Consolidar a noção de proximidade e de serviço ao próximo são desafios diocesanos

O Igreja Açores falou com o Cónego Gregório Rocha, professor de Liturgia no Seminário e os leigos Benvinda Borges, sindicalista e Tomaz Dentinho, economista

Criar maior proximidade com o outro, fazer do poder um serviço ao próximo e promover um maior envolvimento dos cristãos na vida pública são desafios apresentados por três protagonistas da diocese de Angra ouvidos pelo Igreja Açores no momento em que termina o ano e se perspetiva 2019.

“O ano que agora termina avivou as consciências dos cristãos para estes desafios e agora, mais espicaçados, tentaremos ter uma atuação mais prática e, por isso, creio que no fundo, o grande desafio é sermos capazes de criar proximidade” disse ao Igreja Açores o cónego Gregório Rocha, diretor espiritual e professor no Seminário Episcopal de Angra.

“A grande dádiva de Deus foi fazer com que os homens olhassem uns para os outros e estarem uns para outros para se ajudarem; a nível diocesano é esta a grande prioridade: dar continuidade a esta ação de aproximação entre todos, co responsabilizando-nos uns pelos outros, para ajudar a dirimir os problemas, dificuldades, lacunas e abismos que nos impedem de viver a nossa dignidade na plenitude” afirma o sacerdote que acompanha também as Equipas de Nossa Senhora como conselheiro espiritual, bem como o Movimento dos Cursos de Preparação para o Matrimónio na ilha Terceira.

Já Benvinda Borges, sindicalista e ex dirigente do Movimento dos Cursilhos de Cristandade na diocese, sublinha que as questões sociais vão continuar a ser “prementes” na diocese.

“Os aumentos salariais são importantes, sobretudo junto dos mais desfavorecidos, mas à medida que crescem os salários há também um crescimento do custo de vida e a proporção entre o aumento de um e de outro não é similar” refere notando que nas camadas mais baixas da sociedade há muitas necessidades.

“A vida continua muito difícil para muitos dos nossos concidadãos e nós temos de ser capazes de corresponder de outra forma” acrescenta.

Tomaz Dentinho, economista e diretor do Colégio de São Francisco, na ilha Terceira, refere que “não se vê da parte de quem está na política uma atenção ao futuro, e isso cria desilusão, e se a família continua a estimular a esperança, em termos societários esse caminho não se faz”.

“O que nós verificamos é a ineficiência do Estado que não consegue colmatar vários problemas e por isso é preciso a ação da igreja e dos cristãos” que “não podem adormecer”.

“Andámos a empurrar com a barriga, com algumas boas perspectivas dos sectores produtivos como o turismo e a agricultura, mas há um aumento da dívida que faz com que haja perda de emprego e, sobretudo, muitos jovens tenham pouca esperança” acrescenta o economista e professor da Universidade dos Açores.

“A caridade não se esgota nos serviços sociais” esclarece; “é preciso atendermos ao outro de outra forma, contribuindo para uma vida mais digna pois todos temos o direito a receber o amor do nosso próximo e o dever de o levar ao nosso próximo”, afirma ainda.

“Não nos podemos acomodar ao Estado e as comunidades cristãs têm este dever de prestar serviço; é esta revolução radical que temos de fazer, acompanhando o desafio lançado pelo Papa. Muitas vezes também a Igreja perde esta noção de trabalho ao próximo, virando-se para si mesma” destaca, por outro lado recordando a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz onde o Pontífice recomenda um regresso à “boa política”, que cria a paz e serve os outros.

“Nós temos má política, da esquerda à direita: as ineficiências do Estado e dos políticos não conseguem atender aos problemas sociais, económicos e ambientais que temos”, esclarece frisando que “não se trata de criar coisas novas, trata-se de perceber que ou se muda isto ou o estado colapsa”. E exemplifica: “a desagregação da União Europeia deve-se ao facto das políticas definidas não servirem; o desinteresse dos jovens pela atividade política prende-se com o facto da política estar organizada de forma que não serve os seus interesses e não envolve a juventude”.

Por isso, conclui, “os problemas não têm cor política; envolvem-nos a todos e todos temos de dar mais e de nos empenharmos mais, combatendo o medo” e sobretudo “aqueles que o usam para manter o poder”.

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