Dignidade para que te quero

Por Carmo Rodeia A Igreja Católica celebra por estes dias (até dia 17) a Semana da Vida, que este ano tem como tema  ‘Vida com dignidade – opção pelos mais fracos’.

Todos os dias há motivos para lutarmos por essa dignidade.

A pobreza crescente – a descarada e sobretudo a envergonhada-; os doentes; as famílias necessitadas; o desemprego; a pena de morte; o aborto e o abandono ou maus tratos a crianças ou idosos, são situações que nos exortam a pugnar por mais respeito pela dignidade humana.

Os atropelos a esta dignidade são frequentes e vêm de onde menos se espera.

Quando um Estado permite a pena de morte está a afrontar a dignidade da pessoa humana. Não faz justiça às vítimas mas incentiva a vingança e é um “fracasso” para o Estado de Direito porque “obriga a matar” em nome da justiça. Por pior que seja o crime e o criminoso, ninguém tem esse direito.

Sempre que as políticas de um estado favorecem o aumento do desemprego, a destruição de postos de trabalho e as leis laborais facilitam a precaridade isso significa perda da dignidade humana. O problema de não trabalhar não é apenas deixar de ganhar dinheiro para comer. O problema é não poder levar o pão para casa.

Quando as notícias nos dão conta dos idosos que vivem e morrem em total solidão, sem que ninguém veja, estamos perante um atentado à dignidade humana dando razão ao poeta quando diz que “morrer é só não ser visto”.

Quando os olhos vivos e impotentes de uma criança se chegam a nós, estendendo-nos a mão, vazios do que não viram nem têm e ansiosos de um futuro que esperam num sorriso, numa moeda ou num copo de leite, por detrás do que estimula gesto está um atentado à dignidade humana.

Quando uma mulher quer ter um filho e não pode porque a empresa onde trabalha a dissuade de engravidar, acenando-lhe com um amanhã precário  ou simplesmente com o despedimento, estamos perante um atentado à dignidade humana, neste caso agravada porque se viola o direito à maternidade e agravam-se as condições de aumento de natalidade.

As contas deste rosário não cabem certamente num rosário normal e os exemplos aqui já aflorados mostram como a dignidade humana é frequentemente beliscada por este ou por aquele factor.

Não há resposta para o sofrimento; não há uma explicação única para o justificar,  mas tem de haver uma ajuda para todos os que sofrem. E de uma forma próxima. Vivemos tempos difíceis onde a esperança nem sempre se veste de verde. Mas é preciso que os cristãos contribuam para uma valorização da cultura de vida, concretizando o amor a Deus e ao próximo em gestos concretos. Gestos de proximidade a um idoso, a uma criança, a um doente, a um desempregado, a uma família em dificuldade podem fazer-nos mais próximos.

Seguir Jesus é concretizar nesta vida o amor que ele nos dá. Como? Estendendo a mão que temos a cada um dos nossos irmãos. Aproximarmo-nos das periferias também é isto. Aliás, é sobretudo isto.

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