Um tempo de namoro

Pelo Pe Hélder Miranda AlexandreA vida é uma entrega. Um grão de trigo que é lançado à terra. Por isso, há que a entregar ao estudo, a uma profissão, seja ela qual for, a uma missão. Acredito que só a entrega dignifica a vivência dos nossos dias. Mas acima de tudo, o que dignifica, liberta e não escraviza é entregar a vida a alguém (sobretudo “Alguém”), com amor desinteressado.

Ontem, na Vigília de Oração pelas Vocações, um dos nossos finalistas dizia que o tempo do Seminário é um namoro. Acertou em cheio! Há que saber namorar, porque é o mais intenso que um ser humano pode viver. Aqueles dias intensos de paixão, em que o pensamento se tolda, em que se dorme acordado e se acorda sonhando. Num ambiente mecanizado e programado, o namoro vence formas, é acima de tudo original, criativo. Não é muito racional. Até o mundo muda de cor. Assim nos ensina a experiência humana, apesar das suas desilusões e fadigas. Mais ainda é procurar namorar o Amor. Viver com Jesus é entranhar-se e estranhar-se num tesouro difícil de descrever. Ninguém foi mais criativo que o nosso Deus. Quem O descobriu tem de “vender” tudo o que tinha.

Começamos a viver a Semana dos Seminários. A nossa comunidade está bem viva e ativa. É uma semana privilegiada para conhecer e amar esta nossa “Casa”! São 19 rapazes, cheios de entusiasmo no seu olhar, com muita vida para dar (não nos deixam parar). Aí vão eles em missão, espalhados por muitas comunidades, escolas e catequeses das nossas Ilhas. Levam consigo o sonho, com a esperança de “arrebanhar” mais alguns. Levam consigo o mandato do Senhor. Algo os tocou um dia, como a mim. Não sabemos explicar o porquê. A vocação sacerdotal “caiu-nos” em cima, o Senhor venceu. Deixamo-nos seduzir.

Na semana passada, juntaram-se nesta Casa os padres ordenados nos últimos dez anos. O entusiasmo renovou-se no contacto com esses, mas com projetos mais clarividentes, feitos já e também de algumas desilusões. Contudo, continuam a sonhar. No dia seguinte, decorreram as Jornadas Diocesanas da Comunicação Social “Uma ponte para a Inclusão”. Nada acontece por acaso. Visto que o Evangelho deve ser anunciado, tudo se interliga. A leitura dos sinais dos tempos assim nos ensina. E esta Casa não para… Todos os dias aparecem novos desafios, o salão recebe novos auditórios, os rapazes crescem e amadurecem em ordem ao grande sim das suas vidas… Há mais para lhes dar. Por isso, precisamos de todos. Mas acima de tudo d`Ele.

Relembro algumas palavras de S. João Paulo II. “O Seminário Maior deve tender a tornar-se uma comunidade impregnada de uma profunda amizade e caridade, de modo a poder ser considerada uma verdadeira família, que vive na alegria. É essencial para a formação dos candidatos ao sacerdócio e ao ministério pastoral, o qual por sua natureza é eclesial, que o seminário seja sentido não de um modo exterior e superficial, quer dizer, como simples lugar de habitação e de estudo, mas de um modo interior e profundo: como comunidade, uma comunidade especificamente eclesial, um comunidade que revive a experiência do grupo dos Doze unidos a Jesus”.

O Senhor convida, toca, provoca, fixa em nós o Seu Olhar, para que olhemos para Ele. Esta é a nossa missão: fazer que outros vivam e mudem o olhar. Pena que certas multidões impeçam que Zaqueu O consiga ver…

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