Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo pede maior empenho da sociedade no “respeito e no apoio” à comunicação social

Foto: Igreja Açores

Greve dos jornalistas foi um dos temas do debate sobre o papel da comunicação social na transmissão de valores, promovido pela Escola Secundária Antero de Quental, numa parceria com o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres

O Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres apelou esta quinta-feira a um maior envolvimento da sociedade na resolução do problema da precariedade laboral dos jornalistas, solidarizando-se com a greve nacional, que envolveu também diferentes redações nos Açores, por salários mais justos e melhores condições de trabalho.

Num debate promovido pela Escola Secundária Antero de Quental no auditório do Santuário, sobre o papel dos meios de comunicação social na transmissão de valores e as consequências das novas tecnologias na emergência de uma sociedade diferente, o cónego Manuel Carlos Alves, que foi responsável pelo jornal A União, na década de 90 do século XX, sublinhou a importância dos jornalistas na sociedade.

“A comunicação social desempenha um papel fundamental na sociedade  mas nós também temos de pagar isto;  basta, por vezes, que cada um se disponibilize para fazer a assinatura dos jornais” disse o sacerdote, lembrando que a garantia de receitas dos jornais seja pela publicidade seja por assinatura é indispensável para garantir melhores condições de trabalho aos profissionais.

“Portanto, ter soluções também depende de nós” enfatizou salientando que  quem luta “por melhores salários e melhores condições de trabalho deve ter o nosso apoio”.

O responsável pelo Santuário diocesano sublinhou o papel dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social na transmissão de valores e, sobretudo, a exigência de “credibilidade e honestidade” com que devem pautar o seu trabalho. A este propósito recordou o papel desenvolvido por dois jornalistas norte americanos que se encontravam em Dili quando se deu o massacre no cemitério, onde morreram dezenas de pessoas às mãos dos soldados indonésios- potência ocupante- e o consequente apoio internacional à luta pela soberania do povo timorense.

“A comunicação social tem que transmitir às pessoas a realidade dos factos, que nos permitam fazer os nossos juízos por mais diferentes que venham a ser. A comunicação social tem um papel na difusão de valores e no acordar da sociedade” concluiu.

O debate organizado por uma docente da Escola Secundária Antero de Quental, Maria Helena Oliveira, no âmbito da disciplina de Português, e que acabou por envolver também a Escola de Formação Turística e Hoteleira, de Ponta Delgada, contou com um painel de mais três pessoas ligadas à comunicação: Graça Moniz, da Antena 1 Açores, Carmo Rodeia, responsável pela comunicação diocesana e Paula Gouveia, diretora interina do Açoriano Oriental, um dos títulos da Global Media, que tem vivido nos últimos meses alguns sobressaltos.

“Esta é uma greve justa e o Açoriano oriental tem sido o exemplo da instabilidade e da fragilidade que o sector da comunicação social atravessa” afirmou Paula Gouveia.

“O Açoriano Oriental é um exemplo de resistência face aos problemas que são transversais” disse ainda.

“No ano em que se comemoram 50 anos do 25 de abril, a comunidade tem de perceber que tem de apoiar os jornais seja na assinatura seja na publicidade; de outra forma não haverá jornalismo e ficaremos mais pobres todos”.

“Não bastam as redes sociais; sem jornalistas vamos estar presos ao algoritmo e afunilados em bolhas, perdendo a noção do outro e afunilando as nossas crenças e, se olharmos para a política, encontramos o reflexo disso”, afirmou a diretora interina do Açoriano Oriental, um dos dois jornais mais antigos que se publicam em Portugal e que é propriedade do grupo Global Media.

Carmo Rodeia, por sua vez lembrou o papel fundamental da comunicação social na vida das pessoas e da sociedade, em geral, pedindo mais rigor e transparência na divulgação das estruturas societárias dos media.

A responsável pela comunicação da diocese recordou a importância das notícias estarem centradas nas pessoas e nas suas histórias, defendendo um jornalismo de proximidade.

“Numa sociedade fragmentada, onde tudo começa e acaba no clique do like ou no soundbite é preciso apostar na transmissão de valores” disse, por seu lado, Graça Moniz, que refletiu sobre a comunicação na perspetiva relacional.

“Numa sociedade como a nossa, onde os valores estão esmorecidos faz falta uma reflexão sobre o papel da comunicação social na transmissão destes valores”, justificou Maria Helena Oliveira.

Emanuel Pereira agradeceu a disponibilidade da Igreja em acolher este evento e destacou a importância da temática “transversal a qualquer sociedade e a qualquer tempo(…) independentemente da latitude geográfica ou matriz cultural”.

Além das intervenções sobre o papel dos media, houve ainda lugar para a interpretação de duas músicas e de um poema de Sophya de Mello Breyner.

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