Abandono de pais e avós é «pecado mortal», alerta o Papa

Francisco contesta sociedade que sacrifica idosos ao consumismo e à eficiência

O Papa Francisco manifestou-se hoje no Vaticano contra uma mentalidade de “desprezo” em relação aos idosos, considerando um “pecado” o abandono de pais e avós.

“É feio ver os idosos descartados, é algo feio, é pecado”, declarou, durante a audiência pública desta manhã, na Praça de São Pedro.

Francisco recordou que quando era arcebispo de Buenos Aires costumava visitar lares de idosos, onde perguntava às pessoas se os filhos os acompanhavam.

Nesse contexto, aludiu a um caso particular em que a última visita dos filhos tinha acontecido no Natal, quando se estava já em agosto.

“Oitos meses sem ser visitado pelos filhos! Oito meses abandonado! A isto chama-se pecado mortal. Entendido?”, alertou.

Segundo o Papa, com o progresso da medicina foi possível “prolongar” a vida, mas a sociedade não soube “alargar-se” para a acolher.

“A Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência e muito menos de indiferença e de desprezo em relação à velhice”, sustentou.

Francisco apelou, neste contexto, à promoção de uma “cultura de acompanhamento dos idosos”, contrariando uma “sociedade programada sobre a eficiência” e uma “cultura do lucro” que vê nos mais velhos “um peso, uma âncora”.

“Todos nós, os idosos, somos algo frágeis; há alguns, no entanto, que são particularmente fracos, muitos estão sós a braços com a doença. Alguns dependem de cuidados indispensáveis e da atenção dos outros. Mas, por esse motivo, vamos dar um passo atrás? Vamos abandoná-los ao seu destino?”, questionou.

Para o Papa, o respeito pela sabedoria é uma marca que define a qualidade de uma “civilização” e a vacina contra um “vírus de morte” que considera descartável quem não produz ou consome.

“Há algo de vil nesta habituação à cultura do descarte”, criticou.

 

Francisco desafiou as comunidades católicas a “despertar o sentimento coletivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça sentir ao idoso que este é parte ativa da sua comunidade”.

“Uma sociedade sem proximidade, onde a gratuidade e o afeto desinteressado vão desaparecendo – mesmo para com os de fora da família –, é uma sociedade perversa. A Igreja, fiel à Palavra de Deus, não pode tolerar tais degenerações”, assinalou.

Os alertas do Papa alargaram-se ao interior da Igreja Católica: “Uma comunidade cristã na qual a proximidade e a gratuidade deixassem de ser consideradas indispensáveis, perderia com elas a sua alma”.

“Onde não são honrados os idosos, não há futuro para os jovens”, concluiu.

CR/Ecclesia/Lusa

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