“A sinodalidade não é uma questão de moda; é uma questão com fundamentação bíblica” e por isso “devemos todos ter uma atitude construtiva”, afirma Monsenhor José Constância

Diretor do Instituto Católico de Cultura fala sobre os desafios da caminhada sinodal diocesana e da sua articulação com as propostas do Papa rumo ao sínodo em 2023

É um dos mais experimentados pastoralistas da diocese e, por isso, integra a Comissão Coordenadora da Caminhada Sinodal da diocese de Angra que é presidida pelo Vigário Geral, cónego Hélder Fonseca Mendes. A menos de um mês do inicio dos trabalhos preparatórios nas dioceses de todo o mundo do Sínodo de 2023, sobre a sinodalidade, convocado pelo Papa Francisco, numa entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores, o sacerdote lembra que a sinodalidade é  “um regresso ao espírito do Concílio Vaticano II” e uma marca do ADN da Igreja “enquanto povo de Deus”.

“A sinodalidade não é uma questão de moda ou cosmética; é uma questão bíblica, com fundamentação teológica” diz lembrando que nos Atos dos Apóstolos ou nas ações dos primeiros padres da Igreja já se aponta este caminho.

“A sinodalidade é o regresso ao Concilio Vaticano segundo que já se realizou há 56 anos e que precisa de ser retomado, nomeadamente as grandes opções pastorais por ele propostas” salientou ainda afirmando-se convicto de que este é um caminho sem retorno, sobretudo neste contexto de pandemia que acentuou a urgência da Igreja ser “uma presença de esperança no mundo e para o mundo”.

“Antes da pandemia esta já era uma prioridade, mas naturalmente a pandemia criou uma interpelação diferente que reforça esta necessidade de promover um trabalho em conjunto” refere o sacerdote que completou este ano o 50º aniversário da sua ordenação sacerdotal.

“Temos muita necessidade de darmos as mãos uns aos outros para prosseguirmos este trabalho de evangelização no mundo, como Jesus nos exortou”, refere.

“O trabalho em conjunto, o caminhar juntos é um estilo que deriva da nossa essência de sermos Igreja”, enfatiza.

“Há um conceito a aprofundar do ponto de vista teológico e uma prática a atualizar e que vem do concilio: a Igreja Povo de Deus, isto é, todos os batizados têm de participar na Igreja o que nos impele a descobrirmos o que é ser Igreja, sobretudo nos dias de hoje”, esclarece reforçando que havendo uma noção comum sobre o que é ser Igreja, há também especificidades a que importa dar resposta.

“Ser Igreja nos Açores é atender à realidade concreta- social e humana- destas ilhas” e “é essa reflexão que temos vindo a fazer nestes dois últimos anos”, lembra alertando para o facto desta reflexão “implicar todos”, dos padres aos leigos, “inclusive todos que estão afastados da Igreja” refere e isso passa por vários níveis de reflexão desde a organização, à resposta que se dá, às acções que se desenvolvem.

“A paróquia não é uma freguesia religiosa; todos têm de fazer caminho e todos participam”, alerta sublinhando que “a Igreja tem de deixar de estar centrada na figura dos ministros ordenados, diáconos e padres”.

“Na medida em que aprofundarmos este conceito, deixaremos de ter o clericalismo, que é o poder concentrado nos clérigos: nova conceção da paróquia, novas unidades pastorais, isto é, uma Igreja em que a colegialidade seja a principal trave mestra” conclui.

“Todos concordamos que temos de ter comunidades mais participativas, uma Igreja missionária centrada nos problemas concretos, sobretudo dos mais necessitados. Ora, isso implica trabalho de reflexão conjunto da nossa parte para encontrarmos as melhores soluções”, diz ainda.

“Não obstante as dificuldades, ou erros, devemos todos entrar numa atitude mais construtiva, padres a leigos, religiosos, dentro ou fora da Igreja, de todos participarem de forma a termos uma harmonia de trabalho em conjunto, e remarmos todos no mesmo sentido para que o Evangelho e a sua alegria chegue às pessoas”, conclui.

O tema da sinodalidade foi, de resto, o escolhido para o arranque do ano pastoral nas recoleções feitas pelo Clero e pelos leigos nas três vigararias esta semana que agora finda.

Monsenhor José Constância foi prefeito e professor do Colégio Seminário em Ponta Delgada, tendo trabalhado também durante três anos com a juventude da Ilha de São Miguel e como Diretor Espiritual dos Cursos de Cristandade, continuando até hoje a servir este movimento.

Trabalhou pastoralmente na Ilha de Santa Maria e na ilha de São Miguel onde desenvolveu diferentes serviços, desde o Secretariado Diocesano da Catequese à Pastoral familiar. Licenciado pela Universidade Lateranense, em Roma, em Teologia Pastoral foi um dos principais organizadores do Congresso de Leigos diocesano. É atualmente vice-reitor do Santuário do santo Cristo, ouvidor de Ponta Delgada e Diretor do Instituto católico de Cultura.

A entrevista na íntegra pode ser ouvida aqui.

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