O bispo de Angra celebrou a Missa da Ceia do Senhor no Estabelecimento Prisional de Angra e lavou os pés a reclusas de diferentes nacionalidades

O bispo de Angra deslocou-se hoje ao Estabelecimento Prisional de Angra para a celebração da Missa da Ceia do Senhor com as reclusas a quem convidou a olhar o futuro “com esperança e compromisso renovado”.
“Este estabelecimento pode ser um lugar de esperança e aqui vivem santos e podem fazer-se santos” afirmou D. Armando Esteves Domingues desafiando a descobrir a verdadeira amizade com Deus “a partir dos seus gestos”.
“O lava-pés que hoje faremos toca corações e vidas: muda quem lava mas também alivia as pessoas a quem são lavados os pés, convidando-as a repetir estes gestos juntos dos irmãos”, afirmou o prelado às 18 mulheres reclusas nesta cadeia, a única nos Açores a ter população feminina.
“Na missa, o Senhor lava-nos os pés quando nos perdoa, lava-nos quando nos dá um abraço de paz no irmão que está ao nosso lado, quando confia em nós convidando-nos para o comungar ou quando diz vai em paz, sê novo, muda o ambiente onde estás”, disse o bispo de Angra que foi acompanhado pelo grupo de voluntários do Estabelecimento Prisional bem como do Capelão, padre Marcos Miranda, que animou a celebração. Também esteve presente o Diretor do Estabelecimento prisional bem como a equipa técnica que o acompanha.
“Cristo quer ser tudo nas nossas células todas, na nossa vida por inteiro. Ele não quer ninguém triste, desanimado, sem esperança, ninguém impuro, no pecado ou no desânimo. Ele quer-nos filhos de Deus, dignos”, salientou ainda o prelado diocesano que nas primeiras palavras que dirigiu às reclusas apresentou-se como portador da “proximidade do Papa e da Igreja, de toda a diocese de Angra”.
“Falar de esperança nestes tempos pode parecer um disparate, mas a Igreja teve a coragem de nos chamar a todos a sermos peregrinos da esperança neste Ano Jubilar, que se desenrola no meio de tragédias imensas em tantas partes do mundo” prosseguiu o prelado diocesano, que celebra com alguma regularidade nos estabelecimentos prisionais dos Açores, e aqui gravou a mensagem de Natal de 2024.
Durante toda a celebração, D. Armando Esteves Domingues procurou explicar cada gesto e cada leitura, afirmando que a “Páscoa é a grande festa dos cristãos” e hoje, nesta Quinta-feira Santa, Jesus dá a conhecer o seu testamento : “a Eucaristia com o pão e o vinho e a caridade com o lava-pés”.
“Nunca deixeis morrer a esperança. Que deixareis como testamento? O mesmo que Ele: amai-vos como eu vos amei” ou “amai-vos como Jesus nos amou”!”, disse ainda.
“Vamos fazer a experiência desta Sua presença, aqui, connosco. Tentemos reviver essa Última Ceia vivendo esta, onde se renova esperança na força do amor”, concluiu.
Denise Veríssimo, é uma das reclusas do estabelecimento prisional. Fez a primeira leitura e está neste momento a preparar-se para ser batizada.
“A vida aqui dentro não precisa de ser um sufoco. Momentos como estes são muito importantes para nos devolverem a esperança”
Edimeia Brito, de Cabo Verde, afirma, por seu lado, que viveu esta celebração de forma emocionada.
A”A esperança é o que mais aliemnta os nossos dias, sobretudo a esperança que nos possa conduzir a uma vida fora da cadeira, reconstruída com as nossas famílias”.
Para o Diretor do Estabelecimento Prisional, estes momentos ajudam a humanizar ainda mais estes espaços.
“É um momento que junta toda a comunidade e isso é importante. Há gente que todos os dias acrescenta valor a este lugar, desde os funcionários à própria comunidade que ajuda a suprir muitas vezes car~encias que possam existir” referiu José Pereira.
D. Armando Esteves Domingues dá assim seguimento à mensagem da Quaresma onde desafiou os açorianos a terem como guia neste tempo “a lista dos mais necessitados de esperança”, que o Papa Francisco indica na Bula de proclamação do Ano Santo 2025, entre os quais os presos e “os jovens que, muitas vezes, infelizmente, veem desmoronar-se os seus sonhos”.
O prelado une-se assim ao Papa Francisco, que ao longo do seu pontificado tem celebrado a Missa da Ceia do Senhor em diferentes estabelecimentos prisionais italianos, lavando os pés a reclusos e reclusas católicos e de outras confissões religiosas, e que iniciou o Jubileu 2025 com a abertura de uma Porta Santa na Igreja do Pai Nosso, na prisão de Rebibbia, em Roma. Ainda hoje, o Papa visitou o Estabelecimento Prisional Regina Coeli, em Roma e encontrou-se com 70 reclusos que estão a frequentar as catequeses promovidas pelo capelão do estabelecimento prisional.
No ano passado o Bispo de Angra optou por lavar os pés a doentes institucionalizados nas casas de Saúde de São Rafael e do Espírito Santo, na ilha Terceira, onde estão internados doentes com patologias do foro psiquiátrico.
Mais logo, presidirá também à concelebrar na Sé, a onde presidirá a todas as celebrações destes três dias tão importantes do calendário litúrgico.
A celebração da Paixão, esta sexta-feira Santa terá lugar às 15h00, com o tradicional momento de adoração da Cruz. Segue-se uma Via-sacra e depois a Procissão do Senhor Morto, pelas ruas da cidade de Angra do Heroísmo, reunindo todas as paróquias da cidade.
No Sábado Santo, a Vigília terá lugar ás 21h00, com transmissão em direto na RTP Açores.
A Eucaristia de Domingo de Páscoa, pelas 11h00, também terá transmissão em direto pelo canal público de televisão no arquipélago.