Cardeal Tolentino Mendonça apela a uma mudança de paradigma na forma como se olha os doentes e os mais frágeis

“Os doentes são o património da Igreja e o tesouro da comunidade(…) Queridos doentes, senti verdadeiramente que estais a dar fruto”

O cardeal José Tolentino Mendonça presidiu esta manhã à Missa dos doentes, a primeira grande celebração da Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres que começa esta noite em Ponta Delgada, e à qual presidirá pela primeira vez.

O cardeal desafiou os doentes a transformarem a experiência da doença, “que é um mal não desejado, num lugar cristão de intimidade com o Senhor”, cientes de que “Sua força e o seu poder são sempre superiores à nossa fragilidade e ao nosso medo”.

“Sabemos bem como pode ser a alavanca da fé num momento de sofrimento” explicou sublinhando o “momento especial de comunhão” com Deus, na doença.

“Os doentes são amigos de Jesus e é assim que devem sentir-se porque o que estão a viver é matéria espiritual, que Deus também abraça” referiu na Homilia da Missa concelebrada pelo Administrador Diocesano, e pelo reitor do Santuário do senhor Santo Cristo bem como uma série de outros sacerdotes.

“Nos momentos de doença e de sofrimento, olhamos para Jesus e entendemos o seu sofrimento; olhamos para a cruz e ela é mais clara na nossa vida, olhamos para a imagem do senhor Santo Cristo e entendemos aqueles símbolos todos” disse.

Apresentando a imagem do Cristo crucificado como o “ícone da solidariedade de Deus” que vem ao encontro da pessoa humana para transmitir a força necessária para enfrentar o sofrimento, com confiança e esperança, o cardeal madeirense lembrou que é na fragilidade que “um homem e uma mulher têm mais força”.

“Este é um paradigma que temos de mudar nas nossas sociedades” alertou pedindo uma olhar para a vida “na sua inteireza para perceber que o maior legado que deixamos, a pegada que deixamos não é a da força, das nossas capacidades ou a ilusão da omnipotência, mas sim um olhar de amor vivido na fragilidade”.

“Queridos doentes senti verdadeiramente que estais a dar frutos. Podereis não ver, mas o que deixais é um tesouro algo que toca o coração” disse.

“Não é a linguagem do poder mas a do amor que toca o coração de Deus; é a imagem da confiança”.

“Confiança, confiança, Confiança! No momento da fragilidade, da doença e do sofrimento. Acreditemos na força do pedir” disse ainda .

“A oração de um doente tem muita força” porque se trata de “pedir o milagre que é Deus nas nossas vidas, é pedir a presença do próprio Cristo”, acrescentou.

Às dezenas de doentes presentes na Igreja de São José, em Ponta Delgada, onde decorreu esta missa para uma maior comodidade dos peregrinos doentes, um grupo particularmente marcado pela fragilidade, o prelado deixou um terceiro apelo dirigido aos cuidadores que os acompanhavam: “por vezes andamos iludidos com o poder do mundo; cuidar de um doente é tocar em Cristo vivo. Tenhamos por isso a confiança de pedir”.

“Os doentes são o património da Igreja e o tesouro da comunidade”, explicitou.

“Rezamos por vós e ao vosso lado para que passe o seu amor incondicional”.

A Missa dos doentes é, porventura um dos momentos mais simbólicos desta festa já que reúne doentes e idosos, pessoas marcadas pela fragilidade que procuram o encontro com o Senhor na Imagem do Ecce Homo , tão querida dos açorianos, em particular dos micaelenses. Hoje, particularmente, foi emotivo o abraço dado pelo cardeal Tolentino ao Padre Cipriano Pacheco, “amigos de longa data”, que concelebrou a partir da assembleia por se encontrar debilitado, a recuperar de doença.

Esta noite, pela primeira vez, no momento em que acenderem as luzes no Campo de São Francisco, em especial na fachada principal da Igreja do Convento da Esperança, a Imagem sairá à rua permanecendo no adro da Igreja antes de ser transportada pela Irmandade para a Igreja de São José onde cumprirá a primeira de duas vigílias, o que é também uma novidade nestas festas que regressam depois de dois anos de pandemia.

Depois do hino do Santo Cristo entoado pela Banda Triunfo, a Charanga dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada prestará honras diante da Imagem, seguindo-se depois um concerto no Campo de São Francisco pelo coral de São José.

As festas prosseguem no sábado com um tempo de veneração da imagem durante a manhã e a procissão das promessas à tarde. No final haverá uma alocução do presidente das festas, o cardeal D. José Tolentino Mendonça.

No domingo os dois momentos altos serão a Missa Campal, no campo de São Francisco, às 9h30 e a procissão solene pelas principais ruas de Ponta Delgada, às 15h30.

 

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