O Papa denunciou hoje, no Vaticano, os “muros da indiferença e do ódio” que geram preconceitos, nacionalismos e violência, particularmente contra as mulheres.
“Onde há amor, não há espaço para preconceitos, para distâncias de segurança que nos afastam do próximo, para a lógica da exclusão que vemos emergir, infelizmente, também nos nacionalismos políticos”, declarou, na homilia da Missa da solenidade de Pentecostes, a que presidiu na Praça de São Pedro.
Leão XIV falava perante dezenas de milhares de pessoas, dos cinco continentes, reunidas por ocasião do Jubileu dos Movimentos, Associações e Novas Comunidades, um dos grandes eventos do atual Ano Santo.
O Papa centrou a sua reflexão sobre a ação do Espírito Santo, realçando que “abre as fronteiras também entre os povos”.
“As diferenças, quando o Sopro divino une os nossos corações e faz ver no outro o rosto de um irmão, não se tornam ocasião de divisão e conflito, mas um tesouro comum, do qual todos podemos tirar proveito e que nos coloca em caminho, todos juntos, na fraternidade”, sustentou.
A homilia falou de atitudes que “envenenam” as relações, como “os mal-entendidos, os preconceitos, as instrumentalizações”.
“Penso também – com muita dor – nas situações em que uma relação é infestada pela vontade de dominar o outro, uma atitude que frequentemente desemboca na violência, como infelizmente demonstram os numerosos e recentes casos de feminicídio.”
Leão XIV afirmou que a celebração do Espírito Santo é o convite a transformar “uma vida que se atrofia, sugada pelo individualismo”.
“É triste observar como num mundo onde se multiplicam as oportunidades de socialização, corremos o risco de ser paradoxalmente mais solitários, sempre conectados, mas incapazes de fazer rede, sempre mergulhados na multidão, mas permanecendo viajantes perdidos e solitários”, advertiu.
A reflexão deixou ainda mensagens em favor da unidade, nas comunidades católicas.
“Só somos verdadeiramente a Igreja do Ressuscitado e discípulos de Pentecostes se entre nós não houver fronteiras nem divisões, se na Igreja soubermos dialogar e acolher-nos mutuamente, integrando as nossas diversidades, e se, como Igreja, nos tornarmos um espaço acolhedor e hospitaleiro para todos”, indicou o pontífice.
Citando Bento XVI, o Papa disse que a Igreja é chamada a abrir as fronteiras entre os povos e romper as barreiras”.
“O Espírito abre as fronteiras principalmente dentro de nós. É o Dom que desvela a nossa vida para o amor. E essa presença do Senhor desfaz a nossa dureza, o nosso fechamento, o egoísmo, os medos que nos bloqueiam e o narcisismo”, acrescentou.
“O Espírito de Deus faz-nos descobrir uma nova maneira de ver e viver a vida: abre-nos ao encontro com nós mesmos, para além das máscaras que usamos; conduz-nos ao encontro com o Senhor, educando-nos a experimentar a sua alegria.”
Leão XIV pediu que todos vivam a “alegria da fraternidade” e considerou que as guerras em todo o mundo são “um sinal trágico” de que ainda se está longe de superar divisões e preconceitos.
“Invoquemos o Espírito do amor e da paz, a fim de que abra as fronteiras, derrube os muros, desfaça o ódio e nos ajude a viver como filhos do único Pai que está nos céus”, apelou.
“Irmãos e irmãs: Pentecostes renova a Igreja e o mundo! Que o vento vigoroso do Espírito desça sobre nós e em nós abra as fronteiras do coração, dê-nos a graça do encontro com Deus, amplie os horizontes do amor e sustente os nossos esforços pela construção de um mundo onde reine a paz.”
Leao XIV chegou à Praça de São Pedro em papamóvel e saudou a multidão durante vários minutos, deslocando-se também à avenida que liga o Vaticano à cidade de Roma, para cumprimentar as pessoas que acompanham a celebração nesse espaço.
A celebração do Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica, sobre o primeiro grupo de discípulos de Jesus, após a sua ressurreição.
(Com Ecclesia e Vatican News)