Investigadora da UAC destaca papel pioneiro de Bispo açoriano na diocese do Funchal

D. Luís de Figueiredo Lemos (1585-1608) era natural de Santa Maria e foi o 7º Bispo do Funchal

A investigadora da Universidade dos Açores (UAC), Susana Goulart Costa, elogiou a ação do 7º Bispo do Funchal, D. Luís Figueiredo de Lemos, açoriano de nascimentos, “ que foi muito importante” na aplicação do Concilio de Trento na Madeira, ao longo dos seus 22 anos de episcopado.

Natural da ilha de Santa Maria, onde nasceu a 21 de Agosto de 1544 e aprendeu as primeiras letras, D. Luís de Figueiredo Lemos, estudou gramática com um mestre castelhano, prosseguiu os estudos em Lisboa no Colégio Jesuíta de Santo Antão, desenvolvendo competências na retórica e em grego e, terminou os estudos em Coimbra, onde se graduou em Cânones e Leis.

A partir de então, optou pela carreira eclesiástica, adquirindo o grau de presbítero nos Açores, com ordens sacras concedidas pelo bispo de Angra, D. Gaspar de Faria, tendo ficado responsável não só pela paróquia de S. Pedro de Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, mas também por toda a ouvidoria eclesiástica desta ilha.

Após a morte de D. Gaspar de Faria, D. Luís voltou a Lisboa, onde o rei, D. Sebastião, procurou convencê-lo a aceitar o lugar de inquisidor para a Índia, o que não aceitou, regressando a S. Miguel.

Com a nomeação de um novo Bispo de Angra, D. Pedro de Castilho, D. Luís de Figueiredo Lemos passou para a ilha Terceira,  para assumir as funções de deão da sé de Angra e as de visitador de todo o bispado.

Partidário da causa castelhana quando estala o problema da sucessão dinástica de D. Sebastião, fica, sob confiança do bispo D. Pedro de Castilho que regressará ao reino, como governador do bispado, posição em que se manteve até à submissão da ilha Terceira a Filipe I.

O seu apoio a D. Filipe I de Portugal e a sua amizade com D. Pedro de Castilho fizeram com que fosse nomeado para assumir o cargo de Bispo do Funchal, logo em 1585, tendo negociado com o rei e, com sucesso, o aumento das suas côngruas episcopais.

No âmbito de uma sessão plenária onde se debateu “Os tempos da Igreja e os Tempos da Sociedade”, integrada no congresso internacional comemorativo dos 500 anos da Diocese do Funchal, a docente do departamento de História e Ciências Sociais da UAC destacou a personalidade deste mariense no período pós concílio.

“Ao longo dos vinte e dois anos como prelado, D. Luís levou a cabo o projeto de aplicar o Concílio de Trento na Madeira. Entre algumas medidas, realce-se o problema da residência do clero, que tinha que ser permanente e a transferência do jovem Seminário do Funchal, que também ainda não dispunha de acomodações próprias, para junto da sua própria habitação, tendo essas obras sido iniciadas em 1599, para lá de todo o esforço em relação à formação do clero e à doutrinação dos fiéis”, frisou a investigadora.

Durante a conferência sobre o período tridentino nesta diocese atlântica, Susana Goulart Costa deteve-se, entre muitos outros aspetos, na apresentação biográfica deste açoriano que foi responsável pela modernização das Constituições do Bispado do Funchal, tendo elaborado as “normas extravagantes”, que foram publicadas em  1601, para lá de vários regimentos, como o dos Auditórios do Funchal, que tem data de 4 de Novembro de 1586.

Segundo a docente e investigadora, D. Luís de Figueiredo Lemos,” para além de vários vetores em que protagonizou uma atitude inovadora no bispado do Funchal, foi também o primeiro prelado a acabar os seus dias na diocese que tutelou”, onde faleceu a 26 de Novembro de 1608.

Inicialmente sepultado na capela do “seu” paço episcopal, acabou por ser trasladado em 1903, por decisão do então bispo do Funchal, D. Manuel Agostinho Barreto, para a sé do Funchal, depois do espaço inicial ter sido profundamente profanado.

É ali que, ainda hoje, se encontram os seus restos mortais depositados dentro do guarda-vento, e cobertos por uma lápide que diz “Aqui jaz Dom Luís de Figueiredo Lemos, Bispo que foi do Funchal. Faleceu a XXVI de Novembro de MDCVIII”.

D. Luís chega à Madeira a 4 de Agosto de 1586, tendo sido recebido de forma festiva. O seu episcopado estendeu-se por 22 anos.

Além de Susana Goulart Costa, também Margarida Lalanda, investigadora e docente do departamento de História e Ciências Sociais da UAC, apresentará amanhã uma conferência sobre “As Clarissas nas Dioceses do Funchal e de Angra, nos séculos XVI e XVII”.

O congresso internacional ‘Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global – História, Cultura e Espiritualidades’ decorre até este domingo, no auditório do Casino da Madeira, e encerra as comemorações dos 500 anos da Diocese do Funchal.

 

Scroll to Top