Imprensa de inspiração cristã deve rejeitar agenda «devocional» e apostar no «jornalismo social»

Cónego João Aguiar Campos no IX Congresso da AIC

O cónego João Aguiar Campos afirmou hoje que a identidade da imprensa de inspiração cristã não corresponde a uma “bandeira beata”, tem de rejeitar uma agenda “devocional” e “apostar no jornalismo social”

“Não podemos continuar fechados na agenda política, desportiva ou mesmo devocional; não podemos assistir, impávidos e acríticos, a longas filas para um casting televisivo, enquanto estão desertas as cadeiras onde podem sentar-se os dadores de sangue”, disse o presidente da Assembleia Geral da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC).

Na conferência de encerramento do IX Congresso da AIC, o cónego João Aguiar Campos defendeu uma “maior apetência pelo jornalismo social que dê visibilidade à exclusão, às desigualdades, à pobreza e a quantos – por exemplo mediante o voluntariado – lhes dão aceso combate”.

Para o também presidente do Conselho de Gerência e diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais a identidade da imprensa de inspiração cristã não se traduz numa “bandeira beata” ou “um guichet cómodo” para distribuir “senhas para um naco de paraíso a uma fila de fregueses”.

“Os nossos conteúdos não são, ao menos na generalidade dos títulos, conteúdos essencialmente “religiosos”. Mas na sua normalidade ‘profana’ não podem deixar de traduzir uma presença missionária, que obriga a privilegiar todos os acontecimentos em que se joga a sorte do homem: noticiando-os e ajudando a compreendê-los”, afirmou o cónego João Aguiar Campos.

 

Para os títulos da inspiração cristã têm de “servir a opinião pública com critério cristão” e “estar na linha da frente da promoção humana, social e cultural da sociedade em geral”.

“Afirmar-se pelo rigor e pela qualidade profissional; não invocar uma neutralidade cobarde quando esteja em causa a defesa da vida e dos mais frágeis; não sucumbir ao respeito humano que esconda a vida da Igreja e a sua doutrina – pois que também a informação eclesial e religiosa deve chegar a todos, com sobriedade e equilíbrio” são, para o cónego João Aguiar Campos, desafios dos membros da AIC.

O sacerdote da arquidiocese de Braga sustenta que “há diferença entre informar e evangelizar” e não se podem “confundir os planos” que transformem a vocação e identidade dos títulos da AIC num “expansionismo beligerante”.

João Aguiar Campos afirmou que o meios de inspiração cristã têm de  “ler a realidade” sem a “regulamentar”, abandonar a “idolatria do próprio umbigo, “ser voz dos sem voz” e desenvolver um “jornalismo de proximidade.

“Acatemos esta necessidade: precisamos de abrir olhos, ouvidos e coração. Precisamos de abrir, porventura, centros de escuta (cartas ao diretor, por exemplo), em vez de cultivarmos a pressa de dizer ou de nos dizermos”.

No final do dia de ontem Pedro Lomba, secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, afirmou que os órgãos de comunicação da Associação não vão ser discriminados no novo regime de incentivos.

 

“Podem esperar abertura, não discriminação e uma atitude de valorização das publicações da imprensa de inspiração cristã ou outra que se assuma como publicação de qualidade, geradora de conteúdos e de informação, representativa de comunidades, de sensibilidades plurais”, afirmou o secretário de Estado em declarações à Agência ECCLESIA.

Pedro Lomba apresentou no Congresso da AIC o novo diploma legal de regime de incentivos para os media que, depois de concluídas as audições legais, vai ser agendado para debate a aprovação em Conselho de Ministros.

O secretário de Estado garantiu aos representantes da imprensa regional de inspiração cristã “valorização das publicações” do setor.

Pedro Lombra referiu que, ao contrário do diploma legal em vigor, a nova proposta inclui as publicações informativas “de inspiração de matriz cristã” entre as que podem “ser consideradas no âmbito do novo regime de incentivos”.

Para o secretário de Estado, “uma das formas de valorizar a imprensa em geral e a imprensa regional em particular passa por promover a criação de novos leitores”, “mais do que dar fundos às empresas”.

O novo regime de incentivos prevê o apoio a “instituições que possam gerar novos leitores para as publicações nacionais, locais ou em suportes digitais”, nomeadamente no meio escolar, exemplificou.

OIX Congresso da Associação, que decorreu entre os dias 23 e 25 de outubro, em S. Bento da Porta Aberta, terminou esta manhã.

Ecclesia

 

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