E se as prendas não fossem só materiais?

Por Renato Moura

Já é outra vez Natal! O ano passou tão depressa! Só que o tempo, e tudo quanto nos toca, depende das circunstâncias e da visão de cada um.

Um ano longo para a pandemia, curto para as realizações. Interminável na doença e passou sem nos darmos pela saúde. Saudoso nos distanciamentos e conflituoso nos confinamentos. Tempo a mais sem saber como gastar e mal aproveitado para meditar. Tanto a esperar e tão pouco a dar. Muito individualismo e pouca sociedade. Ter-se-á corrido depressa sem chegar perto.  Esperanças ilimitadas que desembocaram em angústias incompreendidas. E quando o susto estorva o ânimo? E se as ameaças impedem os empreendimentos?

Para alguns foram incontáveis as certezas e para outros quase só houve dúvidas. A arrogância exibiu-se ao lado da humildade. Quantas vezes na mesma pessoa convive a fácil e mordaz crítica ao vizinho, com o incontido exagero do louvor próprio. Certamente se correu de mais pelo dinheiro e de menos pela virtude. Poupança na coragem fez medrar os medos. Os deveres puderam ser preceito e cumprimento, como fuga e aproveitamento. Culpas de uns que morreram solteiras, e julgamentos de alguns na praça pública ou sem fundamento.

As concretizações foram parente pobre na abundância das promessas. Demasiado poder e diminuto serviço. Na política uns abominam os excessos da esquerda e outros temem o avanço da direita. Convicção nas próprias capacidades a mais e crença em Deus a menos.

Para alguns nem a migalha do salário mínimo caída da mesa dos vencimentos de milhões de outros. Na desigualdade da partilha humana, contrária à de Jesus, uns empanturraram-se com os peixes e os outros nem provaram os pães.

Pondo em comum dúvidas e convicções, como as prendas de Natal não são apenas materiais, socorro-me da brochura “Rezar no Advento” das Edições Salesianas, partilhando esta oração: “Ó Deus, dá a Tua paixão pela justiça aos que governam a nossa terra. Ajuda os que têm poder a governar com sabedoria e com compaixão para que os pobres e os frágeis sejam sempre tratados com justiça. Abre os seus ouvidos aos gritos daqueles que foram enredados em armadilhas de pobreza, abuso e violência. Dá-lhes a sabedoria para procurar soluções e coragem para fazer o correcto, mesmo se não é popular”.

Que a comoção e felicidade da vinda do Menino não se fique apenas no Natal. Jesus vem e fica sempre perto. Se deixarmos a Sua luz impregnar os espíritos, melhor se verão os vários ângulos de cada análise e os mais rectos caminhos para as decisões; de todos.

Desejos de íntegro Natal.

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