Crise e austeridade continuam a «ferir» muitas pessoas em Portugal

Relatório mais recente da Cáritas chama a atenção para o aumento da pobreza mesmo entre pessoas com emprego

A Cáritas Portuguesa apresentou hoje em Lisboa um relatório sobre a situação socioeconómico do país, onde alerta para o aumento da pobreza, mesmo nas pessoas com emprego, e a precariedade que ameaça milhares de crianças.

Em declarações aos jornalistas, o presidente do organismo salientou “as gravíssimas situações de pobreza e de exclusão que persistem em Portugal por razões da crise” e das políticas sociais e económicas que se seguiram.

Políticas que, segundo Eugénio Fonseca, continuam a “ferir” muitas pessoas, não só as “mais vulneráveis” mas também “camadas da sociedade que não era suposto entrarem em depressão”.

“É preciso que se perceba de uma vez por todas que a austeridade, que foi tão gravosa para os portugueses, em qualquer circunstância, não é solução para o crescimento económico porque fragiliza um dos pilares do desenvolvimento que é o pilar social”, frisou aquele responsável.

O relatório da Cáritas Portuguesa 2015 segue a tendência do último ano, em que Portugal foi apontado como o país da União Europeia onde mais cresceu o risco de pobreza e exclusão social.

Entre outros pontos, o documento realça a queda na pobreza de muitas famílias que integravam a chamada “classe média”, devido a realidades como o desemprego, o trabalho temporário, o aumento dos impostos, os cortes nos apoios sociais e as baixas remunerações.

A Cáritas destaca ainda as crianças que registaram “o maior aumento de risco de pobreza”, muito devido ao “desemprego de longa duração” e ao “emprego precário” que marca o dia-a-dia das suas famílias.

Esse risco cifrava-se nos 25,6 por cento em 2013 e “com o empobrecimento crescente hoje é ainda maior”, assinalou Eugénio Fonseca, alertando para “as repercussões” que esta conjuntura poderá “ter no futuro, se não for prevenida”.

“Nós temos de resolver os problemas das famílias e isto não vai lá apenas com os fundos comunitários que estão a aparecer, na chamada Agenda 2020. Eles duram cinco anos”, lembrou o presidente da Cáritas nacional.

Eugénio Fonseca defendeu que essas verbas deverão ser aproveitadas para “criar condições estruturantes para o crescimento da economia portuguesa”.

Um processo que “tem de passar por uma dimensão mais internacional”, em que Portugal potencie mais os seus produtos e deixe de estar tão dependente “dos bens importados”, complementou.

A elaboração e apresentação do relatório da Cáritas Portuguesa foram feitas em parceria com a Cáritas Europa, que esteve representada no evento pelo seu secretário-geral, Jorge Nuño Mayer.

De acordo com os últimos números da Cáritas Europa, que realizou nos restantes Estados-membros também uma análise detalhada à sua situação, mais de 123 milhões de pessoas vivem hoje em situação de pobreza no Velho Continente, ou seja, quase 1 em cada 4 cidadãos europeus.

Jorge Nuño Mayer espera que os estudos e propostas que estão a ser feitos, ao nível das várias Cáritas europeias, possam “mostrar o rosto humano” da crise e “façam chegar a voz dos mais pobres aos decisores políticos”.

 

 

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