Sociedade exige cada vez mais dos sacerdotes

Seminário aposta na formação pastoral e teológica. Ajudar a discernir vocações é uma tarefa constante. Além do exemplo de vida e de fé, o padre tem que ser “um pastor competente”.

A competência, o profissionalismo e o exemplo de vida são três atributos que quer professores quer alunos do Seminário Episcopal de Angra veem como decisivos para o exercício do sacerdócio.

“O Evangelho não mudou, o que mudou foram as circunstâncias” que exigem cada vez mais de um padre, disse ao Portal da Diocese José Nunes, o professor mais velho do Seminário de Angra, que ensina Teologia Fundamental e Teologia Dogmática desde o final da década de 60.

“Antes os padres eram mais respeitados; a fé era mais forte e as pessoas viviam-na de forma mais intensa”, lembra o sacerdote ordenado em 1960.  Hoje, volvidos mais de 50 anos, Bruno Espínola, seu aluno, seminarista do quinto ano, prefere colocar a questão no domínio das competências.

“A sociedade exige que o padre seja uma pessoa muito competente, exemplar e disponível todo o tempo”  e que seja “um exemplo de justiça e de abnegação”, adianta.

Ideia, de resto, corroborada por Júlio Rocha, docente e ex aluno do Seminário Diocesano.

“Hoje há um desejo constante de questionamento não para por em causa mas para conhecer melhor” e os padres “enquanto pastores têm de estar à altura”, adianta.

“As pessoas antes ouviam, aprendiam e obedeciam, sempre com receio de questionar. Já não é assim”, conclui o professor de Teologia Moral e Sacerdócio.

Numa altura em que o Seminário encerra as comemorações dos seus 150 anos, com novos desafios no horizonte, como o reconhecimento do seu plano curricular para a abtenção do grau de licenciado, os 21 alunos que frequentam a Casa, distribuídos entre o ano Zero (tal como existe na Universidade Católica) e o último ano de formação, que antecede, na maioria das vezes a ordenação, vivem dias de intensa formação humana, intelectual, espiritual e pastoral. Quatro dimensões que formam “um homem que servirá de pastor”, dizem alunos e professores.

“Não é fácil”, reconhece Bruno Espínola. As contrariedades e as incertezas fazem desta opção de estudo um caminho difícil como tantos outros.

“As dúvidas são normais” diz Júlio Rocha que tem mais receio dos que chegam ao seminário com a certeza do sacerdócio, “o que às vezes é um refúgio e não sei se isso é bom”.

E do que fogem rapazes de 18 anos, a idade com que hoje a maioria chega ao Seminário, muitos deles com o 12º ano completo e com vivências socialmente padronizadas dentro daquilo que é expetável num jovem?

“De nada. Foi pelo sonho que vim” disse ao Portal da Diocese Pedro Carvalho, natural de Santa Bárbara, Ponta Delgada, que aos 18 anos deixou a entrada no curso de Medicina, “até consegui média alta para entrar”, mas “é aqui que me enquadro”.

Muitos chegam com o desígnio de serem padres. Até sentem que nem deixam nada para trás a não ser “as certezas que me impediam discernir sobre a minha vocação”, desabafa Bruno Espínola, que deixou a Graciosa em 2008. Hoje tem 26 anos e está a um de ser ordenado.

Na bagagem levou para o Seminário a vontade de “descobrir” e a resistência inicial da família.

Também aqui houve mudanças. As famílias são mais pequenas e “dar um filho à Igreja ainda é como perder um filho”, pelo menos numa primeira fase e, esse é um obstáculo às vocações.

“Não creio que hoje haja menos vocações”, diz Júlio Rocha, “Há é menos gente no Seminário porque as condições se alteraram”. Praticamente, ninguém entra com 10 ou 12 anos. Chega-se mais tarde e já com uma orientação mais definida que é diariamente aprofundada, até pela óptica pastoral.

“O Seminário hoje é diferente. Mais aberto e, sobretudo mais próximo da comunidade, até mesmo em relação a outros seminários”, reconhece o docente.

“Ainda me lembro quando passeávamos dois a dois nas ruas de Angra, de chapéu e batina. Eram os estorninhos”, recorda o Pe. José Nunes.

Desde os anos 90 que se iniciou esta abertura do Seminário, que se materializa logo no segundo ano, quando os seminaristas são colocados em comunidades paroquiais e ao fim de semana, sobretudo, acompanham os respetivos párocos. Aprendem a paroquiar e a servir.

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