Cristãos têm de ser “especialistas da mansidão, humildade e amor”

Este será o mote para a preparação da Festa do Senhor Bom Jesus da Pedra que começa esta quarta feira, em Vila Franca do Campo

Os vilafranquenses e os cristãos em geral vão ser convidados nos próximos três dias, que antecedem o fim de semana do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo, antiga capital da ilha de São Miguel, a olhar para a imagem do Senhor da Pedra e a ver nela três qualidades em que “temos de ser especialistas: a mansidão, a humildade e o amor”.

Este é o desafio que o pregador, Pe João Chaves Bairos, vai lançar aos inúmeros fieis que participam nestas festas organizadas desde sempre pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo, que tem este ano um novo provedor, o presidente da Câmara Ricardo Rodrigues.

O arranque está agendado para esta quarta feira e durante os próximos três dias realiza-se o tríduo preparatório.

“Vou convidar as pessoas a olhar a Imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra, que é uma imagem de dor, de sofrimento, de alguém a quem acabou de ser infligida a dor e que está disposto, ainda assim, a dar a vida pelo outro e a partir dela vermos os sentimentos que nos transmite: a mansidão, a humildade e o amor”, disse ao Sítio Igreja Açores, o sacerdote dehoniano que dentro em breve partirá para Lisboa, onde irá colaborar nas paróquias de Carnaxide e Queijas, pertencentes à ouvidoria de Oeiras, liderada pelos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus.

“Os cristãos precisam de saber viver o sofrimento, acatá-lo com mansidão e sobretudo humildade acreditando que o amor de Jesus os ajuda a superar tudo”, acrescentou o Pe João Chaves Bairos.

Esta “é a mensagem que a imagem do Ecce Homo nos transmite e na qual nós cristãos devemos ser especialistas senão estas festas, como outras, não passarão de mero folclore religioso”, concluiu o sacerdote.

É nesta linha de pensamento que se inscreve a posição da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo cujo Provedor assegura que a “principal preocupação é que os fieis possam aproveitar este momento para se reencontrarem consigo mesmos e ponderarem naquela que é a mensagem da paixão de Cristo e o que é que ela nos pode trazer ás nossas vidas”, disse ao Sítio Igreja Açores Ricardo Rodrigues.

“As festas religiosas não são propicias a novidades, sobretudo quando se trata de uma tradição com estas especificidades,  e portanto, o que importa é que as pessoas deem um passo mais na vivência da própria festa religiosa, designadamente na procissão, na vigília e na eucaristia”, acrescentou o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo.

“Por vezes sentimos que falta um clique nas nossas vidas. Ora estas festas podem ser uma oportunidade para esse chamamento em torno da veneranda imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra, que nos recorda a paixão, o sofrimento e a forma como Jesus soube lidar com tudo isso por amor aos homens”, frisa.

“Lembramo-nos, compadecemo-nos e tornamo-nos mais emotivos e espirituais, mesmo para quem não é crente, a tranquilidade do Senhor da Pedra apesar do sofrimento, cativa-nos”, conclui sublinhando assim a importância destas festas que, sendo concelhias, chamam fieis de todos os concelhos da ilha de São Miguel e constituem um momento de grande presença dos emigrantes vilafranquenses.

As Festas do Senhor Bom Jesus da Pedra realizam-se entre os dias 26 de agosto e 2 de setembro e serão presididas pelo Vigário Geral da Diocese de Angra, Cónego Hélder Fonseca Mendes.

São das mais antigas da ilha de São Miguel e realizam-se anualmente no último fim de semana de agosto, mobilizando para a antiga capital da ilha de São Miguel milhares de fieis devotos.

A festa começa com a venda da cera às 8h00 do dia 26 de agosto e termina a 2 de setembro com um espetáculo pirotécnico, desenvolvendo-se ao longo dos dias uma série de eventos de cariz religioso e cultural.

No Tríduo preparatório a celebração é animada pelos grupos corais da ouvidoria de Vila Franca do Campo- Grupos Corais de São Pedro, de Água D´Alto e Vozes do Arcanjo- sempre com hora marcada para as 20h00, na Igreja da Misericórdia.

Nos dias 29 e 30, os principais desta festa, realizam-se as três celebrações mais importantes – a procissão da mudança (sábado); a Eucaristia e a Procissão Solene (domingo), todas presididas pelo Vigário Geral da Diocese.

A Procissão da mudança da Imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra da igreja da Misericórdia para a igreja da Matriz, será seguida de uma celebração da Palavra, pelo Cónego Hélder Fonseca Mendes e a imagem ficará até ao dia seguinte nesta igreja, onde até á meia noite os fieis permanecem em vigilia. No domingo celebra-se a Eucaristia e as 18h00 sairá a procissão solene pelas principais ruas da Vila.

“O domingo é, de facto, o ponto alto da festa com a Eucaristia, mas completada pela procissão”, diz o pároco da Matriz, igreja que acolhe a veneranda imagem na noite de sábado, depois da procissão da mudança, que coincide com a abertura das luzes do jardim.

“É lindo ver aquela multidão de homens de opa vermelha fazendo lembrar o mar vermelho, onde o povo de Deus está a caminho da terra prometida. É cor da paixão, da entrega, da vida que nos faz lembrar que somos um povo peregrino, em caminhada, a crescer espiritualmente” acrescenta o Pe José Alfredo Borges.

“Vila franca é uma vila muito bairrista e gosta de mostrar com brilho o que tem e a sua principal referência é o Senhor da Pedra que nos transmite a ideia de que maior é o que serve e esta festa serve para o crescimento espiritual do povo, quebrando a rotina no fim do verão”.

“É uma oportunidade para reaprendemos de Jesus que o maior é aquele que serve e quem assim proceder jamais será abalado e poderá consumar em si o bem, o belo e o divino”, conclui o Pe José Borges, que não sendo o capelão da Santa Casa, oficio desempenhado pelo ouvidor de Vila Franca, Pe António Cassiano, é o sacerdote que acolhe na igreja Matriz a imagem do senhor da Pedra para os dias principais da festa.

Paralelamente, está agendada uma série de eventos de cariz cultural como a Exposição de Pintura ‘Mar e Terra’ , da autoria do vilafranquense José Carvalho, a exposição de artesanato da valência da Santa Casa, C.A.O. a decorrer no consistório; a atuação da Orquestra ligeira de Vila Franca do Campo; o III Festival de Sopas do Senhor da Pedra; noite de fados com a fadista Graça Prata, José Vitor Prata (guitarra), Rui Prata (baixo) e Carlos Estrela (viola); uma serenata ao Senhor Bom Jesus da Pedra e a atuação de grupos folclóricos e bandas filarmónicas. Durante as festas haverá ainda tempo para ouvir a Tuna da Casa do Povo da Vila das Lajes, da Ilha Terceira e cantigas ao desafio.

Para a edição deste ano estão previstos, igualmente, concertos das bandas filarmónicas “Banda Lealdade” e União Progressista”, bem como a participação das filarmónicas  Sociedade Harmónica Furnense (Furnas), Filarmónica Lira do Sul (Ponta Garça) nas procissões.

As festas serão transmitidas em direto na Internet em www.spotazores.com

Não é fácil precisar em que altura começou este culto e estas festas. Sobre a imagem há uma lenda que diz que deu à costa, dentro de uma caixa de madeira, na praia do Corpo Santo, em data desconhecida. As duas imagens – a primitiva e a actual – representam a imagem do “Ecce Homo”, o Cristo coroado de espinhos, sentado numa pedra.

As festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra estão, desde sempre, a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo e realizam-se no último domingo de Agosto de cada ano, pelo menos desde 1903, data da autorização do Papa Leão XIII para que estas festividades fossem reconhecidas.

“O Santo Padre o Papa Leão XIII, atendendo às humildes suplicas, concede o privilégio, a partir do dia de hoje, de se poder celebrar, com pompa sagrada exterior, no Domingo, a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Coroado de Espinhos, como vem no apêndice do Missal Romano, na sexta-feira depois das Cinzas”, lê-se no documento da Sagrada Congregação dos Ritos.

 

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