ADVENTO E NATAL – 2018 ‘O melhor está pr’a chegar!’

Pelo Pe. José Borges*

 Com renovada Esperança iniciamos o Tempo do Advento. Oportunidade que a Igreja nos oferece para prepararmos o Natal. Acabar um ano a fim de darmos começo a outro é uma oportunidade excelente de dar graças por tudo aquilo que pudemos viver e que marcou o crescimento dinâmico da nossa fé e amor. De novo, o ritmo do Advento ousa propor a Esperança como pano de fundo desta história que se repete, que não será apenas simples expetativa mas exige compromisso e envolvimento. A Grande Esperança que é Deus, vem no Menino de Belém e suplanta as ‘as pequeninas esperanças’: Enquanto as pequeninas esperanças nos incentivam, a Grande entusiasma-nos. Para nós Jesus Cristo é a Esperança Maior, por isso: ‘ergue a cabeça’; ‘levanta-te, tu podes’; ‘a  libertação está próxima.’ Quase sinto Jesus a dizer-nos: “Olha, o melhor ainda virá!”

Neste tempo de ‘speras’ e ‘esperanças’ recorro às comparações brilhantes da namorada e do caçador. A apaixonada recebe uma chamada do seu amado convidando-a para saírem à noite. Ele marca a hora: 19h00 em ponto! Ela animada e feliz, começa  a preparar-se cedo, muito cedo! Passa o dia a pensar no convite. Às 16h00 escolhe cuidadosamente a roupa que vai usar. 16h30 prepara o seu banho e veste-se. 17h00 põe o perfume e faz a maquiagem. 18h00 está pronta e linda coloca-se atrás da porta à espera do seu dileto. Esta é uma espera ativa, cheia de esperança. É a esperança cristã. A espera do caçador é passiva. Ele sai muito cedo de casa e esquece-se da lanterna e como a madrugada ainda está escura como breu, dificulta-lhe a visão. Ele senta-se à espera do raiar da manhã, até que venha o novo dia. Há tremenda diferença entre essas esperas!

Os dias correm velozes e tentamos agarrar a vida como se de moer vento se tratasse ou como se de apanhar o ar com as mãos nos ocupássemos. Talvez, por isso, já a meados de novembro se anunciava, pelas ruas e nos comércios, a celebração do Natal, como se fôssemos esquecer essa data tão importante ou  deixássemos o Natal sem o seu aniversariante! Também estas quatro semanas de Advento passarão depressa. No entanto, sonho que este tempo possa trazer sabedoria e simplicidade, coragem e sentido para resistir à onda alucinante das coisas inúteis e vestirmo-nos da serena alegria em saborear o melhor que cada dia traz e que em cada dia damos. O Menino Jesus virá e irá encher de futuro o nosso presente! Assim a Esperança ganha corpo em tanta vida que partilhamos. No depender de Deus, o melhor está para vir e nós faremos a nossa parte.

Na Vila-Capital, um pouco por toda a parte, vemos luzes que enfeitam as ruas, as famílias fazem seus presépios e nas igrejas canta-se e reza-se em novenas, primeiro a Maria, Mulher do Advento: a Senhora da Conceição e depois ao Menino Jesus, qual Infante Suavíssimo! Assim vamos celebrando estes dias de alegria e festa, porque efetivamente sentimos, e porque sentir é uma forma de saber, podemos proclamar: ‘Deus está perto de nós e já se sente o pulsar… o coração do Senhor que vem connosco morar…’ (LH) A Alegria teima em nascer. É isso mesmo! Tem que nascer e renascer. Sinto que o sorriso compassivo vai sendo a mão de Deus, neste mundo conturbado, e pode ser mais visível o Seu rosto nos corações humanos, qual terreno sagrado onde florescem as sementes da justiça, da bondade, da beleza, da verdade, do amor e da paz.

Ambiciono que a nota deste Advento seja a Equidade. Tenho descoberto que poderá ser um caminho favorável à Justiça adocicado pela Misericórdia, porque não é possível nem será necessário ser e fazer igual para todos e para cada um. Enquanto uns precisam de pão, outros gritam por perdão; enquanto uns carecem de afetos, outros pedem objetos; enquanto uns requerem dignidade, outros suplicam por verdade… daí que remeto para as mãos responsáveis o dom do discernimento, contribuindo para o mundo novo! Serão estes, aqueles e aquelas, os novos sábios, que nos seus gestos justificam a beleza e a sabedoria, brilhando para sempre porque são os que dão a vida por amor. A não violência vencerá os violentos, porque ensinará a viver na paz e na alegria. Jesus possibilita e capacita os crentes para estas realidades da vida.

Saboreando esta espera, que o Advento semeia, cito um famoso fado de Mariza que é deveras inspirador:  “É preciso perder para depois se ganhar / E mesmo sem ver, acreditar. / É a vida que segue e não espera pela gente / Cada passo que demos em frente / Caminhando sem medo de errar. / Creio que a noite sempre se tornará dia / E o brilho que o sol irradia / Há-de sempre me iluminar. // Sei que o melhor de mim está pr’a chegar! / Sei que o melhor de mim está por chegar. / Sei que o melhor de mim está pr’a chegar.” Bem podia ser este Fado o Hino para o nosso Advento, porque o caminho da santidade acontece é neste mundo, com linguagem nova e atualizada. Talvez, nos tempos em que vivemos, a tão pregada e almejada ‘santidade’ não esteja na moda, mas com certeza que quem a deseja e se esforça neste sentido tem muito bom gosto.

Advento é aquilo que tu não tens! Não tens o direito de julgar os outros e te armares em juiz justiceiro que tem nas mãos a nota da vingança. Não podes cair na tentação moralista de apontares o dedo ao próximo pelos seus pecados. Não tens tempo a perder com mesquinharias, desafia-te à excelência de ser para o qual foste criado e abençoado. Se não tens Deus no centro da tua vida e do teu coração, por isso, talvez não consigas ser inteiro e pleno com todas as pessoas e com todas as coisas que te rodeiam. Ser santo é ser são. É ser bondoso. Esta é a norma do coração-cristão. Esta é a medida do coração divino. A Justiça Divina é a Misericórdia e a Salvação. A Justiça é maneira de ser de Deus que vai transformando o mau em bom e o bom em melhor, se possível. A Justiça Divina revela-se na Paixão total e completa de Jesus Cristo pela Humanidade.

A forma de nos manter vigilante é orar. A oração tem o poder de nos levantar, tem a força de abrir nossos olhos, espírito, alma e coração. Ela é o canal que nos põe em ligação com a bondade e com a beleza da Vida Divina derramada em nós. A oração fará com que vejamos com os olhos de Deus tudo aquilo que acontece ou não acontece. Ela retira-nos o medo do coração e põe-nos confiantes porque percebemos que o Senhor vem a cada momento, para nos fazer crescer, amadurecer e nos fazer aproximar Dele. A oração faz-nos acolher os sonhos de Jesus Cristo e nos levará a espaços de liberdade, felicidade, caridade e responsabilidade. Estou convicto que é a oração que liberta os crentes da mentalidade corrupta deste mundo e faz-nos saborear o juízo de Deus sobre a História individual e coletiva e aproxima as pessoas entre si.

Nos seguintes ‘DESEJOS’, deixo os desafios lançados às Comunidades Cristãs da Ouvidoria de Vila Franca do Campo. Lições que saem da ternura do Presépio.

  1. Que a encha o coração de mais homens e mulheres.
  2. Que a justiça triunfe sobre as desigualdades.
  3. Que as faces se abram em sorrisos sinceros.
  4. Que os corações se compadeçam das fragilidades alheias.
  5. Que os gestos sejam de tolerância e compaixão.
  6. Que as crianças se encham de bons exemplos.
  7. Que a pessoa se aceite tal qual é e aceite os outros também.
  8. Que a Igreja seja mais sinal da comunhão do Deus-connosco.
  9. Que cada um de nós pratique mais perdão e diálogo.
  10. Que todos se respeitem e construam um mundo novo.

Votos de um Santo Advento para todos

*Ouvidor Eclesiástico de Vila Franca do Campo

 

Scroll to Top