Concilio Vaticano II deve ser revisitado para que “não passe à história”

Pe Abel Vieira orientou primeiro “tema de estudo” dos cursilhistas do Movimento de Cursilhos de Cristandade neste ano pastoral

Sem qualquer “preocupação” ou “objetivo” de aflorar temas quentes ou controversos, o Pe Abel Vieira “apresentou” esta sexta feira de forma genérica” o que foi o Concilio Vaticano II, particularmente, os documentos aprovados e a “revolução” que provocaram na organização da igreja.

”Não pretendo questionar grandes coisas nem aflorar temas quentes apenas deixo algumas notas que considero fundamentais deste período que foi o maior acontecimento do Espírito Santo na Igreja do século XX, e procurar fazer a ponte com a Exortação Apostólica do papa Francisco – A Alegria do Evangelho – que é um documento que segue esta lógica conciliar”, disse ao Sitio Igreja Açores, à margem dos trabalhos do primeiro encontro formativo de cursilhistas promovido pelo Movimento de Cursilhos de Cristandade (MCC), esta noite no Seminário Episcopal de Angra.

”É preciso evitar que olhemos – sobretudo as gerações pós conciliares –  para este período como fazendo parte da história, como os da minha geração olhavam, por exemplo, para Trento” sublinha o sacerdote, pároco de Santa Cruz, Praia da Vitória, ressalvando que “O Concílio ainda é recente, não está esgotado e tem muito para dar.”

O Pe Abel Vieira, que tem sido também o formador dos encontros de zona na ouvidoria da Terceira, sobre a Exortação Apostólica do papa Francisco, começou por fazer uma apresentação genérica do Concílio como o grande acontecimento dentro da igreja no século XX, lembrando que se tratou de um Concílio Pastoral (não dogmático) voltado para o ‘aggiornamento’, isto é, a renovação da Igreja.

Percorreu, depois as datas fundamentais que enquadram historicamente esta reunião inesperada, desde o seu anuncio em Janeiro de 1959 pelo papa João XXIII até à quarta e última sessão que teve lugar entre Setembro e Dezembro de 1965, já sob o pontificado de Paulo VI.

O Pe Abel Vieira referiu-se, também, aos 16 documentos emanados do Concílio, os quais são percorridos por um eixo eclesiológico de que resultaram quatro Constituições, essencialmente doutrinais mas sem definir novos dogmas: a Lumen Gentium, Constituição dogmática sobre a Igreja; a Gaudium et Spes, Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje; a Dei Verbum, Constituição sobre a Revelação Divina, para uma Igreja da Palavra, proclamada, celebrada e vivida; e a Sacrosantum  Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, para uma Igreja que se manifesta sobretudo na assembleia eucarística, sublinhou o sacerdote.

Deste eixo eclesiológico surgiram outros dois eixos, importantes para a orientação da igreja, recordou o sacerdote, identificando-os como os “documentos de renovação para todos” e “documentos de diálogo” com o mundo e com outras religiões, que ainda hoje são referência e constituem, talvez, um dos aspetos mais conseguidos do Concilio que é o diálogo ecuménico. De resto, os nove decretos incidem sobre questões de natureza disciplinar”e as três declarações sobre temáticas que não são da competência exclusiva da igreja, rematou o Pe Abel Vieira.

Entre os primeiros, destaque para documentos como o Christus Dominus, Decreto sobre o ministério pastoral dos bispos na Igreja; o Presbiterorum Ordinis, que é um Decreto sobre o ministério e vida dos presbíteros; o Optatam Totius, Decreto sobre a formação sacerdotal e o Apostolicam Actuositatem, Decreto sobre o apostolado dos leigos e ainda o decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da igreja ou a declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, entre outros.

Antes de iniciar o período de debate, o Pe Abel Vieira referiu-se ainda a sete conceitos desenvolvidos e fundamentais na linguagem conciliar: a importância dos Leigos, a visão da igreja no mundo, uma nova interpretação da consciência; a ideia de revelação Divina; mudanças significativas na Liturgia; a Liberdade Religiosa e a noção de uma igreja missionária.

O sacerdote lembrou que, do Concilio, ainda muito está por concretizar e, no que já se fez, há aspetos positivos e negativos”.

A renovação litúrgica, a abertura à palavra, o envolvimento dos leigos, o diálogo ecuménico ou a criação de órgãos de corresponsabilização são passos importantes e conquistas que fomos realizando ao longo do tempo, mas há outros aspectos que eventualmente precisariam de uma outra abordagem, refere ainda o sacerdote.

Esta formação orientada pelo Pe Abel Vieira foi o primeiro “tema de estudo” promovido pelo MCC neste ano pastoral. O próximo será em Fevereiro, sobre a família.

O MCC está nos Açores há mais de 50 anos e tem como diretor espiritual o Pe Júlio Rocha.

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