Relativismo e ausência de valores comprometem família

Os modelos de família, os problemas das famílias de hoje e os desafios futuros estiveram em análise num debate em Dia da família

O serviço Diocesano da Pastoral da Família promoveu esta noite um debate sobre a problemática da família e a oradora convidada, Maria do Céu Patrão Neves, afirmou que o relativismo e a ausência de valores comprometem a afirmação desta realidade que é indispensável do ponto de vista social.

No encontro, que assinalou o Dia da Família, e que decorreu no Centro Pastoral Pio XII, em Ponta Delgada, a professora catedrática da Universidade dos Açores lembrou que a realidade a que chamamos família se encontra hoje “numa encruzilhada de sentidos e contradições”,  quase todas elas resultantes de uma ausência de valores.

“A realidade social mudou muito e hoje tudo vale, não há bem nem mal, nem certo nem errado e por isso tudo é tratado de forma igual e nada é valorizado. Isso afeta a própria família onde tudo é tratado de igual forma”, referiu a catedrática.

A flexibilização do conceito de família- nuclear, alargada, monoparental, homo ou heterossexual, composta por dois três ou quatro membros-, com vista a aplicar-se a situações cada vez mais diversas “ torna a noção de família tão dilatada que o seu conceito se dilui e é de difícil definição na sua identidade e autenticidade, sem designar algo especifico” afirmou Maria do Céu Patrão Neves.

“De tanto querermos valorizar a familiar ,a partir de situações diversas, corremos o risco de estarmos a desvalorizar a própria noção de família”, precisou a professora universitária lembrando que estas questões levantam inúmeros desafios que passam por uma nova forma de lidar com as relações familiares.

Maria do Céu Patrão Neves sublinhou, ainda que “o meter tudo no mesmo saco.- por exemplo o matrimónio e as uniões de facto- descaracteriza a noção de família” que se depara já com muitos desafios a saber: a complexidade das relações familiares; a pluralidade dessa vivência familiar ou a instabilidade de muitas dessas relações.

A professora da Universidade dos Açores abordou ainda o tema do matrimónio e das uniões de facto; do divórcio; das relações entre pais e filhos; entre avós e netos para enfatizar que o maior problema que se coloca à família  vem da própria família, isto é, da progressiva desresponsabilização em relação ao outro e isso insere-se “numa deriva materialista e relativista em que tudo vale e nada é valorizado”.

A docente deu ainda exemplos que fragilizam as famílias: a demografia- “as famílias estão cada vez mais pequenas”- ; a geografia- “as famílias estão separadas” por causa de questões materiais, muitas vezes- a demissão- “as famílias estão estruturalmente enfraquecidas com cada um dos seus membros a valer-se de si mesmo”.

“O grande desafio é que a família assuma verdadeiramente o seu papel seja na proteção, seja no acompanhamento seja na educação” e isso “não está a acontecer e é o principal problema que a família enfrenta hoje” disse a professora de Ética.

“Está ao alcance de todos um investimento maior na família que é sempre muito mais do que o somatório dos seus membros” afirmou Maria do Céu Patrão Neves, aludindo à necessidade de “um sentido do transcendente, do diálogo, do encontro, da partilha, do perdão e do amor” como os ingredientes de uma “receita para reconstruirmos a família”.

A conferência foi comentada pela psicóloga Matilde Sabino de Sousa e pelo Jornalista José Gabriel Ávila, num debate moderado por Bento Aguiar, professor de Educação Moral e Religiosa Católica.

Matilde Sabino de Sousa lembrou que “é no seio da família que encontramos as respostas para os problemas que enfrentamos” lamentando haver “momentos chave da vida e da vivência familiar que estão a ser banalizados”.

Já José Gabriel Ávila colocou a tónica na mudança de valores que a sociedade impõe substituindo valores como o altruísmo, o cuidado do outro, a responsabilidade, pela riqueza, pelo sucesso ou pela ascensão social.

Esta iniciativa insere-se no âmbito das comemorações diocesanas da Semana da Vida, sob o lema “Há vida há futuro”.

Na ouvidoria de Vila Franca do Campo, hoje, pelas 20h00, no Salão Paroquial da Matriz de São Miguel Arcanjo, realiza-se uma conferência sobre “Pais e filhos: relações e ralações” por Adolfo Fialho, professor da Universidade dos Açores, seguida da apresentação do “Projeto de sensibilização à sociedade sobre a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais”, por Flávia Medeiros.

No dia 18, Sábado, realiza-se a Festa da Vida que reunirá os adolescentes do 8º ano da catequese de toda a ouvidoria, no Centro Missionário de Ponta Delgada, dirigido pelos padres do Coração de Jesus (Dehonianos), entre as 13h00 e as 18h00.

No dia 19, pelas 19h30, Celebração da Festa da Família, com Eucaristia na Igreja Matriz, seguida de arraial com atuação do Grupo Folclórico de S. Pedro e de artistas locais.

De acordo com o casal responsável pelo Serviço Diocesano, Silvia e Manuel Francisco Sousa, a Semana da Vida é  uma celebração importante “enquanto tempo de reflexão sobre os problemas da Família, sobre a sua importância na construção e transformação da sociedade e da Igreja”.

 

 

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