Comemoração certa e futuro incerto

Por Renato Moura

O Dia dos Açores comemorou-se este ano de forma contida, mas certa, considerando as condições às quais fomos remetidos a propósito da Covid19.

Os discursos homenagearam os profissionais com papel relevante nos últimos meses, bem assim o comportamento dos habitantes, também com justas evocações aos que nos deixaram.

Parte substancial do discurso do Presidente do Governo, apesar da forma aparentemente disfarçada, foi utilizada em elogio do trabalho do Governo e dos serviços seus dependentes, nomeadamente do Serviço Regional de Saúde. Um aproveitamento do ambiente popular agora amplamente favorável. Larga referência para dados referentes a 2019, com o intuito de realçar o sucesso da economia, cuja alusão os menos esclarecidos tomam como mérito exclusivo da governação!

E garantiu Vasco Cordeiro: “Olhar o Futuro reerguendo a Esperança e renovando a Confiança”. Depois desfiou desafios: corrigir, melhorar, mudar, repensar as formas em muitas e diversas áreas económicas, sociais e da nossa vivência colectiva. E apelou à juventude: “Para esse trabalho, para esse repensar, quase de alto a baixo, a forma como nos Açores nos posicionámos face aos nossos objectivos na Economia, na Sociedade ou no Ambiente”. Mas faltou o essencial: dizer como, mesmo que fosse em linhas gerais, o Governo projecta abrir novos caminhos para evitar um futuro incerto. Atribuir os desafios e as tarefas a todos é demasiado curto para quem governa e já diz ter, quase pronta, uma agenda para o relançamento social e económico dos Açores.

O discurso da Senhora Presidente da Assembleia teve tom marcadamente comemorativo, por ela reputado como momento privilegiado para se “enaltecer a memória, a história e a identidade de um povo”. Recordou e bem: “Ao longo de séculos, soubemos contornar as dificuldades, enfrentar as intempéries, resistir aos sismos e vulcões, combater o isolamento, e até o abandono”.

É pedagógico ter feito lembrar que a açorianidade se vive de “nove formas distintas”. A riqueza das ilhas, como vincou, faz-se das suas diferenças e complementaridades. E recordou como o Lorenzo deixou “as nossas ilhas do ocidente ainda mais longe e isoladas”.

Tudo isso e a defesa que procurou fazer do trabalho da Comissão Eventual para a Reforma da Autonomia e do Grupo de Trabalho para a revisão do Regimento, mereceriam referências positivas por quantos – e alguns eram deputados – em nome dos partidos, comentaram os discursos; mas para isso seria necessário eles considerarem o Parlamento como primeiro órgão da Autonomia.

 

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