Estilo bombástico

Por Renato Moura

Conhece-se a velha afirmação: notícia não é o cão morder o dono, mas o dono morder o cão! Conta-se e é curioso e esclarecedor, que o responsável de uma estação de rádio estava preocupado, pois tinha a convicção de a sua emissora ter curta audiência. Para testar, fez sair uma notícia bombástica: ter-se-ia escapado um animal feroz de um jardim zoológico e andava à solta pela cidade, aconselhando-se o regresso das pessoas a casa, para se protegerem. Minutos depois, através da janela do estúdio viu-se uma corrida desenfreada de pessoas, à procura de segurança. Afinal a rádio era ouvida, mas não inventando notícias bombásticas, dela não se falava na opinião pública!

Há meios de comunicação social a reger-se pelo estilo bombástico; talvez mais do que parece. E generalizam-se práticas: procurar as notícias expondo mais desgraças; revelar escândalos, alguns sem confirmação; entrevistar pessoas gravemente afectadas por fogos ou guerra, precisamente no auge do desespero, debilitadas física e emocionalmente para alinharem as palavras!

Há alvos preferenciais, um deles a Igreja. Antes era notícia haver escândalos de pedofilia dentro da Igreja, enquanto se acusava de nada se promover para apurar e punir. Agora estão a obter-se dados preocupantes. Servirão, em nome da verdade, para ilibar alguém hipotética ou injustamente acusado; mas sobretudo para julgar e punir os responsáveis de crimes hediondos contra crianças e jovens. Quis-se abater a Igreja por não averiguar; parece agora abstruso querer abatê-la se se descobrir clérigos ou pessoas dentro das suas organizações, porventura com elevados cargos e condenáveis acções ou omissões, prefigurando elevadas responsabilidades, se o objectivo é promover o seu julgamento, com as devidas consequências dentro da própria Igreja e nos tribunais judiciais do Estado.

A Igreja merece ser louvada por depurar-se: de membros e de práticas. Melhor teria sido muito mais cedo, mas como reza o ditado: antes tarde que nunca.

Como quase sempre, as melhores iniciativas vêm do Papa Francisco. Em Fevereiro de 2019 encabeçou uma cimeira com bispos de todo o mundo, iniciando um movimento para apuramento de responsabilidades e protecção de menores; imparável! Em Portugal, foi relevante a criação da Comissão Independente para receber denúncias e apurar factos, partindo daí para as promoções legais.

O bombástico vaticínio incerto do Papa estar à beira da renúncia, certamente não visa o bem da Igreja e muito menos da defesa dos homens e mulheres de todo o mundo e de todos os credos.

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