“Há uma nova franja de pobres que nos preocupa”, afirma presidente da Cáritas da ilha Terceira

Este domingo celebra-se o 8º Dia mundial dos pobres com um reiterado pedido do Papa para que olhemos o pobre na sua dignidade humana

Foto: Igreja Açores/Arquivo

Rezar com o pobre é o grande apelo da mensagem do Papa Francisco para o 8º Dia Mundial dos Pobres, que se celebra este domingo, e que a Presidente da Cáritas da ilha Terceira traduz como “presença e acompanhamento”.

“O que o Papa nos pede é que estejamos juntos dos pobres e olhemos para eles para além das inúmeras problemáticas que envolvem as suas vidas. Para além das questões materiais, importantes, há que ver que o pobre é uma pessoa que vai para além das suas circunstâncias e a oração ajuda-nos a estar sensíveis à sua dor, a estarmos perto deles” afirma Maria do Natal Sousa numa entrevista ao programa Igreja Açores que vai para o ar este domingo, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

O desafio do Papa aos crentes é que leiam o texto bíblico “nos rostos e nas histórias dos pobres que encontramos no nosso dia-a-dia, para que a oração se torne um modo de comunhão com eles e de partilha do seu sofrimento”.

O Papa pede a cada crente que reze pelas necessidades dos pobres. E que traduza a sua oração em gestos concretos de atenção aos que sofrem. Contudo, adverte o Papa, “a caridade sem oração corre o risco de se tornar uma filantropia que rapidamente se esgota”, pode ler-se na mensagem do Sumo Pontífice para o 8º Dia Mundial dos Pobres.

“Este é, sem dúvida, o maior desafio: a aceitação do pobre quando ele está ligado a uma problemática social diferente. Muitas vezes não conseguimos ver a pessoa para além da sua ação e do seu comportamento e se eu não conseguir ver essa pessoa para além disso não a conseguirei ajudar e ela não consegue sair da pobreza”, explica Maria do Natal Sousa.

“Ainda temos dificuldade em aceitar a pobreza para além da pobreza económica e os pobres acabam por sofrer uma dupla exclusão” refere.

“Quando ajudamos alguém o nosso objetivo deve ser levar a pessoa a sair desse ciclo de pobreza, olhando o pobre como um irmão e não apenas como um outro que temos de ajudar”, diz ainda.

Há um ano à frente da direção da Cáritas da ilha Terceira, Maria do Natal Sousa afirma que a instituição tem procurado estar ao lado de quem precisa e ao lado das entidades que no terreno procuram ajudar.

“Estamos perto dos pobres e daqueles que com eles trabalham; cooperamos com todos”, diz ressalvando que tem sido uma “ação bastante intensa” com desafios “permanentes”. Embora a ação da Cáritas seja cada vez mais preventiva, apostando na educação e capacitação de pessoas vulneráveis, com uma atenção especial a crianças e jovens em risco, o trabalho de emergência não deixa de ser feito.

“Cada vez mais as problemáticas são sistemáticas e difíceis e hoje a pobreza não é só a falta material. Ela está associada a outros fatores de exclusão como as dependências e há um grupo emergente que nos está a preocupar” refere Maria do Natal Sousa.

“Temos novos desafios com pessoas que tinham a sua vida equilibrada e, de repente, por uma situação de saúde ou situação financeira não conseguem superar dificuldades e mesmo sendo trabalhadores e tendo alguns rendimentos, não conseguem fazer face às suas despesas. Temos aqui uma nova franja de pobres e isso preocupa-nos e é um desafio da nossa intervenção diária”, conclui.

No próximo dia 30 de novembro, de manhã haverá uma missa na Sede da Cáritas da ilha Terceira, presidida pelo bispo de Angra, que será um Dia Aberto para que as pessoas possam conhecer o trabalho Cáritas. Nesse dia será lançada em termos regionais a campanha anual de «10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz».

A Cáritas Portuguesa convida os portugueses a participarem nesta iniciativa que é universal, através da compra de uma “vela estrela” de cor branca ou vermelha, disponível por apenas 2 euros.

Dos valores recolhidos, 65% destinam-se a financiar ações de impacto social em Portugal, enquanto os restantes 35% suportam o Fundo Lusófono Laudato Si, que financia projetos de Ecologia Integral nos países de língua oficial portuguesa.

As velas estão disponíveis do site da Cáritas Portuguesa, nas 20 cáritas diocesanas, paróquias, lojas ‘Pingo Doce’ e farmácias aderentes.

Empresas de norte a sul do país também se associaram, promovendo esta campanha entre colaboradores e clientes.

Esta campanha é lançada já este domingo pela Cáritas nacional, associando-se ao Dia Mundial dos Pobres, neste ano dedicado à oração, que nos prepara para o Jubileu Ordinário de 2025: «A oração do pobre eleva-se até Deus» (cf. Sir 21, 5). Esta expressão, que nos chega do antigo autor sagrado Ben Sira, torna-se imediata e facilmente compreensível neste contexto.

Na sua Mensagem, o Papa volta a recordar-nos que os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus, que está atento e próximo de cada um deles. Deus ouve a oração dos pobres e, perante o sofrimento, fica «impaciente», até lhes fazer justiça. De facto, o livro de Bem Sira afirma que «o juízo de Deus será em favor dos pobres» (cf. 21,5).

O próximo Dia Mundial dos Pobres terá lugar a 17 de novembro de 2024, e o Santo Padre presidirá, como habitualmente, à celebração eucarística na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Seguir-se-á o tradicional almoço, com alguns dos pobres, na Aula Paulo VI, organizado, como no ano passado, pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, enquanto o Dicastério para a Evangelização irá atender às necessidades dos mais necessitados, com várias iniciativas de caridade. Na semana que precede a Jornada, todas as comunidades paroquiais e diocesanas serão chamadas a centrar as suas atividades pastorais nas necessidades dos pobres dos seus bairros através de sinais concretos.

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