Bispo de Angra pede “bom senso” e “diálogo” para resolução do problema das Lajes

Medidas devem “mitigar” consequências sociais e “estimular o aparecimento de novas oportunidades”

O Bispo de Angra disse esta tarde, em declarações ao Sítio Igreja Açores,  que está a acompanhar com “muita preocupação” os problemas sociais que estão a ser criados pelo anúncio unilateral dos EUA de redução da sua presença na base açoriana das Lajes, na ilha Terceira.

D. António de Sousa Braga lembra que a redução do contingente norte americano já é uma realidade, há pelo menos dois anos, mas que “as coisas se precipitaram” e exigem, por isso, “uma resposta concertada de todos”, devendo-se “evitar medidas avulsas para ultrapassar os problemas”.

Para o responsável pela igreja católica nos Açores “há um acordo que está em vigor e que não pode ser denunciado unilateralmente por uma das partes sem contrapartidas”.

“Está na hora dos governos as reclamarem” e uma das prioridades “é suscitar a revisão imediata do acordo, sem deixar de parte a necessidade de acautelar um conjunto de contrapartidas que minimizem os efeitos sociais desta decisão que parece estar tomada e contra a qual pouco podemos fazer”.

“Como bem notam os terceirenses nas sátiras dos bailinhos de carnaval- os Americanos tomaram conta da ilha há 70 anos- agora não podem sair daqui assim”, diz ainda D. António de Sousa Braga, sublinhando que acredita “que o bem senso” irá imperar.

“Estou convencido que os governos da república e dos Açores vão ser capazes de sensibilizar os norte americanos para encontrarem soluções que mitiguem, por um lado, os problemas e sirvam de alavanca para um novo modelo de desenvolvimento social e económico”, disse.

Os norte americanos anunciaram há uma semana a redução do seu contingente militar na base açoriana até ao verão, passando dos atuais 650 efetivos para 165 e, simultaneamente, o despedimento de 500 dos 900 trabalhadores portugueses.

“Só podemos prever uma catástrofe social” classifica o prelado diocesano lembrando que este problema criado pelos EUA vem “agravar ainda mais as dificuldades provocadas pela crise”.

“A situação é muito grave. Ninguém conhece os critérios que serão seguidos para a dispensa dos funcionários mas não nos devemos esquecer também de todos os empregos indiretos que foram sendo gerados na ilha Terceira, em particular na Praia da Vitória, por causa da presença dos norte americanos”, destaca ainda o Bispo de Angra.

“A Terceira vai sofrer muito e pode perder a estabilidade que conseguiu alcançar nos últimos tempos, nomeadamente, em termos populacionais”, adverte D. António de Sousa Braga.

“Pode acontecer aqui o que tem acontecido noutras ilhas: a falta de empregos e de oportunidades, sobretudo para os mais jovens faz com que a população saia e não regresse e isso não é bom “, conclui o prelado diocesano.

D. António de Sousa Braga pede às autoridades para agirem “depressa” para se evitar “o pior”. E neste caso, o pior é mesmo a emigração.

“Sabemos o que ela tem significado para as diferentes ilhas do arquipélago e os problemas que acarreta”, frisou.

Neste momento, há já contas feitas relativamente aos números de uma nova vaga de emigração. Tomaz Dentinho, professor na Universidade dos Açores, estima que entre 5 a 10 mil terceirenses possam ter necessidade de emigrar para garantir a sobrevivência. Um número que representa cerca de 10% da população total da ilha.

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