponta Delgada vários especialistas da área, que apontaram caminhos para inverter este ciclo de pobreza ou pelo menos minimiza-lo.

Entre as medidas destaque para  “o reforço dos rendimentos das famílias com crianças”; o “combate ao absentismo e ao insucesso escolar e a prevenção de comportamentos desviantes” e a aposta na prevenção primária, sobretudo ao nível da saúde oral, visão e nutrição “que têm um forte impacto no desempenho das crianças”.

É preciso, igualmente, intervir “ao nível da família” capacitando-a na “educação para os afetos”.

“Foi muito frisada a importância de se desenvolverem projetos de intervenção social baseados em medidas de capacitação e de apoio social rejeitando-se linearmente as medidas assistencialistas que mais não fazem do que prolongar no tempo as situações de pobreza” referem as conclusões.

“As medidas de combate à pobreza não têm grandes efeitos na redução de pobreza, apenas na mitigação da sua intensidade” destacam ainda as conclusões do encontro enfatizando que “as grandes medidas com efeitos na redução de pobreza são as referentes às políticas gerais do estado, com destaque para as políticas redistributivas (impostos e redistribuição de rendimentos); políticas de educação para o combate ao absentismo e ao insucesso; políticas de saúde para a vacinação, combate aos problemas de desenvolvimento, às dificuldades de visão e audição e para a saúde em geral, saúde dentária e nutrição”.

Por outro lado, dizem, “a pobreza infantil aumenta o risco dos problemas de saúde duradouros (físicos e mentais) ao longo de toda a vida do indivíduo e da instalação de dificuldades cognitivas (passíveis de serem corrigidas com educação escolar, mesmo em idades avançadas)”.

As conclusões do encontro sobre pobreza infantil, desenvolvido pela Pastoral Social Diocesana, envolvendo a Cáritas, a Kairos e o centro de Bem Social e Paroquial de São José, realçam, ainda,  um projeto de boas práticas em Rabo de Peixe com uma forte componente de envolvimento dos agentes escolares e das famílias na deteção e resolução de problemas escolares centrados nos alunos”.

Os responsáveis diocesanos da pastoral deixam ainda um alerta para a necessidade de se trabalhar “melhor” os números da pobreza para que “não se extrapolem” indicadores que não estejam de acordo com a realidade.

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