História do santuário do Bom Jesus Milagroso é atravessada pela fé dos peregrinos e por fenómenos universais, diz cónego Hélder Fonseca Mendes

Decreto da elevação da Igreja Paroquial de São Mateus do Pico a Santuário Diocesano foi assinado há 60 anos, por D. Manuel Afonso de Carvalho

O santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso, em São Mateus, na ilha do Pico foi criado há 60 anos e esta tarde, para assinalar a data o Administrador Diocesano, que presidiu à Eucaristia votiva lembrou as marcas desta Igreja particular, que “alimenta a fé” de “leigos, consagrados, padres e bispos”.

“Enquanto memória da nossa origem, o santuário recorda a iniciativa de Deus e faz com que o peregrino a acolha com o sentido da admiração, da gratidão e do empenho” disse o cónego Hélder Fonseca Mendes, ao sublinhar as dimensões “do lugar” e “da profecia”.

“Enquanto lugar da Presença divina, ele testemunha a fidelidade de Deus e a Sua acção incessante no meio do Seu povo. Enquanto profecia recorda que nem tudo foi realizado(…)e faz descobrir Cristo como Templo novo da humanidade reconciliada com Deus”, afirmou ao destacar a ajuda dada neste lugar, “no apoio aos açorianos que emigravam então em grande número na década de 60 e 70 do século passado, no apoio às comunidades dos Estados Unidos da América e do Canadá, enquanto se vivia as consequências da infeliz guerra do ultramar português que tanto sofrimento, fome, pobreza e morte trouxeram às nossas populações e ainda o movimento de retornados de Angola e de outros países, dos imigrados e dos quiseram ou foram obrigados a regressar”.

“Estes 60 anos do santuário do Senhor Bom Jesus cruzam-se com estes fenómenos migratórios, que tocam todo o globo. Por um lado dão-lhe universalidade, e por outro, deixam marcas que ainda se contam em primeira pessoa”, afirmou ao recordar “ os leigos, consagrados, padres e bispos, que nas fontes do Senhor Bom Jesus beberam a sua fé e viveram as alegrias e tristezas, lutas e esperanças próprias desses tempos na Europa, na América, na África e na Ásia”.

O sacerdote destacou a dimensão cristológica que marca as ilhas, desde o seu povoamento, nesta figuração iconográfica de Jesus no quadro da Sua paixão, como o Ecce Homo.

A propósito desta devoção, tão cara aos “picoenses e a todos os açorianos, o sacerdote salientou que “nas tribulações da vida invocam o Bom Jesus Milagroso com fé e amor e, imediatamente, a graça do alto se derrama em seus corações”, citando o decreto de criação deste Santuário intimamente ligado ao Seminário de Angra.

“O Bom Jesus é a razão de haver bons pastores e o coração de onde eles nascem; o Seminário é o lugar onde os pastores se formam e crescem. Que esta ligação embrionária nunca se perca e continue a crescer nos jovens de hoje”, disse.

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O sacerdote, na homilia desta Missa, durante a qual foi lido o decreto do 36º bispo de Angra a elevar a igreja paroquial de São Mateus a Santuário Diocesano, lembrou rostos e fenómenos que pela sua contemporaneidade e proximidade ficam associados a esta data de elevação do Santuário.

“Como não invocar o Senhor Dom José da Costa Nunes que, precisamente nesse ano de 1962, é tornado o primeiro cardeal açoriano e o Senhor Dom Arquiminio Rodrigues da Costa, filho desta terra e Bispo de Macau, bem como os directores do Secretariado Diocesano das Migrações, nesses laboriosos anos, os padres picoenses José Maria das Neves e Manuel Faria da Costa e Silva” afirmou o Administrador Diocesano.

Aos nomes acrescentou também alguns acontecimentos que temporalmente foram contemporâneos desta data simbólica que hoje foi celebrada, como a “bênção da primeira pedra para a edificação do Seminário Colégio de Santo Cristo na ilha de São Miguel”, a “aprovação do primeiro Regulamento dos Romeiros” ou a criação da nova paróquia dedicada ao Senhor Santo Cristo, na ilha das Flores.

“O ano de 1962 fica na história dos Açores pelo facto do Santo Padre, o Papa João XXIII, ter proclamado solenemente o Beato João Baptista Machado padroeiro principal da Diocese de Angra e ter convocado nesse ano o concílio Vaticano II, o maior e mais decisivo acontecimento da Igreja nos últimos 60 anos, fazendo com que pela primeira e única vez a Diocese de Angra tivesse um padre conciliar”, acrescentou ainda sublinhando a participação de D. Manuel Afonso de Carvalho, entre 1962 e 1965, juntamente com mais seis bispos açorianos, nas sessões do Concílio.

“Terão sido poucas as dioceses no mundo que deram sete padres a um concílio desta dimensão”, enfatizou deixando uma referência aos reitores que marcaram a história e a vida do Santuário

“Naturalmente que se deve aos paroquianos e ao pároco de São Mateus do Pico à época, a proposta de elevação deste lugar a Santuário, o segundo nos Açores, sendo nomeado o seu primeiro reitor, o Padre Joaquim Vieira da Rosa, seguindo-se no ofício o Padre António Filipe Madruga, o Padre José Carlos Simplício e atualmente o Padre Marco Paulo Martinho, atual reitor, a quem saudamos e felicitamos por esta data jubilar e por o que ela significa na nossa história no último século”, afirmou.

O sacerdote deixou ainda uma palavra sobre a passagem dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude pelos Açores, incluindo por este Santuário que é a Igreja JMJ do Pico.

Haverá ainda uma outra celebração de ação de graças por este jubileu festivo, no próximo domingo, que será presidia pelo reitor e ouvidor eclesiástico da ilha montanha.

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Esta noite será feita a apresentação do livro “Ecce Homo- Num Arquipélago de Evangelização”, da autoria do padre Luís Leal.

Amanhã, sábado, realiza-se um colóquio, no auditório Municipal da Madalena do Pico, que abordará a temática desta devoção na vida e na religiosidade do povo açoriano, em especial dos açorianos do triângulo.

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Depois da sessão de abertura, às 9h30, decorrerá a primeira mesa que contará com as presenças de Manuel Goulart Serpa, que falará sobre “A manifestação religiosa no Templo e no Adro ao Bom Jesus”, António Carlos Maciel que apresentará “A devoção dos baleeiros de São Mateus ao Senhor Bom Jesus” e do padre Duarte Gonçalves Rosa que apresentará  o tema “Música em louvor do Bom Jesus: temporalidade e transcendência”.

Segue-se a segunda mesa do dia com Débora Goulart e “De perto e de longe – O Culto ao Bom Jesus Milagroso”, Manuel Francisco Costa Júnior com  “Festa do Bom Jesus Milagroso de São Mateus do Pico: Paisagens culturais – sociabilidade e convivialidade profanas” e o padre Hélio Nuno Soares com “Apontamentos para a história do Santuário do Senhor Bom Jesus”.

De tarde, o padre Dinis Silveira falará sobre “O culto do Ecce Homo em São Jorge” e a professora Rosa Goulart sobre “Scripta manent: o culto do Bom Jesus nos testemunhos escritos”. Marta Sofia Bretão apresentará o tema “Bom Jesus Milagroso: estudar para conhecer, conservar para preservar, restaurar para adorar”.

A quarta mesa do dia terá a intervenção do padre Luís Leal: “O Ecce Homo, um arquipélago Pastoral” e o colóquio encerra com a intervenção de Susana Goulart Costa, docente da Universidade dos Açores, que falará sobre “D. Manuel Afonso de Carvalho: entre os Açores e o Vaticano”.

Este colóquio é organizado pela Ouvidoria do Pico, com a colaboração de Susana Goulart Costa e do padre Hélio Soares, ambos docentes na Universidade dos Açores e conta com vários apoios da academia e da sociedade civil.

O santuário do Senhor Bom Jesus do Pico foi criado por decreto Episcopal de D. Manuel Afonso Carvalho de 1 de julho de 1962.

As festas do Senhor Bom Jesus Milagroso são uma das “mais emblemáticas manifestações religiosas” desta Igreja local e do Arquipélago dos Açores.

A festa remonta a 1862, quando o emigrante Francisco Ferreira Goulart trouxe do Brasil uma imagem do Senhor Bom Jesus,  que desencadeou logo uma invulgar atracção e “uma forte piedade que contagiava as almas”.

“Este templo converteu-se logo num pólo para onde convergia e donde irradiava uma religiosidade popular sem paralelo não só na ilha como nas circunvizinhanças e que viria a determinar a sua elevação à categoria de Santuário Diocesano. Diz-se e escreve-se: o Bom Jesus do Pico. Mas há também, a partir daquela manifestação do sobrenatural, um Pico do Bom Jesus. Um Pico novo e diverso para tantos da sua gente e numa linha de valores humanos, cristãos e eclesiais os mais altos. É da história, duma história ainda não conhecida e divulgada o quanto seria para desejar” refere a página on -line do Santuário.

A construção da Igreja  iniciou-se em 1838 e apresenta-se como uma das mais ricas e majestosas da Ilha, com retábulos de talha pintados a azul e ouro. Em 1962 foi elevado à categoria de Santuário Diocesano. Foi recuperada depois dos sismos de 1973 e 1998.

A imagem do Bom Jesus é a figuração iconográfica do Senhor no quadro da sua Paixão em que foi exposto à população na varanda de Pilatos, pelo próprio procurador romano.

A Festa do Senhor Bom Jesus decorre entre 27 de julho e 7 de agosto, tendo como pontos altos sempre os dias 5 e 6 de agosto, quando se celebram as missas e procissão solenes.

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