País pobre e sujeito a riscos no final do programa de ajustamento

Responsáveis católicos fazem balanço de três anos de assistência económica e financeira, projetando o «pós-troika».

O programa de assistência económica e financeira a Portugal, que se conclui hoje, deixou um país mais pobre e ainda sujeito a riscos, defendem vários responsáveis católicos e especialistas questionados pela Agência ECCLESIA.

 

“Foi um tempo violentíssimo para as pessoas que já viviam em situações vulneráveis e arrastou para a pobreza gente que nunca pensaria chegar à condição de privação de bens básicos para a sua subsistência”, declara o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca.

 

Num balanço sobre a situação do país três anos após a assinatura do memorando de entendimento, D. Jorge Ortiga, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, afirma que é necessário “recuperar um ambiente de sobriedade”, na vida pessoal e coletiva, evitando “desperdícios e desigualdades sociais, escandalosas”.

 

Adriano Moreira, uma das personalidades que assinou o chamado ‘manifesto dos 70’ para apelar à reestruturação da dívida portuguesa, realça à Agência ECCLESIA que não está em causa um “perdão”, mas “a extinção da ganância”.

 

“O credo do mercado precisa de ser limitado e regulado por uma ética”, sustenta.

 

Para o professor universitário, o país assiste à saída dos “empregados da troika”, mas não ao fim da vigilância internacional ou da austeridade.

 

“Há muito sacrifício que ainda vai ser enfrentado”, lamenta.

 

A ‘saída limpa’, anunciada pelo Governo após a última avaliação da troika, comprova a “rápida” recuperação do país, segundo o economista João César das Neves, que fala num “exemplo de sucesso”, antes de deixar alertas sobre o otimismo excessivo nesta fase.

 

“A melhor comparação é com um doente que esteve às portas da morte e agora começa a conversar connosco: continua doente e evidentemente vai estar em tratamento durante muito tempo, mas por outro lado temos razões para estar contentes, porque a situação era desesperada”, refere o docente da Universidade Católica Portuguesa.

 

Graça Franco, diretora de informação da Rádio Renascença, destaca a “apetência” dos mercados pela dívida portuguesa, observando, no entanto, que “essa apetência pode desaparecer de um momento para o outro”, levando a um aumento das taxas de juro.

 

A especialista recorda ainda os números ligados ao desemprego em Portugal, um problema “gravíssimo”.

 

“Pode haver pessoas que ficaram de fora do mercado de trabalho com esta crise e que não vão voltar a ele. Isso, do ponto de vista da estrutura social, é muito grave”, adverte.

 

Para o sociólogo João Peixoto, o impacto dos últimos anos no plano demográfico foi “trágico”, levando ainda a uma “mudança de paradigma” do ponto de vista dos fluxos migratórios, que evoca a década de 60 do século XX.

 

“Hoje não temos excesso de população na agricultura, não temos população iletrada, antes pelo contrário. Se as saídas na altura provocavam preocupações, hoje provocam outras, talvez maiores”, precisa o coordenador do projeto de investigação ‘Regresso ao Futuro: a Nova Emigração e a Relação com a Sociedade Portuguesa’.

 

O final do programa de assistência económica e financeira a Portugal vai estar em destaque na edição deste domingo do Programa ‘70×7 (RTP2, 10h30- hora dos Açores)

Scroll to Top