A relação indubitável entre ética e política

Por Renato Moura

Geralmente considera-se que a ética significa carácter e se refere ao comportamento humano individual em relação à sociedade, nas variadas actividades desta. A ética como reflexão, não pode depender das circunstâncias do tempo ou do lugar.

No campo teórico ouvimos apregoar, louvar e prometer ética. Na prática a sociedade aparece-nos inundada por suspeições, falsificações, corrupções… profissionais, económicas, financeiras, políticas…

Acompanhamos os factos e crimes das capitais da notícia, atribuídos ou praticados por figurantes máximos de múltiplas áreas. Iluminados pela explosão dos escândalos, esperar-se-ia que os habitantes das periferias observassem e reflectissem, mas a esmagadora maioria parece encandeada e fica cega e muda perante o que se passa frente ao seu nariz.

Talvez a extensão dos atropelos seja relativa à dimensão do meio, mas nem por isso é aceitável que, seja onde for, a ética e a política estejam em domínios opostos. Não se pode aceitar que a política se transforme numa artimanha para esconder as verdadeiras intenções, ou se oriente pelos resultados visados, como que indiferente aos meios para atingir os fins; nem os políticos uns manipuladores de situações em seu proveito.

Nos meios pequenos os jornais estão a fazer uma falta insuprível, pois publicitavam e avaliavam acções e comportamentos, teciam considerações sobre a incongruência da prática política com os princípios morais, rebelavam-se contra o uso sem abusivo do poder e pronunciavam-se sobre legitimidade e legalidade.

Quem aceitou cargos políticos importantes deveria ter abraçado a ética na política; ou não deveria ter aceitado. E a ética na política não respeita apenas a grandes questões. Quem exerce, por exemplo, o cargo de presidência de uma autarquia, representa o órgão e o povo da respectiva circunscrição. Ele, ou quem o represente, tem especiais obrigações de disponibilidade, condigna representação do órgão e dignificação da função, também de respeito institucional perante os órgãos ou entidades com quem se relacione, seja por direito, iniciativa própria ou convite. Comportamentos descabidos na função, ou sequer negligentes, envergonham os representados e a indignação deveria redundar em retirar da cena política aqueles que não honram o mandato confiado.

A ética na política, bem ao contrário de banho na multidão de qualquer contestação, deveria cumprir-se no desempenho de todas as competências, nas sedes apropriadas, com frontalidade e desassombro, lutando, afora as paixões, pela verdade e pela razão.

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