Congresso Internacional estuda novos modelos de seminários que formem padres para evangelizar, mais do que “sacramentalizar”

O teólogo dominicano Hervé Legrand, do Instituto Católico de Paris, afirmou hoje em declarações à Agência Ecclesia no Congresso Internacional sobre a problemática dos seminários católicos que é necessário formar padres para evangelizar, mais do que “sacramentalizar”.

“Ouvi no meu país padres a dizer: sacramentalizámos, mas não evangelizámos”, referiu o vice-presidente da Academia Internacional de Estudos Religiosos, valorizando os “ritos de passagem” de que a sociedade tem necessidade e que relaciona com os sacramentos que acompanham o crescimento de adolescentes e jovens.

O dominicano Hervé Legrand foi um dos conferencistas no Seminário Internacional “Erguendo os olhos e vendo”, que decorre em Braga, no Espaço Vita, entre os dias 16 e 19 de novembro, e é promovido pelo Seminário Conciliar de Braga, no contexto do 450º aniversário de fundação.

O teólogo lembrou que os jovens seminaristas da atualidade estão “na mesma situação dos jovens da sua geração”, que encaram com naturalidade o facto de “mudar de trabalho uma ou duas vezes na sua vida” e terão também a necessidade de “mudar muito durante a suas vidas, porque a sociedade muda muito e rapidamente”.

Hervé Legrand lembrou que não é possível “falar a todas as pessoas” e, para além dos modelos de formação dos futuros padres, “eles mesmos devem desenvolver competências diferentes porque a sociedade tem níveis sociais e hábitos diferentes”.

Para o teólogo dominicano, a comunidade é central nos processos de evangelização e, quando possível, pode identificar necessidades, avaliar, entre os seus membros, quem se acha “capaz para as desempenhar” e assumir o apelo comunitário como um “apelo de Deus”.

Hervé Legrand alertou para a necessidade de se realizaram mudanças na pastoral global, que não obriguem o padre a andar “de terra em terra” e no fim se sinta “abandonado”, incluindo a comunidade na sua organização, por exemplo com responsáveis pela oração, a catequese, a liturgia, a família.

No Seminário Internacional, o dia de hoje teve por tema “Seminário e sinodalidade: modelos” e contou com a presença de Cristina Inogés Sanz, teóloga leiga nomeada pelo Vaticano para a Comissão Metodológica da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que fez uma comunicação em torno da pergunta “continuar a formar num modelo ministerial esgoado?”.

Em declarações à Agência Ecclesia, Cristina Inogés Sanz considera o modelo ministerial “esgotado”, porque “foi criado no século XVI”.

A conferencista disse que os padres “estão a ser formados para uma sociedade que já não existe”, definida por uma “realidade social, cultural e socioeconómica que é completamente nova”.

“Há um aspeto em que o futuro sacerdote e os atuais sacerdotes não estão formados, que é saber expressar, partilhar e assumir que têm sentimentos”, afirmou.

Cristina Inogés Sanz alertou para o facto dos padres serem formados “na ausência total de mais da metade da humanidade, que são as mulheres, e depois vão-se encontrar numa Igreja onde 80% são mulheres”.

A teóloga, formada na Faculdade Protestante de Madrid, sublinhou também a necessidade dos padres assumirem “que têm uma afetividade e que têm de saber expressar os sentimentos”.

O Seminário Internacional sobre os seminários católicos analisa no terceiro dia de trabalhos os “desafios inadiáveis” que tem pela frente, contando entre os conferencistas com Alberto Melloni, Céline Béraud, D. Manuel Clemente, D. António Couto e João Manuel Duque.

(Com Ecclesia)

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