Chefe de redação da agência Ecclesia diz que é fundamental recuperar a memória, o rosto e o papel de mediação do jornalismo

Primeira mesa redonda sobre a verdade e a sua construção reuniu três jornalistas da área religiosa e política

“A verdade e a sua construção: tensões e contradições na leitura dos factos” foi o tema da primeira mesa redonda das III jornadas de comunicação, promovidas pela igreja açoriana, e que reuniu o chefe de redação da agência Ecclesia, Octávio Carmo, e os correspondentes da RTP e Antena 1 Açores no Faial e no Pico, Ricardo Freitas e Milton Dias, respetivamente.

Octávio Carmo defendeu que é fundamental que o jornalismo recupere o seu papel de mediação em nome do restabelecimento da memória e de um maior conhecimento.

“O mundo tem vindo a perder mediadores e apesar das novas tecnologias o papel deste mediador ainda não tem substituto” disse o chefe de redação da Agência Ecclesia que afirmou que os jornalistas precisam de “trazer memória” e “interpretação dos factos” à sociedade.

“A disponibilidade de informação e o acesso a ela não faz com que as pessoas estejam informadas” e, por isso, é necessário, em “nome da verdade,  devolver a palavra a quem foi despojado dela”.

Para o jornalista, que é um dos dois vaticanistas portugueses acreditados na sala de imprensa da Santa Sé, o papel do jornalista pode ser decisivo na desconstrução da “bolha noticiosa” a cuja construção hoje se assiste.

“Um dos grandes serviços à construção da verdade é revoltarmo-nos contra esta ditadura da falta de tempo, procurando ir para lá da primeira impressão, lutando contra uma bolha que prescinde da multiplicidade das fontes e de pontos de vista”.

O jornalista sustentou, ainda que o problema da verdade “não é uma questão tecnológica” mas de valores, nomeadamente “honestidade, confiança e credibilidade”.

“A questão humana sobrepõe-se à questão tecnológica e por isso é sempre o factor humano que marca a diferença”, concluiu o jornalista.

Por outro lado, Ricardo Freitas, jornalista da RTP Açores no Faial, lembrou os constrangimentos com que hoje os jornalistas se deparam nomeadamente o tempo, as pressões de grupos económicos e políticos, os baixos salários e a avalanche de novos jornalistas que saem da universidade.

Já Milton Dias defendeu o rigor  na produção  das noticias, na “ditadura da pressão” e na necessidade “de uma maior regulação” como forma de valorizar o papel do jornalista.

As III Jornadas Diocesanas de Comunicação prosseguem esta tarde com mais uma mesa redonda sobre a “Verdade dos Media: a responsabilidade de espectadores comprometidos” e a conferência de encerramento, com o Pe. José Júlio Rocha sobre como Comunicar Esperança no mundo globalizado da pós-verdade.

As jornadas diocesanas de comunicação são promovidas pelo Serviço Diocesano da Pastoral das Comunicações Sociais da Igreja nos Açores.

 

 

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