A saúde espiritual é “fundamental” para lidar com a doença

Iniciativa conjunta dos serviços diocesanos da pastoral da saúde e da família celebra a luta contra a doença oncológica.

O nível do bem-estar espiritual de uma pessoa doente, conjugado com a ação terapêutica para aliviar a dor e o sofrimento, é importante para a ajudar a ultrapassar as dificuldades impostas por cada doença, em especial a oncológica, sublinhou esta sexta feira, o responsável diocesano pela Pastoral da Saúde, Pe Paulo Borges, na conferência “Um dia pela Vida- celebrar, recordar e lutar” (Clique aqui »»»), promovida em conjunto pelos serviços diocesanos de apoio à pastoral da saúde e da família e pelo Núcleo Regional dos Açores da Liga Portuguesa contra o cancro, integrada na Semana da Vida.

 

 

O sacerdote que é também o Capelão do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, começou por lembrar o ator António Feio no livro “Aproveitem a Vida” destacando a importância de cada um encarar a doença, procurando “viver um dia de cada vez” sempre ciente de que “se há um problema é preciso resolvê-lo da melhor maneira, há que não ficar quieto, há que tentar de tudo primeiro, nunca desistir”.

 

 

Paulo Borges falou da espiritualidade e da importância de um doente conseguir conservar o seu bem estar espiritual.

 

 

A espiritualidade é uma dimensão que proporciona à pessoa bem-estar, paz interior e reconhecimento pela gratuidade, importância das relações humanas e significado para a vida” e esta saúde espiritual acontece quando  “há relações satisfatórias com os outros, direitos reconhecidos e satisfeitos, capacidade de lidar com o stress, resiliência (crescimento pessoal através das dificuldades), ter esperança e propósitos na vida, ter fé como capacidade de acreditar em si mesmo e nos outros”, sublinhou o sacerdote.(Ver na íntegra em documentos)

 

 

Paulo Borges lembrou o avanço da ciência no processo de tratamento dos doentes, no entanto, não deixou de se referir à circunstância da doença oncológica ser a segunda principal causa de morte em Portugal e de ser uma doença com fortes impactos quer a nível físico quer a nível psicológico.

 

 

“O forte impacto gerado pela doença a nível físico, psicológico, existencial e as incertezas face ao futuro induzem profundas alterações na autoimagem e no relacionamento com os outros levando a pessoa a interrogar-se sobre o sentido da vida, da sua vida”, frisa o Capelão do Hospital do Divino Espírito Santo.

 

 

Por isso, é que para Paulo Borges a “ estratégia de curar” deve dar “lugar ao processo de cuidar, ao alívio do sofrimento e à promoção do conforto. Se a pessoa estiver desconfortável não será capaz de transcender-se, podendo perder o sentido da vida e, consequentemente, a capacidade em perspetivar o seu futuro”.

 

 

O sacerdote deixa pistas para um melhor acompanhamento destes doentes.

 

 

“No conforto espiritual é necessário proporcionar à pessoa alívio, tranquilidade e transcendência. O alívio traduz-se na satisfação de uma necessidade e é fundamental para que a pessoa possa restabelecer o seu normal funcionamento. A tranquilidade, manifestada pela paz interior e pela satisfação, permite-lhe ter um desempenho eficiente. Por último, a transcendência, estado através do qual a pessoa acredita ter potencial para controlar o seu futuro e resolver os seus problemas”, destaca Paulo Borges.

 

 

O Capelão do Hospital do Divino Espírito Santo lembra o papel dos profissionais de saúde, sobretudo dos enfermeiros, e sublinha a necessidade de estarem disponíveis para acolher os doentes

 

 

“Cuidar significa ir ao encontro do outro, acolhê-lo na sua fragilidade e reconhecê-lo não só por aquilo que é, mas também pelo que pode vir a ser. Neste contexto, a dimensão espiritual constitui parte integrante da profissão, contribuindo de forma inequívoca para a qualidade dos cuidados prestados” e o reconhecimento desta dimensão, sublinha Paulo Borges “valoriza os cuidados de saúde”.

 

 

A verdade e a esperança foram dois outros conceitos abordados pelo sacerdote.

 

 

Paulo Borges diz que o “doente tem direito a saber a verdade sobre si e sobre o seu estado” no entanto esta informação “não pode ser distribuída de forma avulsa”.

 

 

“A arte da comunicação deverá respeitar e acompanhar todo o processo terapêutico de acompanhamento, doseando a informação à medida que a pessoa for capaz de ir assimilando”, sublinha Paulo Borges.

 

 

O sacerdote lembra que “tal como não se administra toda a terapêutica de uma só assentada, mas um comprimido de cada vez, o profissional de saúde apenas proporcionará as informações necessárias e possíveis ao doente, fomentando sempre uma esperança realista, porque a questão fundamental não será dizer ou não dizer a verdade, mas antes como deve dizer, doseando sempre o momento com a quantidade certa de informação que a pessoa pode gerir”.

 

 

Quanto à esperança, Paulo Borges lembra que “é a força que impulsiona a pessoa a transcender-se da situação em que vive, em direção a uma nova consciência de si e enriquecimento do seu próprio ser” por isso deve ser sempre alimentada, sobretudo, pelos profissionais de saúde.

 

Além dos doentes, Paulo Borges, lembrou também os familiares que “precisam de atenção” para curar a dor da perda e ultrapassar os processos de luto.

Para o sacerdote, que diariamente lida com estes casos, o maior remédio para todas as  dificuldades é o amor “de quem cuida”, que “cura” e que “permite vencer todas as barreiras”.

O encontro “Um dia pela Vida” contou, ainda com as intervenções de Elvira Maria Pimentel, coordenadora local do Projeto UDPV; Pe. José de Medeiros Constância, Ouvidor Eclesiástico de Ponta Delgada e Responsável pela Iniciativa Pastoral “Semana da Vida” e vários testemunhos de vida de doentes e seus familiares, concretamente do Pe. Carlos Eduardo dos Santos Simas, Ouvidor Eclesiástico dos Fenais da Vera Cruz, Enfª Elvira Maria Pimentel e de Ana Catarina Pimentel, Administradora Hospitalar do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada.

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