“Esta caminhada simboliza um pouco a vida”

Cerca de 100 jovens, acompanhados de alguns adultos, sobretudo  professores, fizeram a sua romaria quaresmal.

A 13ª romaria escolar da quaresma realizou-se este sábado, reunindo toda a comunidade escolar de Ponta Delgada num percurso entre a Escola Secundária das Laranjeiras e a Igreja da Várzea.

 

Jovens e adolescentes, do segundo ciclo ao secundário, caminham 30 quilómetros, numa experiência que pretende lembrar as romarias quaresmais dos Romeiros de São Miguel e, ao mesmo tempo, “lançar uma semente para a fé”.

 

“Esta caminhada que representa algum esforço simboliza a nossa vida que é também uma caminhada que exige sacrifícios e apresenta dificuldades. Com fé conseguimos superá-las de uma forma mais fácil. É este, sobretudo, o sentido desta experiência”, disse ao Portal da Diocese António Canotilho, professor de educação física na Escola Canto da Maia, que juntamente com a mulher, esteve na origem desta romaria escolar.

 

“Há 13 anos quando o meu marido foi romeiro pela primeira vez senti uma “boa inveja” e organizei com os meus alunos de desporto uma romaria para lembrar a dos romeiros. Com a graça de Deus foi crescendo e hoje estamos aqui”, referiu ao Portal da Diocese Gabriela Porto, também professora de educação física na Escola Secundária das Laranjeiras, onde estas romarias se realizaram pela primeira vez.

 

Aliás, este sábado, para muitos foi também a primeira vez. Adultos e jovens, rapazes e raparigas, aceitaram o desafio “de andar”.

 

“A religião não ocupa muito do meu tempo, mas acredito em Deus e quero mudar alguma coisa na forma de pensar” disse ao Portal da Diocese Ricardo que com 16 anos, sublinha que participa nesta romaria com um misto de curiosidade e missão.

 

“Pediram-me para rezar por uma pessoa que morreu mas eu também quero rezar por mim e, sobretudo, ter uma conversa com Deus para ver se ele existe mesmo”, concluiu este adolescente que participa na romaria com mais dois colegas que partilham a ideia de que “ a experiência sendo nova vai ser boa e podemos pedir a Deus que olhe por nós e nos ajude na escola”.

 

Mais experiente, Joana que há quatro anos participa nesta romaria escolar, diz que o importante “é caminhar sempre em frente”.

 

“Julgo que lançamos a semente e ela há de lá ficar” reconhece Gabriela Porto.

 

O objetivo da romaria é duplo: preservar e valorizar as romarias quaresmais, únicas no país, do ponto de vista cultural e patrimonial, mas assinalar também “que a fé é importante”, lembram os organizadores.

 

O responsável pelo Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral escolar em São Miguel, Bento Aguiar, professor de educação moral e religiosa católica na Escola Secundária Antero de Quental, juntou-se ao casal Canotilho para dar outra dimensão a esta romaria que este ano volta a contar com a participação de todas as escolas de Ponta Delgada e também de seis irmãos do Rancho de Romeiros de São Pedro, que orientam a romaria.

 

São eles que fazem as entradas, as saídas nas várias igrejas e propõem as orações, as cantadas e as paragens de reflexão e meditação.  Na liderança do grupo está o Mestre de São Pedro.

 

Nas primeiras palavras que dirige a este rancho misto improvisado por um dia, Carlos Costa diz que cada “um tem que ser responsável por si. A auto disciplina, na romaria como na vida, é fundamental” porque deve ser “divertida” mas também “refletida”.

 

Na hora da partida, as preocupações centram-se no percurso. Além de longo é sinuoso e apresenta problemas de segurança porque se trata de uma estrada regional estreita e com muitas curvas.

 

A metáfora, uma vez mais, não podia ter sido melhor escolhida.

 

“Se no fim fossem só facilidades e brincadeira ninguém tirava nenhuma lição” frisa António Canotilho que tal como o mestre romeiro considera que as romarias “têm de ir para além” do aspeto cultural, que sendo importante, não pode esconder outros.

 

Opinião partilhada por Luís Toste. Avô do Francisco, aluno da Escola Roberto Ivens, participa também, pela primeira vez, numa iniciativa deste género. “Como é que eu podia recusar o convite do meu neto? Acho que o percurso é longo mas quando ele estiver cansado, levo-o às cavalitas”.

 

“Espero que tudo corra bem e que estes jovens possam aprender alguma coisa. Para mim é uma novidade. Fiz a minha 14ª romaria na primeira semana da Quaresma, agora faço a minha primeira romaria escolar com estes jovens e vou certamente aprender muito com a espiritualidade deles”, antecipou ao Portal da Diocese Rogério Medeiros, irmão do rancho de São Pedro.

 

“É uma caminhada de fé que pode despertar muita coisa nestes jovens”, conclui.

 

A romaria escolar de Ponta Delgada saiu da Escola Secundária das Laranjeiras, fez a sua primeira paragem no alto da Mãe de Deus, onde se incorporaram mais pessoas e termina na Várzea, com uma celebração eucarística presidida pelo Pe Marco Sérgio, depois de uma paragem para almoço nas Feteiras.

 

Em toda a ilha de São Miguel as diferentes escolas dos restantes cinco concelhos organizam a sua própria romaria neste tempo de Quaresma.

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