Responsável nacional da Pastoral Social diz que “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo”

Pe José Manuel Pereira de Almeida foi o convidado das III Jornadas de Primavera na diocese de Angra

Os cristãos têm de continuar a acreditar que é possível “rasgar” a “mentalidade dominante do económico” e provar que é essencial fazer diferente, disse esta sexta feira à noite o responsável nacional pela pastoral social, Pe José Manuel Pereira de Almeida, que foi o conferencista convidado das III Jornadas de Primavera na diocese de Angra, que se realizaram em Ponta Delgada, ilha de São Miguel.

Estas jornadas, promovidas pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social, desta feita em parceria com a pastoral da família, têm procurado debater as respostas que as comunidades cristãs podem dar num momento de crise e de dificuldade.

“Sociedade, família e ação social de proximidade” foi o tema de partida da conferência que acabou por sublinhar a importância da família numa ação social de proximidade, que é muito mais do que a “mera caridade assistencialista”.

“Caridade é o nome de Deus e não se pode servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo”, disse o conferencista lembrando que “a caridade não é assistência social” mas sim “aproximarmo-nos dos outros ao jeito de Jesus”, isto é , “sem condições prévias ou interesses subsequentes”.

Partindo do conceito de família, enquanto comunidade de amor e Igreja doméstica, o sacerdote lembrou que é aqui que se aprendem valores e reforçam laços e se aprende “a sociabilidade solidária”.

O Pe José Manuel Pereira de Almeida reconhece que os tempos “são difíceis” mas as comunidades cristãs “têm sabido remar contra a mentalidade dominante” na medida em que têm conseguido reinventar a solidariedade, “mostrando que não é só o dinheiro que conta” e mesmo quando há falta dele “podem fazer-se coisas”.

“Nós somos daqueles que se inscrevem numa escola que não se resigna e que se insurge contra os números mostrando que as pessoas são mais importantes que eles e que não há nenhum que possa tornar verdadeira uma coisa que é injusta. Os números explicam mas não resolvem”, diz o sacerdote.

Embora reconheça que hoje há como que uma espécie da “ditadura do económico”- na preservação do casamento, na existência de filhos, no posicionamento social- o responsável nacional pela pastoral social lembra que cabe à igreja lutar contra “essa teoria dominante”. Como? Reinventando uma solidariedade adaptada à realidade dentro dos limites de cada um.

“Esta é a pergunta que está no coração de qualquer cristão: quem é o meu próximo” lembra o sacerdote frisando que é preciso “ver com os olhos, sentir com o coração e depois ter a liberdade de agir dentro daquilo que é possível, sendo certo que todos temos limites porque não somos nem super homens nem super mulheres”.

“Não se pedem sacrifícios nem nada que qualquer um de nós não possa fazer; pede-se a todos e cada um que pare, vá ao encontro, trate de quem precisa e o ajude com responsabilidade, no fundo como se faz a um irmão dentro da nossa família”, adianta ainda o professor de Teologia Moral e Doutrina Social da Igreja; na Universidade Católica.

“Acolher a todos sem condições, sem ses… incondicionalmente, não excluir ninguém e se tiver de preferir alguém tenho de preferir o que é excluído, ao jeito de Jesus”, sublinha o Pe Pereira de Almeida dizendo que “o diálogo começa por ser capaz de ouvir, dar lugar, dizer uma palavra oportuna e adequada à situação”.

Naturalmente que esta atitude depende dos valores que cada um adquire e das experiências que tem. Por isso, conclui, a família é “essencial” como “um lugar de abertura e interiorização à fé”.

As III Jornadas de Primavera realizaram-se em Ponta Delgada. O Vigário Episcopal para a ilha de São Miguel, que é também o diretor diocesano da Pastoral Social, Pe Cipriano Pacheco, lembrou que o objetivo destes trabalhos tem sido “dar passos na consciencialização dos cristãos” para a dimensão social da sua intervenção.

Citando o Cardeal Maradiaga, Presidente da Cáritas Internacional, que esteve em Portugal recentemente, o Pe Cipriano Pacheco recorda que o problema essencial das nossas comunidades é “reduzirem o problema da justiça à questão distributiva esquecendo a dimensão social”, isto é, “não se trata apenas de garantir o sustento ou a comida; é necessário lutar para que os mais necessitados tenham prosperidade e dignidade”.

O sacerdote foi mais longe na citação dizendo mesmo que a “opção pelos pobres tem de ser uma categoria teológica, mais do que política ou social e filosófica”.

Também o responsável pela Pastoral familiar, Cónego José Medeiros Constância, sublinhou a importância desta parceria, lembrando que é no seio da família que se asseguram os valores essenciais para uma intervenção social madura, e reforçou  a “necessidade da Doutrina Social da Igreja ser uma constante na ação dos católicos”.

As Jornadas de Primavera e de Outono, que este ano vão na sua terceira edição surgiram por iniciativa do Serviço Diocesano da Pastoral Social como fórum de debate sobre a crise e as estratégias para ultrapassar os problemas por ela criados.

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