Santa Margarida é a primeira paróquia “Imperatriz” do Espírito Santo

Igreja de Porto Martins tem sido a “casa” do Divino esta semana, entre os bodos de Pentecostes e o da Trindade

A paróquia de Santa Margarida, no Porto Martins, é a primeira paróquia terceirense a tirar um “pelouro” e a receber em casa as Insígnias do Divino Espírito Santo durante uma semana.

O altar com as Coroas(quatro)e as outras Insígnias, está em lugar de destaque na Igreja, ao lado do Sacrário e desde domingo à noite que, diariamente, se reza o terço, como é tradição.

Este domingo, dia de “Bodo da Trindade” e último dia da festa celebra-se a Missa da Coroação e todos os porto martinenses são convidados a coroar.

“A pessoa ou a família que habitualmente recebe em sua casa o Espírito Santo é designada de Imperador ou Imperatriz. Ora como a igreja é de todos, todos os paroquianos são Imperadores e, por isso, devem coroar no final da Eucaristia”, disse ao Sítio Igreja Açores o pároco, Pe Júlio Rocha sublinhando o simbolismo deste momento que será vivido amanhã a partir das 10H30. Nessa altura regressarão à Igreja, em procissão, as Insígnias do Divino que entretanto serão mudadas esta noite, depois da vigília, que conta com a participação das crianças da catequese, para a Ermida, onde pernoitarão.

“Será uma cerimónia muito simbólica e um verdadeiro momento de oração ao Divino Espírito Santo que queremos acentuar, ressalvando neste gesto comunitário de coroação os valores essenciais deste culto e que são os verdadeiros valores da Igreja: a fraternidade, a igualdade e a partilha”, adiantou ainda o sacerdote.

“Esta devoção é um poço sem fundo e seria muito bom que os nossos sacerdotes olhassem para ela sem desconfiança, valorizando o que tem de bom e não os defeitos que uma manifestação de religiosidade popular possa ter”, frisou ainda o Pe Júlio Rocha lembrando que “há uma vela que não se apaga neste culto e que temos de aproveitar porque pode ensinar-nos muito à cerca das nossas comunidades e da sua vivência da fé”.

Ao longo desta semana, desde o domingo de Pentecostes, a Igreja de Santa Margarida do Porto Martins foi ponto de encontro em volta do Divino Espírito Santo. Além do Terço, animado sempre por grupos paroquiais, realizou-se diariamente uma conferência, conciliando a temática do Espírito Santo com outras igualmente importantes.

Ao todo foram cinco conferências- “História e costumes do Porto Martins”, por Manuel Humberto e Francisco Branco (dois porto martinenses conhecedores da história local); “Família: Igreja doméstica”, pelo Pe. Gregório Rocha; “O Ano Santo da Misericórdia”, pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre;  “A vida depois dos filhos”, por  Raquel Oliveira e  “Os 10 sinais do Papa Francisco”, pelo Pe. Júlio Rocha- “em que se aproveitou para formar e unir a comunidade” com uma assistência média de 70 pessoas, “o que não é pouco” se se atender ao facto de dois terços dos habitantes do Porto Martins terem pouca ligação afetiva à paróquia por não serem naturais deste lugar.

“Julgo que o nosso objetivo inicial está a ser alcançado” disse ainda o sacerdote lembrando que “o que se pretendia era mostrar que a Igreja está de braços abertos a esta devoção tão própria, tão forte e tão imbuída em toda a cultura do nosso povo”. Inclusive, “junto de alguns não crentes”, admite o Pe Júlio Rocha.

“Tal como imensos ateus admiram São Francisco de Assis também há muitos não crentes que estão ligados a este culto pelos valores que ele encerra e, sobretudo pela falta de vínculo às estruturas eclesiásticas, numa visão por vezes romantizada, sem vínculos terrenos” refere o pároco destacando que o facto da Igreja ter sido o espaço de oração e de comunhão ao Espírito Santo, nesta semana que agora termina, “pode contribuir” para desfazer esta ideia mostrando o que é essencial: “a Igreja acolhe este culto que apresenta a religião como espaço de liberdade”.

Apesar da paróquia de Santa Margarida ter sido a primeira a ser “imperatriz” do Espírito Santo, a tradição de não serem só pessoas ou famílias a tirar “pelouros” (as chamadas domingas do Espírito Santo) já tem pelo menos um quarto de século, tendo sido iniciada por agrupamentos  de Escuteiros, grupos de jovens e outras entidades, o que é uma forma de “assumir o vínculo desta tradição” marcadamente popular.

Receber o Espirito Santo em casa tem regras. Além de se dispensar o melhor espaço da casa para acolher a Coroa e as Insígnias, o imperador deve promover a oração através da recitação do terço e oferecer um pequeno convívio.

“Antes faziam-se os bailaricos e os jovens aproveitavam a  recitação do terço para depois de encontrarem  e conviverem. Hoje já não se fazem os bailes mas promove-se sempre um convívio que é mais um momento de partilha e isso aproxima necessariamente as pessoas dentro da comunidade” conclui o Pe Júlio Rocha.

O dia principal desta festa realiza-se amanhã com a celebração da coroação na missa dominical às 11h00 seguida de Bodo, junto ao Império.

 

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