Promover a coesão das comunidades

Por Renato Moura

“Não estarei satisfeito até que veja os cristãos se aproximarem do banquete celestial com simplicidade de crianças famintas e alegres, e não cheios de medo e falsa vergonha” é a citação de uma afirmação daquele que viria a ser S. Caetano, em honra do qual decorre a festa, no fim-de-semana, na freguesia da Lomba das Flores.

Esta festa é apenas uma, das muitas que ocorrem em todas as comunidades católicas, no Verão. É referida por ser uma das primeiras e como pretexto para motivar alguma reflexão. A Ilha das Flores, cada vez com menos habitantes, tem dois concelhos, está dividida em onze freguesias, algumas delas subdivididas em duas comunidades.

Cada freguesia tem o seu padroeiro, a festa respectiva e a Ouvidoria garante, no mínimo, tríduo preparatório e celebração no dia próprio, com a devida pompa. A par disso, comissões ou grupos informais de colaboradores asseguram a animação exterior e organizam os restaurantes e bares destinados à angariação de fundos para recuperação e manutenção do património religioso. A Lomba é um bom exemplo.

O sucesso destas festas depende absolutamente dos forasteiros que acorram a cada comunidade. Era indispensável que, para além do habitual esforço da Ouvidoria no sentido de não se realizar mais de uma festa em cada Domingo, também os cristãos das diversas localidades não se demitissem do papel de participação que lhes cabe, hoje muito fácil de cumprir graças à abundância de transportes.

Aliás o esforço na obtenção de fundos, para conservação do património, nem deveria ser apenas da Igreja, pois que os templos são, para além da sua função, as peças arquitectónicas mais valiosas de cada localidade. As entidades públicas, tendo em conta o sentimento maioritário do povo, deveriam dispor-se sempre a colaborar – sem imposições – com as festas religiosas e nomeadamente a não criar eventos extraordinários que diminuam a habitual adesão popular às festas tradicionais.

A promoção da coesão em geral é um dever, longe de ser concretizado nos Açores. Mas é imperdoável que o não seja, no interior de cada ilha açoriana, entre concelhos, entre freguesias. E se os políticos não forem sensíveis ao que devem, maior razão há para que as pessoas promovam aquilo a que se poderia chamar uma solidariedade territorial – a nível de festas, mas não só – e a imponham a quem deve.

Que S. Caetano (1480/1547), contemporâneo de Lutero, que lutou pela reforma da vida e costumes na Igreja, mas sem a dividir, como padroeiro que é do pão e do trabalho, inspire coesão.

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