Bispo português no Vaticano alerta para o perigo do “uso ideológico da piedade popular”

D. Carlos Azevedo preside às Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada e fez conferência de abertura esta quinta-feira

O bispo português D. Carlos Azevedo alertou esta quinta-feira, na conferência de abertura da XVI edição das Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada, que decorrem entre 11 e 14 de julho, para o perigo do “uso ideológico da piedade popular”.

“Interesses económicos, turísticos próprios de uma política local podem misturar-se com manifestações religiosas. Ocorre ter vigilância espiritual para distinguir uso ideológico da piedade popular seja por parte de uma corrente da Igreja seja por parte do mundo político, que procuram impor de forma voluntarista uma visão arcaica e até atemporal” disse o prelado que serve a Igreja no Conselho Pontifício para a Cultura, no Vaticano.

Doutorado em História, D. Carlos Azevedo falou sobre as dimensões missionárias de duas devoções próximas do povo açoriano- o Santo Cristo e o Espírito Santo- apresentando-as como “impulsos fundamentais para ultrapassar a crise de credibilidade que atinge a visão cristã do mundo”.

“A festa do Espírito Santo congrega a comunidade religiosa para se reencontrar. Trata-se de uma congregação efetiva na qual participam todos ativamente e ao contrário dos espetáculos todos são ativos e protagonistas” afirmou às centenas de participantes que encheram a Igreja Matriz de São Sebastião esta quinta-feira, dia em que se iniciaram as festas do Divino em Ponta Delgada, uma organização conjunta da Câmara Municipal e das juntas de Freguesia, com o apoio de vários voluntários. A iniciativa encerrou igualmente o Colóquio sobre “O culto ao Santo Cristo e ao Divino Espírito Santo” que decorreu também na cidade por iniciativa de várias entidades, a começar pelo Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que celebra este ano o seu 60º aniversário e o Instituto Católico de Cultura, com o envolvimento do Centro de História de Além-Mar e Universidade dos Açores.

“A Igreja vive hoje uma experiência de reforma missionária e a paixão açoriana pelo Espirito Santo, tal como a devoção ao Santo Cristo, é um impulso fundamental para ultrapassar a crise de credibilidade que atinge a visão cristã do mundo” enfatizou o teólogo historiador sublinhando a importância evangelizadora deste culto, enraizado na alma e no coração dos açorianos. Mas, alerta, para isso “é precisa alguma criatividade”.

“Como a prática dominical se reduziu à metade gerou-se uma melancolia pastoral e não há grande visão de futuro” acrescentou exemplificando com a redução da “superfície institucional da igreja”,  ou a  “dolorosa desproporção” entre a abundância da messe e a escassez dos que com ela se comprometem.

Por isso, esclarece, expressões de religiosidade popular como a que se vivem nos Açores podem ensinar um novo caminho de reaproximação e `reconstrução´da Igreja, devolvendo-lhe uma verdadeira dimensão missionária em detrimento de uma “pastoral de reprodução” cujos frutos estão à vista. E deixa uma preocupação: “não podemos reduzir o futuro da Igreja a um conjunto de vocações presbiterais. Temos de abandonar a ideia do padre pivô para acolhermos a padre animador, atento aos mais débeis e pobres despertador de vocações”.

“O templo do Espírito Santo, que é a Igreja,  é constituído de pedras vivas”, disse ainda.

A sessão de abertura das Grandes Festas do Divino Espírito Santo terminou com uma atuação do grupo Vox Cordis sobre a “Universalidade do Culto ao Divino Espírito Santo”.

A festa tem neste domingo o seu ponto alto com a Missa e a Coroação que levará às principais ruas da baixa de Ponta Delgada um cortejo de coroas e bandeiras de todos os impérios do Espírito Santo do concelho.

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