“Com a vida não se brinca”, diz o Papa

Foto: Vatican Media

Francisco aborda temas da eutanásia, aborto e migrações, na viagem de regresso desde Marselha

O Papa deixou hoje críticas aos projetos de legalização da eutanásia e do aborto, sublinhando a necessidade de defender a vida em todas as suas fases.

“Com a vida não se brinca, nem no início nem no fim, não se brinca! E não é a minha opinião, é custodiar a vida. Porque depois vai acabar naquela política da não dor, de uma eutanásia humanista”, advertiu, na viagem de regresso a Roma, após uma viagem de dois dias à cidade francesa de Marselha.

Questionado pelos jornalistas que o acompanharam no voo, Francisco referiu que o tema não foi abordado hoje no encontro privado com o presidente francês, Emmanuel Macron, referindo que já o tinha feito “claramente”, em audiências anteriores.

“Desta vez não falei com o presidente, mas da outra vez sim, quando veio [ao Vaticano], dei o meu parecer, com a vida não se brinca, seja a lei de não deixar que cresça a criança no ventre da mãe, a lei da eutanásia, nas doenças, na velhice”, declarou.

O Papa lamentou a desvalorização da “vida dos avós” e dos mais velhos, reafirmando que “com a vida não se brinca”.

“Estejamos atentos com as colonizações ideológicas, que arruínam a vida humana, porque vão contra a vida humana”, apontou.

A conferência de imprensa começou por abordar a questão da migração, no centro dos Encontros do Mediterrâneo, que o Papa encerrou hoje em Marselha, com apelos a vias legais e seguras para a entrada na Europa.

Francisco disse que muitos migrantes vivem num “reino do terror”.

“Eles sofrem não apenas porque precisam de sair, mas porque lá é o reino do terror. Eles são escravos. E não podemos, sem ver a realidade, enviá-los de volta como uma bola de pingue-pongue”, apelou.

O Papa considerou que, dez anos da sua primeira viagem, à ilha italiana de Lampedusa, “as coisas melhoraram” e há maior consciências dos problemas.

“Quero dizer mais uma coisa pessoal, eu nem sabia onde ficava Lampedusa, nem isso. Mas ouvi as histórias. Li algo e, na oração, senti que precisava de ir até lá. Como se o Senhor estivesse a enviar-me para lá, na minha primeira viagem”, relatou.

Francisco elogiou o exemplo de Marselha como cidade que “acolhe”, num “mosaico criativo”, sem negar a identidade dos povos.

“Precisamos de mão de obra, a Europa necessita dela. As migrações bem conduzidas são uma riqueza, são uma riqueza. Pensemos nesta política migratória para que seja mais fecunda e nos ajude muito”, desejou.

Papa admite “frustração” com falta de avanços para a paz e fala em povo “mártir” na Ucrânia

Na resposta aos jornalistas, durante o voo de regresso a Itália, o Papa admitiu ainda que existe “frustração” no Vaticano com a falta de avanços na missão de paz para a Ucrânia, falando de um povo “mártir”.

“Sente-se alguma frustração, porque a Secretaria de Estado [do Vaticano] está a fazer todos os possíveis para ajudar”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após uma visita de dois dias à cidade francesa de Marselha.

Na última semana, o enviado especial do Papa para a missão de paz na Ucrânia encontrou-se esta quinta-feira com um responsável da diplomacia de Pequim, na China, debatendo as “consequências dramáticas” da guerra.

O cardeal Matteo Zuppi foi recebido, em julho, pelo presidente dos EUA, na Casa Branca, em Washington, tendo Joe Biden manifestado “o seu apreço pelo ministério de Francisco”.

Nos dias 28 e 30 de junho, o enviado do Papa tinha feito uma visita a Moscovo, procurando “identificar iniciativas humanitárias” para abrir “caminhos de paz”; a 6 de junho, o cardeal Zuppi reunira-se em Kiev com o presidente da Ucrânia.

Francisco comentou a “missão Zuppi”, falando em avanços “com as crianças” ucranianas que foram levadas para a Rússia, após a invasão iniciada em fevereiro de 2022.

“Esta guerra vai além do problema russo-ucraniano, é para vender armas, o comércio de armas. Dizia um economista alguns meses atrás que hoje os investimentos que dão mais lucro são as fábricas de armas, certamente fábricas de morte”, lamentou.

“O povo ucraniano é um povo mártir, tem uma história muito martirizada, uma história que faz sofrer, e não é a primeira vez: no tempo de Estaline, sofreu muito, muito, muito, é um povo mártir. Mas nós não devemos brincar com o martírio deste povo, devemos ajudá-los a resolver as coisas da forma mais real possível”.

O Papa destacou que não é tempo de “ilusões”, mas de “fazer o possível”.

“Agora vi que algum país se retrai, que não dá armas, e começa um processo onde o mártir será o povo ucraniano certamente. E isso é algo mau”, advertiu.

A deslocação a Marselha foi a 44ª viagem internacional do pontificado, tendo Francisco visitado 61 países, incluindo Portugal; a 25 de novembro de 2014, o Papa esteve na cidade francesa de Estrasburgo, para discursar perante o Parlamento Europeu e o Conselho da Europa.

(Com Ecclesia)

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