“Exigir determinadas condições sobre o que Deus quer fazer de mim é querer mandar em Deus”

Ruben Pacheco será a partir de sábado o mais novo sacerdote dos Açores, ordenado pelo Bispo de Angra. Com 24 anos, diz-se preparado para enfrentar a nova missão… que afinal é a mesma de sempre : “levar Cristo a todos”

Portal da Diocese  (PD)- Que  sentimento o invade nesta altura, em que chega ao fim de um ciclo que marca o inicio de um novo ciclo bem mais exigente?

Ruben Pacheco (RP)- É-me muito difícil descrever o sentimento que me invade nesta altura, a poucos dias de ser ordenado. Por um lado,  a alegria e o entusiasmo de se aproximar a concretização de um sonho. Por outro, o receio normal de quem vai abarcar uma nova missão, nunca sabe completamente o que Deus tem preparado, o que virá a seguir e se vai correr bem.

 

PD- O desafio maior ainda está para chegar. Como é que encara esta nova etapa de vida?

RP- Esta etapa de vida para mim é exatamente como a definiu, nova. E como algo novo, esta etapa possui ansiedade e receio mas, também, tem muita novidade e surpresa e também uma descoberta e aprendizagem.

 

PD- Qual é o seu principal receio?

RP- O meu principal receio é estar fechado à graça e ação de Deus na minha vida e no exercício do ministério e de não conseguir reconhecer a Sua vontade.

 

PD- Esteve seis anos no Seminário. Sente-se preparado para enfrentar os desafios que se colocam a um líder de uma comunidade paroquial?

RP- É impossível alguém sentir e estar plenamente preparado para uma tarefa se nunca a experimentou antes, assim como alguém que começa uma nova missão e tarefa, seja ela qual for. Contudo, se não fosse o percurso no Seminário de Angra não me sentiria minimamente preparado e agradeço a Deus todo o trabalho e dedicação que o Seminário teve para comigo.

 

PD-  Há um professor seu que diz que, em certo sentido, o seminário serve para formar padres, não Doutores. Considera que teve uma boa formação para enfrentar com tranquilidade o ministério sacerdotal?

RP- A principal missão do Seminário é formar padres. Se o Seminário não formasse bem os seus alunos não teríamos bons sacerdotes. Por isso, acredito que a formação que o Seminário me ofereceu nos vários aspetos pastoral, espiritual, humano e científico foi muito boa para possuir bases para começar bem o ministério sacerdotal.

 

PD- No último Conselho Presbiteral foi unânime a preocupação da hierarquia diocesana em dedicar mais tempo a acompanhar os sacerdotes mais novos que muitas vezes chegam às paróquias e são como que abandonados. Já fez trabalho “de campo”, tem esta noção?

RP- Pela partilha de alguns testemunhos de colegas de seminário que já são sacerdotes, creio que quando entramos na paróquia temos como primeiro impulso pensar que ainda continuamos a viver no Seminário, pois estivemos no Seminário no mínimo 6 anos. O Seminário terminou a sua tarefa e não nos poderá acompanhar pois já concluiu a sua missão para com os sacerdotes e tem que cuidar dos ainda seminaristas. Mas acredito que os sacerdotes com mais experiência e os colegas de zona não deixarão abandonados os mais novos.

 

PD-  Que tipo de acompanhamento gostaria de ter nestes primeiros tempos da sua ordenação?

RP- Nos primeiros tempos pós ordenação gostaria de sentir o apoio, quer dos colegas sacerdotes da zona onde irei ser pároco, quer dos meus paroquianos.

 

PD- Hoje ser padre é diferente do que era há algum tempo atrás. As populações são mais esclarecidas e exigentes. Mas ao mesmo tempo também mais indiferentes e menos comprometidas com a religião e sobretudo com a igreja. Ciente destas dificuldades qual vai ser a sua estratégia?

RP- Por mais esclarecimento e exigência que as populações possuam e mesmo que estas estejam menos comprometidas com a religião e com a Igreja, todas possuem o desejo de alcançar a Deus. Não se pode ficar indiferente a esse sentimento e a esta semente de “fé”, aproximando e fazendo parte da vida das populações para aproveitar tudo de bom que possuem para fazer caminho e crescer.

 

PD- É um jovem com 24 anos. Neste primeiros tempos de ordenação que tipo de paróquia gostaria de liderar?

RP- É-me indiferente o tipo de paróquia que gostaria de liderar. Deus quando envia, não envia para um grupo específico mas para todos sem distinção, e exigir determinadas condições sobre o que Deus quer fazer de mim é querer mandar em Deus. Para mim as paróquias que gostaria de liderar são aquelas que Deus me colocar por meio do Bispo, pois são para estas e não para outras que Ele precisa de mim.

 

PD- No último Conselho Presbiteral falou-se muito da Exortação Apostólica do Papa Francisco. Na Alegria do Evangelho ele interpela muito os sacerdotes. Como é que vê estas interpelações e como é que as vive?

RP- Vejo estas interpelações como um incentivo para que os sacerdotes vivam a sua missão de pastor e continuem a zelar com ardor pelo rebanho confiado.

 

PD- Será o 52º sacerdote a ser ordenado pelo atual Bispo de Angra, o decano dos bispos portugueses. Como vê a organização da Igreja nos Açores?

RP- Sobre a organização da Igreja existente nos Açores acho que é única, especial e muito interessante, pelo facto de ser uma diocese que possui variedade e especificidade. Só o facto de numa diocese estarem 9 ilhas completamente diferentes entre si é algo digno de se destacar.

 

PD- Qual é para si o principal desafio diocesano dos próximos tempos?

RP- Para mim o desafio diocesano dos próximos tempo é e será o mesmo que foi desde o princípio do Cristianismo: levar a mensagem e a presença de Cristo a todos.

 

(nota de redação: a entrevista ao diácono Ruben Pacheco segue a mesma estrutura da entrevista realizada ao então diácono Bruno Espínola, ordenado sacerdote, na Igreja Matriz de Santa Cruz da Graciosa, no passado dia 13 de julho)

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