A atitude da Igreja tem de ser a misericórdia

Por Carmo Rodeia

O Papa Francisco surpreendeu o mundo quando, em 2016, permitiu que conhecêssemos o seu pensamento sobre a ação da Igreja lembrando que “O  nome de Deus é Misericórdia”.

E dizia ele, quase em jeito de roteiro do pontificado, que “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para promover o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.

Este fim de semana, o Papa, autor de um dos mais belos textos da igreja sobre o amor e a família, voltou a defender a importância da misericórdia e da formação da consciência para superar os problemas familiares, por parte dos católicos.

“Jesus indica como remédio a misericórdia, que cura a dureza do coração, restaurando as relações entre esposo e esposa e entre pais e filhos”, refere, numa mensagem que enviou aos participantes do simpósio de estudo sobre exortação pós-sinodal «A Alegria do Amor», promovido pela Conferência Episcopal Italiana.

O Papa adverte para a confusão entre “primado da consciência” e a “autonomia exclusiva do indivíduo com respeito às relações que vive”.

“No íntimo de cada um de nós existe um lugar onde o Mistério se revela e ilumina a pessoa, tornando-a protagonista da sua história. A consciência – como recorda o Concílio Vaticano II, é este ‘núcleo secreto’, o sacrário do homem, onde ele fica sozinho com Deus, cuja voz ressoa na intimidade”, precisa Francisco.

“O amor entre homem e mulher é uma das experiências humanas mais geradoras, é fermento da cultura do encontro e traz ao mundo de hoje uma injeção de socialização: o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja”, afirma.

Francisco fala desta consciência como um dom da “graça divina” que “ilumina e fortalece o amor conjugal e a missão parental”.

Também este fim de semana leigos e clero estiveram reunidos em Fátima, nas 29º Jornadas da Família, para analisar a exortação pós sinodal e os responsáveis da Comissão Episcopal da Família e Laicado falaram em misericórdia, e na necessidade da igreja fazer o acolhimento, o discernimento e a integração das famílias, mesmo as que estão em, situação considerada irregular, sempre com base nesse paradigma anunciado por Jesus há mais de dois mil anos e tão bem recuperado pelo Papa Francisco.

Na importante exortação Amoris Laetitia, o amor aparece não só no título mas vem nomeado mais de 300 vezes, tornando-se deliberadamente o centro da sua detalhada reflexão.

O Papa Francisco, tal como Jesus, crê no Amor, na força atraente do Amor, e por isso pode ser bastante desconfiado e crítico relativamente à atitude de quem quer regular tudo com normas.

‘Não’, diz o Papa, ‘isso não atrai; o que atrai é o amor’.”

Uma vez mais o papa retoma o tema da Amoris Laetitia, um `ensaio´ com uma nova linguagem, privilegiando o modelo narrativo e a ligação à experiência, ao tecido do vivido, ao quotidiano, em vez de um discurso abstrato.

O que Francisco pede aos cristãos, e sobretudo à hierarquia da igreja, entre outras coisas é uma mudança do olhar e da atitude pastoral relativamente às situações familiares complexas, imperfeitas que devem ser tratadas com “a lógica da misericórdia pastoral”. Trata-se do acompanhamento pastoral próximo, compreensivo, realista, encarnado, em ordem a uma maior integração na comunidade cristã, de modo que ninguém se sinta excomungado ou excluído. As palavras-chave são: acompanhar, discernir e integrar a fragilidade.

Por outro lado, acentua a responsabilidade da consciência: “A Igreja é chamada a formar as consciências, não a pretender substituí-las”.

“A misericórdia não exclui a justiça e a verdade, mas, antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus”…o resto, se for preciso, virá depois. Precisamos mesmo de muita luz neste caminhar, sem receitas pré feitas ou simples, a não ser a do Amor como paradigma.

 

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