D. António de Sousa Braga diz que a canonização do Papa Paulo VI é o reconhecimento de uma vida de “santidade e testemunho”

Francisco canoniza Paulo VI no próximo domingo. “É o meu Papa, não só porque me ordenou mas porque é o Papa do Concílio”, refere Bispo emérito de Angra

O bispo emérito da Diocese de Angra é o único membro da Conferência Episcopal portuguesa que teve a graça de ser ordenado sacerdote pelo Papa Paulo VI, em 1970 , em Roma e, a três dias da sua canonização diz que vive momentos de “grande alegria e entusiasmo”.

“A canonização do Papa Paulo VI é um grande acontecimento ao nível da igreja católica e o reconhecimento da santidade de alguém que serviu a igreja num momento difícil, de grande perturbação e sempre pautou a sua conduta por um enorme testemunho de fé” disse D. António Braga ao Igreja Açores.

O prelado, que se encontra em Munster, na Alemanha, a convite do Pe. Paulo Areias, ordenado em Angra por si em 2000, lamenta não poder estar em Roma como esteve na altura da beatificação mas não esconde a emoção, quase semelhante à que viveu há 48 anos, no dia de Pentecostes.

“Foi uma graça e, ao mesmo tempo, um momento de desbloqueio da minha caminhada, sem dúvida que Paulo VI, sem o saber, deu um `empurrãozinho´ enorme na minha decisão de ser padre” afirmou o bispo emérito de Angra, o segundo bispo açoriano que durante 20 anos liderou a diocese insular.

“Guardo uma lembrança muito forte desta ordenação. Éramos 280 diáconos e o Papa Paulo VI celebrava as suas bodas de ouro sacerdotais. Mas da sua homilia o que ficou foi a referência permanente à presença do Espírito Santo nas nossas vidas e um apelo forte a imitarmos Jesus em todas as nossas ações”, referiu ainda o prelado emérito.

Na altura, D. António Sousa Braga era estudante de Teologia, na Universidade Gregoriana, em Roma, e devia ter sido ordenado sacerdote no final do ano de 1969, mas tinha “dúvidas e algumas inquietações” que adiaram a ordenação “providencialmente”. D. António de Sousa Braga explica que a instabilidade dentro da Igreja, as reformas conciliares e os problemas que daí decorriam “faziam pensar muito” e revela que havia uma “clara divergência entre ocidentais e a América do Norte e todos os outros e isso provocava dificuldades”.

“Ainda hoje me lembro da sua homilia e continuo a rezar sempre a oração que ele nos ensinou tendo sempre presente as suas palavras: nunca tenham medo nem duvidem do vosso ministério; usem-no para fazer chegar às pessoas a graça porque quem dá a cruz dará a coragem e a força para a carregarem”, recorda o bispo açoriano sobre o ‘seu’ Papa.

“É o meu Papa, não só porque me ordenou mas porque é o Papa do Concílio”.

Para D. António de Sousa Braga, a decisão do Papa Francisco  de canonizar Paulo VI tem “imenso significado” porque foi o Papa João XXIII que teve “a ousadia de marcar o Concílio”, mas quem o terminou e teve “a coragem” de o pôr em prática “numa situação bastante  difícil dentro da Igreja foi Paulo VI”. E , apesar de considerar que os tempos são diferentes e as personalidades em causa também, não deixa de estabelecer um certo paralelismo entre os dois pontífices, pela necessidade de conversão da Igreja e da humanidade.

“Hoje vivemos tempos difíceis sobretudo numa Europa que rejeita a herança do cristianismo; mas também momentos muito desafiadores com o Sínodo dos Jovens a implicá-los nesta renovação e neste sentido de conversão. Os tempos são diferentes mas há muitas semelhanças” refere ainda D. António de Sousa Braga.

A entrevista com o prelado açoriano pode ser ouvida na íntegra no próximo domingo no programa de Rádio Igreja Açores, que vai para o ar no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio dia.

A essa hora já o Papa Paulo VI terá sido elevado aos altares da Igreja e proclamado santo.

Giovanni Battista Montini nasceu em Concesio, Bréscia, na região italiana da Lombardia, e foi ordenado padre ainda antes de completar 23 anos, em 1920, tendo feito doutoramentos em filosofia, direito civil e direito canónico.

Como padre, esteve ao serviço diplomático da Santa Sé e da pastoral universitária italiana, tendo vivido a II Guerra Mundial no Vaticano, onde se ocupou da ajuda aos refugiados e aos judeus.

Após o conflito, colaborou na fundação da Associação Católica de Trabalhadores Italianos, antes de ser nomeado arcebispo de Milão, em 1954; São João XXIII criou-o cardeal em 1958 e participou nos trabalhos preparatórios do Concílio Vaticano II.

A 21 de junho de 1963, foi eleito Papa, escolhendo o nome de Paulo VI, e concluiu os trabalhos do Concílio “entre várias dificuldades, estimulando a abertura da Igreja ao mundo e o respeito pela tradição”.

O futuro santo escreveu sete encíclicas, entre as quais a ‘Humanae vitae’ (1968), sobre a regulação da natalidade, e a ‘Populorum progressio’ (1967), sobre o desenvolvimento dos povos, tendo instituído o Sínodo dos Bispos e o Dia Mundial da Paz.

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