“A pior coisa que nos pode acontecer é pensar que já não precisamos de conversão”, disse o Papa aos membros da Cúria Romana

O Papa Francisco afirmou hoje no encontro de Natal com os membros da Cúria Romana que não traduzir o Evangelho nas “linguagens contemporâneas” é uma “heresia” e alertou para a necessidade de conversão de quem trabalha na Santa Sé.

“A pior coisa que nos pode acontecer é pensar que já não precisamos de conversão, quer a nível pessoal quer comunitário”, afirmou o Papa no discurso que dirigiu aos responsáveis pelos vários serviços do Vaticano.

No encontro de Natal, Francisco disse aos seus colaboradores mais próximos que a atitude a que devem “dar mais importância” é a gratidão, referindo “todos os benefícios” concedidos ao longo do último ano e desejando que neles se inclua também a conversão.

“A grande tensão que se nos exige neste momento da nossa existência está ligada ao facto de a nossa vida atual se desenrolar formalmente em casa, dentro dos muros da instituição, ao serviço da Santa Sé, no próprio coração do corpo eclesial; e, por isso mesmo, podemos cair na tentação de pensar que nos encontramos em segurança, somos melhores, já não devemos converter-nos”, afirmou o Papa

“Se às vezes digo coisas que podem soar como duras e fortes, não é por não acreditar no valor da amabilidade e da ternura, mas porque é bom reservar as carícias para os abatidos e oprimidos, e encontrar a coragem de ‘afligir os consolados’”.

O Papa alertou os membros da Cúria Romana para as tentações provocadas pelo “demónio educado”, que chega “sem fazer barulho, mas trazendo flores” e que tenta repetidamente, com “nova roupagem”, mesmo após ter sido expulso.

“Converter-se é aprender a tomar a sério cada vez mais a mensagem do Evangelho, procurando pô-la em prática na nossa vida. Não é simplesmente manter-se longe do mal, mas praticar todo o bem possível. Perante o Evangelho, permanecemos sempre como crianças necessitadas de aprender. Presumir que já aprendemos tudo faz-nos cair no orgulho espiritual”, afirmou o Papa.

Francisco lembrou os 60 anos do início do Concílio Vaticano II, que se assinalaram durante o ano de 2022, que desafiou a “compreender melhor o Evangelho, torná-lo atual, vivo e operante neste momento histórico”.

“Este itinerário está longe de terminar. A reflexão atual sobre a sinodalidade da Igreja nasce, precisamente, da convicção de que o percurso de compreensão da mensagem de Cristo não tem fim e desafia-nos sem cessar”.

O Papa lembrou que “o contrário da conversão é o fixismo”, a “sub-reptícia convicção de não precisar de qualquer nova compreensão do Evangelho”, e disse que é um erro “querer cristalizar a mensagem de Jesus numa forma única e sempre válida”.

“A verdadeira heresia não consiste apenas em pregar outro Evangelho, como nos lembra Paulo, mas também em deixar de o traduzir nas linguagens e formas contemporâneas, como fez precisamente o Apóstolo dos Gentios. Conservar a mensagem de Cristo significa mantê-la viva, não enclausurá-la”, sublinhou o Papa.

No encontro de Natal com a Cúria Romana, o Papa disse que o “primeiro grande problema” é “confiar demais” em si mesmo, nas próprias estratégias e nos próprios programas, referindo que “algumas quedas, mesmo como Igreja, são um grande apelo a colocar de novo Cristo no centro”.

Após o encontro com os membros da Cúria Romana, o Papa realizou o encontro de Natal com todos os colaboradores do Vaticano, na Aula Paulo VI.

(Com Ecclesia)

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