Privilegiar o «fator humano» é a única alternativa de «futuro», alerta o Patriarca de Lisboa

D. Manuel Clemente participou numa conferência sobre «trabalho e emprego em Portugal» promovida por empresários cristãos.

O Patriarca de Lisboa sustenta que todas as soluções propostas para o combate à crise económica serão insuficientes enquanto não privilegiarem o “fator humano”.

 

Em entrevista à Agência ECCLESIA, à margem de uma conferência sobre “O trabalho e o emprego em Portugal” promovida pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), D. Manuel Clemente comentou os desenvolvimentos mais recentes na economia portuguesa, que apontam para uma redução no défice orçamental do Estado.

 

“Aquilo que é positivo, é positivo, mas chegar ainda não chega, temos de ir por diante e sobretudo num sentido mais humano da economia, numa perspetivação mais humana das finanças, da política e da atividade de todos aqueles que podem empregar e lançam iniciativas neste campo, porque é a única maneira de termos futuro”, realçou o patriarca de Lisboa.

 

Para o atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, independentemente da forma como é feita a abordagem à crise, seja através da redução da despesa, do aumento da receita ou de outro mecanismo, é preciso ter em conta que as medidas mexem sempre com “realidades humanas”.

 

“E quando a economia perde essa base também se perde a si própria, começa a ser aquilo que o Papa Francisco chama de uma economia que mata, que deixa de estar em função da realização da pessoa humana e passa a funcionar por si, ou seja, não funciona”, apontou.

 

A conferência promovida este sábado pelos empresários cristãos, no Centro Cultural de Belém, procurou encontrar “caminhos para a geração de emprego” em Portugal, sobretudo a partir da identificação dos setores onde podem surgir “mais oportunidades”.

 

Além de D. Manuel Clemente, o evento contou com a participação dos gestores Diogo Alarcão, Rui Diniz e Alexandre Relvas, do consultor Rui Galamba, da socióloga Maria João Valente Rosa e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.

 

O futuro dos jovens, a situação dos desempregados “com mais de 40 anos” e o impacto dos fenómenos migratórios – dos que chegam e dos que saem do país – na economia e demografia nacionais, foram outros tópicos abordados durante o debate.

 

Para o patriarca de Lisboa, é urgente que as políticas de recuperação económica sejam também desenvolvidas a partir de uma perspetiva “global” que vá ao encontro da situação dos muitos imigrantes que chegam ao Velho Continente vindos da “outra margem do Mediterrâneo”.

 

“Não se pode falar que imigram, fogem, e tentam tudo por tudo chegar aqui onde julgam que ainda existem mais possibilidades”, apontou D. Manuel Clemente.

 

No final da conferência, o presidente da ACEGE destacou a necessidade do desemprego ser integrado no centro das “políticas de responsabilidade social das empresas”, ao lado de problemáticas já assumidas como “a pobreza ou a deficiência”.

 

Outra das principais preocupações de António Pinto Leite passa por sensibilizar os empresários a erradicarem todos os “abusos” que possam decorrer do atual “desequilíbrio” entre a oferta e a procura de trabalho.

 

“Há muita gente desempregada e é preciso que, neste ponto de encontro, não haja um abuso daquele que está numa posição dominante, neste caso o empresário”, concluiu.

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