Especial: 2018 em revista

Jornalistas abordam principais acontecimentos ligados às áreas da Religião, Mobilidade, Política, Justiça, Europa, Ambiente e Desporto

2018 chega ao fim e com ele surge a análise dos principais acontecimentos destes 12 meses. A ECCLESIA foi ao encontro de jornalistas de vários meios de comunicação para traçar um retrato do ano, nas áreas da Religião, Mobilidade, Política, Justiça, Europa, Ambiente e Desporto.

Vaticano

O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros do clero marcou o ano do Papa Francisco, em particular nas suas viagens ao Chile e à Irlanda. As acusações do antigo núncio apostólico em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano, deram o mote a uma campanha a pedir a renúncia do pontífice, apoiado nesta circunstância por conferências episcopais de vários países, incluindo Portugal.

“É um desafio, mas creio que o Papa está à altura deste desafio”, refere à Agência ECCLESIA Bárbara Wong, jornalista do Público, para quem Francisco está a ser o “motor” de uma mudança “necessária, que atrai até quem está fora da Igreja Católica e gera algumas resistências no seu interior.

O atual pontífice tem proposto uma Igreja de “portas abertas” para acolher “todas as pessoas que andam à procura”, assinala a jornalista.

A assembleia do Sínodo dos Bispos dedicada às novas gerações (outubro de 2018) é outro acontecimento em destaque, com uma mensagem de confiança nos jovens.

“Na Comunicação Social, muitas vezes, são estas pessoas que acabam por ser mais ouvidas, do que propriamente os outros 90% que estão ao lado do Papa e que acham que o que o Papa está a fazer é muito importante, e que seguem o Papa”.

Migrações

Catarina Santos, jornalista do Observador, tem sido premiada pelo seu trabalho de acompanhamento da realidade dos refugiados. Em entrevista à Agência ECCLESIA, lamenta que 2018 tenha trazido uma Europa mais fechada, com o regresso “em força” de termos como “ilegais”, para falar de quem deixou a sua terra em busca de uma vida melhor.

O surgimento de Governos populistas levou a situações como as que envolveram o navio Aquarius e a dificuldade de encontrar um porto seguro, a caravana que ruma aos EUA ou a recusa de vários países em assinar o Pacto Global por migrações seguras, em Marraquexe,

“Estamos a chegar aqui a um ponto de absurdo, mas em que o absurdo está a ganhar eco, parece-me assustador”, sustenta a entrevistada.

Outra forma de mobilidade é o Turismo, que precisa de “regulação” para que tudo funcione e se evitem “choques” com a população local.

Política

Eunice Lourenço, jornalista da Renascença, diz que o ano viveu entre as polémicas de 2017 – Tancos e os incêndios – e a perspetiva de um ano eleitoral em 2019. Desfeitas as dúvidas sobre a “durabilidade” do executivo socialista, em minoria no Parlamento, o ano eleitoral vai colocar em causa o “discurso de sucesso” de António Costa

“O Executivo acaba este ano com muitas greves, com muita contestação corporativa”, observa, evocando ainda a questão do conflito com os bombeiros, “sem se perceber muito bem como é que isto se vai solucionar”.

“2018 foi ainda muito marcado por dois casos de 2017: por um lado, o caso de Tancos, que continua a ser esse enigma de Estado, por resolver, apesar das insistências do presidente da República; e o caso dos incêndios”.

Justiça

No ano em que a Procuradoria-Geral da República disse “adeus” a Joana Marques Vidal, “corrupção” foi a palavra-chave a vários níveis, desde a operação LEX a casos que atingem clubes de futebol ou a personalidades políticas.

“Foi um ano muito rico, se assim podemos dizer, em casos mediáticos”, refere Inês Pereira, jornalista da TVI.

A especialista falou num reforço da confiança no sistema judicial, com a sociedade a poder testemunhar a “coragem” que a Justiça tem para ir a todas as áreas.

“Ninguém é impune”, observa.

Para a jornalista, “a justiça sempre funcionou, está é mais mediática”.

Europa

A nível europeu, o ano ficou marcado pelo “Brexit” – uma saída que parece um labirinto sem saída e que para o jornalista Leonídio Ferreira, do Diário de Notícias, representa um “alerta” para eventuais desistentes, no futuro, mas deixa “riscos” de crise económica no presente.

“Não é uma saída qualquer, primeiro que tudo, porque é a primeira vez que um país saí da União Europeia, o que significa que aquele projeto de construção de unidade europeia, a que tantos países aderiram, incluindo Portugal, e que era uma promessa de desenvolvimento – e tem sido – tem uma desistência”, realça.

Outras questões, como a dos refugiados, mostraram uma União Europeia com “pouca unidade entre si”.

“2018 mostrou mais uma vez que é melhor um projeto europeu, um projeto que garantiu a paz desde que a acabou a II Guerra Mundial, um projeto que dá liberdade de circulação, que traz a possibilidade de iniciativas tão bonitas como o Erasmus. É algo que vale a pena preservar”.

Ambiente

Carla Castelo, jornalista da SIC, recorda o “grave episódio de poluição no Tejo”, no início de 2018, como exemplo da nova atenção que as questões ambientais merecem: “Foi um acontecimento exposto por um cidadão anónimo, que se preocupa com o Rio, e pede explicações. Esse lado parece-me interessante”.

Por outro lado, acrescenta, “é um daqueles casos recorrentes, infelizmente, neste caso com uma visibilidade bastante grande, acaba por não ter respostas quase nenhumas”, sem arguidos constituídos ou sequer se houve crime.

Outro tema em destaque foi a contestação ao chamado “furo de Aljezur”, a luta da população do Alentejo e do Algarve contra a prospeção e exploração de petróleo.

A nível internacional, aconteceram uma série de “fenómenos extremos”, como os incêndios na Grécia e na Califórnia (EUA), com muitos mortos, a que os especialistas chamam o “novo normal”, com as alterações climáticas, originando “secas muito mais prolongadas e intensas”.

Carla Castelo adverte ainda para o surgimento de lideranças políticas que “contradizem o conhecimento científico”, na área do Ambiente, “por ignorância ou, mais provavelmente, por má-fé”.

Desporto

A nível desportivo, 2018 foi um ano marcado por vários episódios negativos, como admite Rui Miguel Tovar, jornalista do ‘i’. As manchetes foram muitas vezes feitas pelos aspetos mais negros do futebol português, “os emails, os árbitros, as apostas” ou a violência.

A invasão da Academia leonina é mesmo vista como “o episódio mais negro da história do Sporting e um dos mais negros do futebol português”.

Rui Miguel Tovar prefere, no entanto, valorizar mais o que se passa “dentro de campo”, elogiando o título do Futebol Clube do Porto, “um campeão surpresa”, bem como a vitória do Desportivo das Aves na final da Taça de Portugal.

O especialista sublinha ainda o impacto da carreira de Miguel Oliveira, vice-campeão mundial de Moto2, para despertar o interesse da população noutras modalidades.

(Com Ecclesia)

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